Escrever sobre ciência é sempre propor a mesma coisa? Não, mas isso é que torna a comunicação tão interessante.
Na linguagem, seja ela escrita, oral, ou visual, é essencial lembrar da interação no processo de comunicação. Comunicar um assunto, pressupõe uma interação com outra(s) pessoa(s).
Essa interação com o outro não é unidirecional, mesmo quando pensamos o texto acadêmico, aquele presente nos artigos científicos. Nele, a nossa conversa é feita com os pesquisadores (autores) que nos antecederam e os que no futuro irão ler, citar, concordar ou discordar com os resultados de nossa pesquisa.
Apesar de assíncrona – não acontece em tempo real, ou no mesmo local – sim, há uma troca/conversa entre pesquisadores em um artigo. Nele, a escolha das palavras é baseada nas que são comuns em um determinado campo, ou seja, comum aos nossos pares da academia. O uso de termos específicos, os jargões científicos, são usuais.
Todos os cientistas/pesquisadores usam os mesmos termos? Você provavelmente irá lembrar que há termos que são específicos ou usados com mais frequência em um determinado campo científico e acaba não sendo familiar para um pesquisador de uma outra área ou campo. Uma campo científico tem um vocabulário, linguagem e discurso próprios. Dessa forma, nem todos os pesqusiadores usam os mesmo termos.
Agora pensemos no discurso do dia-a-dia, como eles mudam de acordo com os tipos de interação nas diferentes esferas das quais fazemos parte, como por exemplo, a familiar, a de trabalho, as da comunidade em que moramos. Em cada uma delas, a forma como nos comunicamos é diferente.
Há, portanto, diferentes formas de se construir um tipo de discurso, com conteúdo, estilo e formas de construção. Existem diferentes gêneros de discurso.
Então a forma como comunicamos sobre ciência, ou preparamos nosso conteúdo sobre ciência, muda conforme o contexto, do qual o nosso público faz parte.
Por esse motivo, quando procuramos fazer divulgação científica, a primeira coisa que devemos pensar é Quem é o meu público alvo? Alguns vão dizer que o público alvo é o público em geral, mas será que ele existe?
O mito do público em geral
Quando pensamos em um conteúdo, devemos refletir sobre para quem estamos escrevendo ou preparando o material, lembrando que além de escrito, o material pode ser audiovisual.
Pode-se pensar que o material que se está preparando é para o público em geral, em contraponto aos que são especialistas no assunto, mas será que isso é uma boa ideia?
Vamos pensar a população brasileira. Os últimos dados do IBGE mostram que somos mais de 211 milhões de brasileiros distribuídos pelas 27 unidades federativas com a seguinte Piramide Etária:
https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao//
Além de mostrar que há uma diminuição da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida – a base da pirâmide vem diminuindo, enquanto a porção superior vem se alargando – ela mostra a faixa de intervalo de idade dos brasileiros.
Não é possível pensar na população brasileira com uma única identidade, mas com as diversas características socioeconômicas e culturais. Essa população heterogênea nos dá a ideia sobre os públicos. Não há um público único e homogêneo. É preciso passar da ideia de público geral para o público com o qual se quer interagir.
Pensando no público para seu conteúdo1.
Antes de começar a produção do seu conteúdo, o planejamento é essencial. Para isso, comece a rascunhar o perfil do seu público. Pensar na idade, escolaridade e gênero é um bom início, mas outra opção mais detalhada é a criação de uma personagem (uma Persona), aquela ideal que você quer alcançar com o seu conteúdo e interagir.
Essa estratégia de comunicação que vem sendo aplicada no planejamento de marketing e publicidade, mas pode ajudar no seu plano de divulgação científica.
- Persona (personagem):
- Idade:
- Gênero:
- Profissão:
- Escolaridade:
- Perfil socioeconômico:
- Costumes:
- Um pouco sobre a rotina:
- Onde, como e quando a persona consome informação?
A partir daí é possível se pensar na linguagem, formato de conteúdo, mídia usada e forma de divulgação (impresso, site, redes sociais).
Notas:
1Esse exercício foi inspirado no curso de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp, a Integração (ao Blogs Unicamp), voltado para a divulgação científica e que acontece semestralmente. No curso, além da teoria sobre comunicação, há prática de escrita e de formas de divulgação de conteúdo nas redes sociais.
Dicas:
O Blogando e Aprendendo da Carol Frandsen traz dicas sobre como construir seu blog, publicar posts.
O Mindflow da Erica Mariosa fala sobre a divulgação científica e seus processos.
Referências
Mikhail Bakhtin (2016). Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34.
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