Por Laura Cristina e Denis Camico
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), sediada de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém (PA), transformou a capital paraense no coração do debate climático mundial. Entre negociações diplomáticas e experiências locais, a primeira semana do evento define o tom da conferência e mostra que o futuro climático da Terra passa tanto pelas florestas quanto pelos oceanos.
A agenda da primeira semana (10 a 15 de novembro) é a fase em que o campo e a política se encontram, estabelecendo as bases para as decisões de alto nível que dominarão a semana seguinte. Estruturada em torno dos eixos da Agenda de Ação da COP30, essa etapa concilia desenvolvimento humano e sustentabilidade com temas como bioeconomia, adaptação climática, energia e justiça social.
O Brasil vem impulsionando a bioeconomia e a economia circular como modelos de desenvolvimento sustentável, buscando atrair investimentos de grande escala em infraestrutura resiliente e soluções baseadas na natureza. O tom é de urgência, com países em desenvolvimento pressionando os mais ricos por um aumento significativo no financiamento climático.
Saúde, justiça e direitos humanos: o lado humano da crise
Nos primeiros dias, o foco recai sobre a dimensão humana das mudanças climáticas. Sindicatos e organizações civis estão exigindo mecanismos de transição justa, capazes de garantir que a mudança para uma economia verde não amplie desigualdades. Ganha força também o debate sobre equidade de gênero e os direitos dos povos indígenas e ribeirinhos, temas que devem ser centrais em uma COP sediada na Amazônia.
Energia, finanças e indústria: o clímax da primeira semana
Nos dias seguintes, as negociações se concentram na transformação dos sistemas energéticos, industriais e financeiros, com o objetivo de triplicar as energias renováveis e traçar um roteiro para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.Se houver consenso nesses pontos, a segunda semana da conferência poderá se concentrar em ajustes e compromissos concretos. Caso contrário, o encontro poderá se transformar em um acerto de contas diplomático, com risco de Belém entregar um acordo frágil.
Energia, finanças e indústria: o clímax da primeira semana
Nos dias seguintes, as negociações se concentram na transformação dos sistemas energéticos, industriais e financeiros, com o objetivo de triplicar as energias renováveis e traçar um roteiro para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.Se houver consenso nesses pontos, a segunda semana da conferência poderá se concentrar em ajustes e compromissos concretos. Caso contrário, o encontro poderá se transformar em um acerto de contas diplomático, com risco de Belém entregar um acordo frágil.
O oceano entra em cena
Enquanto as negociações avançam, o oceano ganha destaque nas discussões da COP30. Tanto na Zona Azul, onde ocorrem as tratativas oficiais entre governos, quanto na Zona Verde, aberta ao público, o debate sobre os mares, a pesca sustentável e os alimentos azuis (peixes, mariscos e algas), ganha força como parte das soluções para a crise climática. O Brasil, por sua vez, têm integrado o oceano à agenda climática global, destacando a chamada Amazônia Azul, o vasto território marítimo sob jurisdição brasileira, como peça-chave para a mitigação e adaptação climática.
A importância dessa pauta foi reforçada por especialistas ouvidos pelo blog Um Oceano, que destacam o papel essencial dos mares. “Desde a Eco 92 as regras e compromissos têm se desenvolvido no contexto da floresta. Existe uma pressão para que o oceano ocupe um lugar, porque ele é crucial. Ele é tão ou mais importante que as florestas para o contexto de estoque de carbono, para que, de fato, as mudanças climáticas sejam freadas”, afirma Luiza Prestes, engenheira de pesca e professora da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (CE), em entrevista ao Ressoa.
Debates e eventos: o oceano como solução climática
Na Zona Azul, o oceano aparece como eixo estratégico das políticas de mitigação e adaptação climática. Entre os destaques da programação estão os painéis:
- “Aquatic Foods for Climate Action: Resilient Solutions from Small-Scale Fisheries and Aquaculture” (18 de novembro), sobre a contribuição das comunidades pesqueiras artesanais para a segurança alimentar;
- “Seaweed and Aquatic Foods – Blue Solutions for Climate Resilience” (19 de novembro), abordando o potencial das algas e da aquicultura sustentável;
- “Delivering on the COP30 Action Agenda and Global Stocktake through Aquatic Blue Foods” (20 de novembro), que discute como os alimentos aquáticos podem integrar o balanço global de ações climáticas.
Esses encontros reúnem representantes de governos, universidades e organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e a Aquatic Blue Food Coalition, em busca de políticas integradas entre oceano, alimentação e clima.
Na Zona Verde, aberta ao público, o oceano também é protagonista. O espaço reúne exposições, oficinas e rodas de conversa sobre bioeconomia azul, saberes tradicionais e inovação sustentável. Comunidades costeiras e povos tradicionais apresentam práticas que conciliam o uso sustentável dos recursos marinhos com a preservação ambiental. O MPA participa com uma agenda voltada à aquicultura sustentável e à pesca artesanal, enquanto startups e instituições de pesquisa mostram soluções tecnológicas baseadas em algas, energia marinha e biomateriais oceânicos.
Um novo olhar para o planeta azul
A COP30 consolida um novo entendimento global: o oceano não é apenas um cenário, mas um ator central na luta contra as mudanças climáticas. Em Belém, ciência, políticas públicas e saberes tradicionais se encontram e têm a chance de construir um diálogo inédito sobre o papel das águas na sobrevivência do planeta.
A primeira semana tem o papel de alinhar expectativas e escancarar a distância entre o necessário e o politicamente possível. Na segunda semana, as atenções se voltam para a gestão planetária de florestas e oceanos, reforçando o protagonismo da Amazônia, terrestre e azul, como coração das soluções climáticas globais.
A equipe do Ressoa Oceano estará em Belém, acompanhando de perto as pautas ligadas ao mar e cobrindo os desdobramentos das pautas oceânicas e amazônicas na COP30.
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