Por Laura Cristina
A erosão costeira é um problema que já afeta as cidades litorâneas brasileiras, muitas das quais de forma severa. O estado mais populoso do país monitora a situação da costa paulista desde 2002 e aponta que a Baixada Santista e o Litoral Sul, da cidade de Peruíbe até a Ilha do Cardoso, são as regiões de maior preocupação.
A degradação da faixa litorânea, que pode ser um fenômeno natural, está sendo acelerada por uma combinação de fatores causados por humanos. O Governo do Estado de São Paulo aponta no Mapa de Risco à Erosão Costeira no Litoral Paulista que as construções como portos e prédios à beira-mar, especialmente na Baixada Santista, mudaram completamente o jeito que a areia se move na praia, resultando na perda desse sedimento.
“A erosão no litoral paulista é muito preocupante, sobretudo em Ilha Comprida, onde a cidade vai sendo engolida em uma média de dez anos, e toda a população se retira, perde sua história”, afirma Regina Célia de Oliveira, docente e pesquisadora do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O aumento do nível do mar e o maior número de ressacas oceânicas são outros fatores que pioram o que já está ruim. Segundo dados do Estado Global do Clima 2023, desde 2023 o nível das águas oceânicas aumentou cerca de 4,8 mm ao ano, nível que praticamente dobrou desde 1993. Outra causa da erosão é a remoção de vegetação nativa e sua substituição por solo com concreto, que retira a proteção natural da costa e piora a situação, deixando praias mais vulneráveis.
O que pode ser feito?
As soluções atuais são pouco preventivas, como paredões de concreto para absorver a energia das ondas; a construção de espigões e dunas artificiais, e a reposição de sedimentos, faltando um plano de longo prazo, por exemplo a restauração de manguezais, uma vez que a vegetação nativa ajuda a fixar o solo, além de reforço e estabilização das dunas e controle de urbanização em regiões costeiras.
Uma solução temporária é o conhecido “engordamento artificial”, que é a adição de areia onde há falta, a exemplo do que foi feito na praia de Camburiú (SC). A urbanização descontrolada avança sobre áreas que funcionam como “amortecedores naturais”, como restingas, dunas, praias e planícies costeiras. Na Ilha de Cananéia, por exemplo, casas e ruas já estão sendo destruídas pela força do mar.

A falta de planejamento urbano e união entre os municípios só dificultam as coisas. Para resolver isso, é preciso uma visão mais ampla que considere contribuições de várias áreas do conhecimento envolvendo a geografia, estudos de uso, ocupação e movimentos oceânicos, os impactos ambientais, além da compreensão sobre processos de urbanização e do plano diretor de cada região. A gestão eficaz da zona costeira passa por reconhecer os limites ecológicos do litoral e adotar medidas preventivas e adaptativas frente às mudanças climáticas e ambientais, garantindo a conservação dos ecossistemas costeiros e a resiliência das comunidades que ali habitam.
Leia mais:
Atualização do Mapa de Risco de Erosão Costeira Crônica e Inundação Costeira na Orla Oceânica no Estado de São Paulo. Governo do Estado de São Paulo, 9 de abril de 2025.
Obras de proteção costeira nem sempre evitam a erosão marinha. Carlos Fioravanti, Pesquisa Fapesp, 3 de maio de 2024.
Avanço do mar e erosão costeira no litoral de São Paulo já afetam a orla de Praia Grande e há risco alto de mais impacto. A Tribuna, 26 de maio de 2025.
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