Os três erros da ciência

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Newton (esq.) e Laplace (dir.)

“Graças a três erros – A ciência foi promovida nos últimos séculos, em parte porque com ela e mediante ela se esperava compreender melhor a bondade e a sabedoria divina – o motivo principal na alma dos grandes ingleses (como Newton) -, em parte porque se acreditava na absoluta utilidade do conhecimento, sobretudo na íntima ligação de moral, saber e felicidade – o motivo principal na alma dos grandes franceses (como Voltaire) -, em parte porque na ciência pensava-se ter e amar algo desinteressado, inócuo, bastante a si mesmo, verdadeiramente inocente, no qual os impulsos maus dos homens não teriam participação – o motivo principal na alma de Espinosa, que, como homem do conhecimento, sentia-se divino:- graças a três erros, portanto.”

– F. Nietzsche, A Gaia Ciência

Trocando em miúdos (mesmo que tenha ficado bem claro e direto, mas repito para confirmar se eu mesmo entendi direito):
Na época de Newton, esperava-se com a ciência desvendar o ‘pensamento de Deus’; já na época de Voltaire esperava-se da ciência uma base sólida para pautar melhor a moral e a felicidade; e na de Espinosa a ciência poderia achar algo puro, intocado pelo homem.
Do “erro de Newton” queria falar algo que me veio à mente. Seu quase contemporâneo, Laplace, que foi também um grande gênio, não se preocupava muito com o pensamento de Deus não. Veja esta historinha fantástica de Laplace (via Wikipedia):

Laplace foi ao estado para implorar para Napoleão aceitar uma cópia de seu trabalho, que havia escutado que o livro não continha menção a Deus; Napoleão, que era fã de propor perguntas desconcertantes, recebeu-o com o comentário, “M. Laplace, me disseram que você escreveu este grande livro sobre o sistema do universo e jamais sequer mencionou seu Criador.”
Laplace levantou-se e respondeu rispidamente, “Eu não precisei fazer tal suposição”.
Napoleão, que apreciou a resposta, a contou a Lagrange, que exclamou, “Ah! essa é uma bela suposição; ela explica muitas coisas”, ao que Laplace então declarou: “Esta hipótese, Majestade, realmente explica tudo, mas não permite predizer nada. Como um estudioso, eu devo fornecer a você trabalhos que permitam predições”. Laplace, então, definiu a ciência como uma ferramenta de predição.

Adoro essa resposta.