Todo mundo tem uma lembrança com a revistinha da Turma da Mônica, especialmente na infância. Lembro que, quando tinha entre 8 e 10 anos de idade, acompanhava minha avó em suas consultas ao dentista. Para me manter entretida nas cadeirinhas da recepção, buscava os gibis da Turma da Mônica em meio a mesa repleta de revistas, com destaque para “Caras” e “Cláudia” (de grande audiência nos consultórios). Anos se passaram e recentemente revisitei a HQ em uma edição especial e inédita intitulada “oceanos”, em um esforço de envolver e aproximar a sociedade da conservação do oceano.
Nesta nova revistinha, a Turma da Mônica contou com a parceria da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano e o Instituto Costa Brasilis, que foram os principais idealizadores da nova edição. De acordo com o coordenador da Cátedra, Alexander Turra, a ideia de fazer a história em quadrinho especial oceano nasceu de um movimento integrado entre a Cátedra Unesco e o Instituto Costa Brasilis no sentido de amplificar as ações de cultura oceânica e de promoção de cultura oceânica que já vinham sendo feitas pelas instituições a muito tempo.
“Entendeu-se que trabalhar junto com a turma da Mônica permitiria uma capilarização muito grande da temática do oceano e associá-la a um elemento que está no imaginário das pessoas, fazendo com que a gente pudesse dar a escala para a abordagem de cultura oceânica para envolver as pessoas na temática”, explica Turra. Segundo o pesquisador, a cultura oceânica, que é o tema usado no título da historinha, é o grande mote a ser promovido. O conteúdo da historinha ajuda as pessoas a compreenderem de forma robusta e abrangente o lugar do oceano nas nossas vidas e vice-versa.
A revistinha, que pode ser acessada gratuitamente em pdf no site da Unesco, apresenta um teor educativo e divertido, que tem como cerne um passeio de submarino no fundo do mar conduzida por Franjinha (o primeiro personagem criado por Maurício de Sousa, conhecido por gostar de ciências e experimentos). Ao navegar por essa história, tive um reencontro com outros personagens icônicos além de Franjinha, Mônica, Cebolinha, Cascão e uma nova personagem que ainda não conhecia, Milena, incluída nos gibis oficialmente em 2019 para compor a diversidade do universo infanto-juvenil.

Milena é uma menina conhecida por ser protetora dos animais e a primeira menina negra criada por Maurício de Sousa. Vale lembrar que o primeiro personagem negro da turma da Mônica foi o Jeremias, criado em 1960, inspirado no Rei do Futebol. Ainda que tenha ganhado destaque nessa edição especial, oceanos, a personagem Milena ainda não assumiu o protagonismo nessa edição, sendo dado maior destaque para Franjinha e Cascão.
O personagem Cascão foi importante para construção do roteiro em função de sua fama de não gostar de água. A graça da história e talvez o ponto alto dela seja perceber essa relação construída do Cascão com a água e como o oceano pode ajudar a transformá-la para melhor. “O oceano encanta, e isso fica claro na possibilidade de transformação do Cascão em relação ao seu medo de entrar no mar. O final da história nos provoca a pensar que essa tensão do Cascão de estar na água, pode mudar pelo que ele sentiu a partir do oceano”, destaca Turra.
A forma sensível de brincar com a relação entre Cascão e a água simboliza o que o movimento da cultura oceânica propõe: é preciso mudar a relação da sociedade com o oceano.
A presidente do Instituto Costa Brasilis, Márcia Denadai, que contribuiu para tirar as ideias do papel, firma com prazer a colaboração com a Cátedra na elaboração da história em quadrinhos. Segundo ela, a HQ levará conhecimento e admiração pelo oceano às crianças de todas as idades. De acordo com Turra, a história é destinada principalmente ao público infanto-juvenil, mas jovens de todas as idades se encantaram e tiveram momentos de saudosismo na infância e muitos adultos estavam ávidos para receber a revistinha.
Para quem cresceu com a turma da Mônica sabe que era comum ler historinhas com temas ligados à amizade, respeito à diversidade, educação ética, saúde, meio-ambiente, justiça e outros temas como racismo, etarismo, inclusão social, refugiados e migração. Ainda que todos os temas tenham atravessamentos políticos, o teor crítico e político é pouco explorado pela Mauricio de Sousa Produções (MSP Estúdios) se comparado a outros gibis como Mafalda e Calvin. Em relação ao tema oceano ele se abre como uma nova janela dentro dos temas ligados ao meio ambiente e sustentabilidade, que já tiveram destaque em outras edições da revistinha.

“A parceria firmada entre a Cátedra e Maurício de Sousa veio com o entendimento das particularidade das diferentes instituições, A primeira trazendo uma ideia e um movimento que precisava ser fortalecido, e a segunda com uma abordagem comercial direcionada ao licenciamento do uso dos personagens e da história da turma da Mônica em diferentes contextos”, explica Turra. De acordo com o professor, a concretização do gibi foi possível com a viabilização de recursos via Lei Rouanet e Ministério da Cultura com apoio da Repsol Sinopec Brasil. Posteriormente, veio a idealização do conteúdo que contou com o trabalho conjunto com roteirista e inúmeras revisões que foram feitas envolvendo diversos parceiros que contribuíram para que a história pudesse ser estruturada e amplamente disseminada, que é o que está sendo feito no momento, após o lançamento.
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Essa parceria liderada pela Cátedra e o Instituto Costa Brasilis inaugurou uma forma de relacionamento institucional importante que foi consolidado e que seguirá firme nos próximos anos. “A gente tem a sinalização de elaborar mais cinco histórias em quadrinhos até o final da Década, uma por ano. No modelo da Lei Rouanet, com apoio da Repsol Sinopec Brasil com a perspectiva de trabalhar alguns tipos de ambientes e aventuras da turma da Mônica para conhecer esses ambientes e ao fazer isso cativar as pessoas, e explicar um pouco mais do que estamos falando”.
As instituições estão em processo de elaboração das próximas edições, alguns temas que estão no radar são a Antártica, o mar profundo, a foz do rio Amazonas, as ilhas oceânicas e o quinto tema ainda está em análise, mas pode ser a Baía de Guanabara ou Abrolhos. Mas a equipe ainda está matutando como tudo isso vai acontecer. Segundo Alexander Turra, a ideia é ter esse tipo de abordagem com uma grande aventura de desvendar a chamada Amazônia Azul, o território oceânico e costeiro brasileiro, e ficar deslumbrado por ela.
“A ideia de trazer essa questão tão urgente à sociedade em uma aventura da Turma da Mônica foi muito rica e inspiradora. Esperamos que os quase 200 mil exemplares da primeira tiragem circulem amplamente por todo o território nacional, levando, por meio do discurso lúdico criado pela Maurício de Sousa Produções Estúdios, o interesse pela Década do Oceano, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Cultura Oceânica a esse público tão especial, que representa o futuro do nosso planeta”, destaca Márcia.
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