AS PLANTAS SE COMUNICAM? 

por | jun 20, 2024 | Textos | 0 Comentários

Você já se perguntou se as plantas conseguem se comunicar entre si, como os animais fazem? 

    Será que as plantas realmente ‘falam’? E se sim, o que elas têm a dizer umas às outras? Por que isso é importante para nós? Há mais de quatro décadas, cientistas têm investigado a intrigante possibilidade de que as plantas possam se comunicar. Através de sinais químicos, elétricos e até mesmo acústicos, as plantas parecem compartilhar informações vitais sobre seu ambiente. Neste texto, exploraremos as descobertas fascinantes sobre a comunicação vegetal, como e por que as plantas se comunicam, e a relevância desse comportamento para a ecologia e a agricultura. 

Sarah Vitória e Gildo Girotto Júnior 

    O tema da comunicação entre plantas é bastante polêmico no meio acadêmico e, até recentemente, não havia um consenso claro sobre sua existência. No entanto, estudos científicos recentes têm demonstrado que, sim, as plantas conseguem se comunicar.  Historicamente, as plantas eram vistas como seres incapazes de movimento e sensação. Essa visão permaneceu até ser questionada por Charles Darwin em 1880, em seu livro “O Poder do Movimento nas Plantas”. Assim, o naturalista britânico foi pioneiro ao sugerir que as extremidades das raízes vegetais “agem como o cérebro de animais inferiores”, o que despertou o interesse dos pesquisadores e incentivou diversos estudos sobre o tema.6

Esta resposta é satisfatória para uma das nossas perguntas. Que tal obtermos mais informações? 

    Pesquisas atuais sobre a comunicação das plantas têm revelado que elas possuem capacidades surpreendentes de interação com o ambiente. Estudos mostram que elas podem evitar predadores, lutar por território, experimentar estresse, buscar nutrientes, adaptar-se ao ambiente e até mesmo criar armadilhas para capturar presas. 5

    Uma pesquisa significativa conduzida por Lilach Hadany e sua equipe na Universidade de Tel Aviv publicada, 2023, demonstrou que plantas emitem sons ultrassônicos quando estão sob estresse, como por exemplo, desidratação ou cortes. Esses sons podem ter implicações ecológicas e evolutivas significativas, sugerindo que outros organismos, como insetos e outras vegetações, possam ouvir e responder a esses sinais. 2

    Outra importante pesquisadora neste campo é Suzanne Simard, conhecida por seu trabalho com as redes de micorrizas que conectam as raízes das árvores, permitindo a troca de nutrientes e sinais químicos entre elas. Simard argumenta que essas interações complexas são essenciais para a saúde das florestas e a resiliência ecológica. 7

Como elas fazem isso?  

    Você conhece o aroma característico de grama cortada?? Esse odor é um composto orgânico volátil, sendo um exemplo clássico de uma das maneiras pelas quais as plantas se comunicam. Esses compostos químicos são liberados após a vegetação sofrer algum dano, servindo de alerta para outras plantas sobre a presença de herbívoros potencialmente perigosos, além de ser uma fragrância com potencial para afastar predadores. Essa informação é recebida pelas folhas, sinalizando o perigo e permitindo que as plantas se tornem mais resistentes às pragas.5

    Além de defenderem as plantas contra herbívoros, essas substâncias orgânicas voláteis têm outras finalidades, por exemplo, elas podem indicar para polinizadores quando uma flor está pronta para ser polinizada. Outra forma em que esses odores são usados é para atrair animais que irão comer as frutas, e assim dispersar as sementes. 5 

    As plantas também têm a capacidade de identificar vegetações parentes e não parentes por meio desses elementos, dessa forma mudando seu comportamento de acordo com essas informações. Elas conseguem detectar sua prole, assim auxiliando seu crescimento em vez de competir por recursos. 5

   Todas essas informações são apenas uma parte do vasto estudo sobre o comportamento das plantas. A comunicação química, por exemplo, demonstra uma série de funções que a vegetação pode desempenhar para sobreviver. É impressionante pensar que, historicamente, elas eram vistas como incapazes de movimento e sensação, não é mesmo? No entanto, existe muito mais a ser descoberto sobre essas fascinantes interações vegetais. Para aqueles que desejam se aprofundar, as referências estão logo abaixo. 

 REFERÊNCIAS

4BALDWIN, Ian T; SCHULTZ, Jack C. Rapid Changes in Tree Leaf Chemistry Induced by Damage: Evidence for Communication Between Plants. Science. Vol 221, edição 4607 págs . 277-279. 15 de jul. de 1983 Disponível em < https://www.science.org/doi/10.1126/science.221.4607.277>. Acesso em: 20 de jun. de 2024.  

6DARWIN, Charles. The Power of Movement in Plants. London: John Murray. 1880. Disponível em <https://darwin-online.org.uk/converted/pdf/1880_Movement_F1326.pdf >. Acesso em: 20 de jun. de 2024. 

2HADANY et al. Sounds emitted by plants under stress are airborne and informative. Cell. Vol 186, edição 7, págs. 1328-1336.e10. 30 de mar. de 2023 Disponível em < https://www.cell.com/cell/fulltext/S0092-8674(23)00262-3#secsectitle0020>. Acesso em: 20 de jun. de 2024.  

5KARBAN, Richard. Plant Communication. Annual Reviews. Vol. 52:1-24. 10 de Ago. de 2021. Disponível em <https://www.annualreviews.org/content/journals/10.1146/annurev-ecolsys-010421-020045#right-ref-B142> Acesso em: 20 de jun. De 2024. 

3O’TOOLE, Thomas. 2 Scientists Say Trees Warn Each Other When Bugs Bite. The Washington Post. 5 de jun, de 1983. Disponível em <https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1983/06/06/2-scientists-say-trees-warn-each-other-when-bugs-bite/561ab5a9-25d5-4687-9512-efe985235b00/>. Acesso em: 20 de jun. De 2024.  

7SIMARD, S.W. et al. Mycorrhizal networks: Mechanisms, ecology and modelling. Elsevier. 30 de mar. De 2012. Disponível em < https://www.zoology.ubc.ca/bdg/pdfs_bdg/2015%20Spring/Simard%20et%20al.%202012.pdf> Acesso em: 20 de jun. De 2024. 

1TOYOTA et al. Glutamate triggers long-distance, calcium-based plant defense signaling. Science,. Vol 361, edição 6407, págs. 1112 – 1115. 14 de set. de 2018.Disponível em < https://www.science.org/doi/10.1126/science.aat7744>. Acesso em: 20 de jun. de 2024. 

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