O que são Comunidades de Prática Online e sua importância para a educação

Publicado por Gabi Victorelli em

A ideia de aprendizado cria a imagem de uma relação entre aluno e mestre. Entretanto, estudos de aprendizagem revelam um conjunto mais complexo de relações sociais por meio do qual a aprendizagem ocorre: vai além de adquirir conhecimento. A Comunidade de Prática (CP, por exemplo) atua como um currículo vivo para o aprendiz (Li et al., 2009; Ranmuthugala et al., 2011; Barnett et al., 2012; Wenger e Trayner, 2015).

As CPs são grupos de pessoas que compartilham uma preocupação mutuamente reconhecida por problemas reais, tópicos relevantes ou uma paixão e fazem e/ou aprendem a fazer melhor a partir da interação regular entre os membros (Braithwaite et al., 2009; Ranmuthugala et al., 2011; Barnett et al., 2012; Wenger e Trayner, 2015; Pyrko et al., 2017).

Pensar conjuntamente permite desenvolver e sustentar uma prática social revigorante ao longo do tempo (Pyrko et al., 2017) e fornece uma perspectiva útil sobre o conhecimento e a aprendizagem, que pode ser, intencionalmente ou não, a razão pela qual a comunidade se reúne ou o resultado acidental das interações dos membros (Wenger e Trayner,2015).

Independente da finalidade de uma CP é indispensável a presença de três características: domínio, comunidade e prática.

  • Domínio →  refere-se à identidade definida pelo interesse comum compartilhado, distinguindo os membros de outras pessoas e os limites delineados que permitem aos mesmos decidir o que vale a pena compartilhar e como apresentar suas ideias.
  • Comunidade →  remete à estrutura social que oportuniza o envolvimento dos membros por meio de atividades e discussões conjuntas, e facilita a aprendizagem por meio de interações e relações com os outros.
  • Prática →  os membros de uma CP são praticantes, pois compartilham experiências, histórias, ideias, informações, documentos, materiais, técnicas e maneiras de abordar problemas recorrentes (Li et al., 2009; Wenger e Trayner, 2015; Pyrko et al., 2017).

Ainda que apresentem os três elementos citados acima, não há normas que regularizem como as CPs devem ser criadas e qual estrutura adotar, podendo ter quantidade variada de membros, envolver participantes de um pequeno território ou ser mundial e interagir de maneira presencial ou online. Há casos em que há a configuração de uma CP, mas os membros não estão cientes. A partir do momento em que é atribuído um nome, a CP é colocada em foco, permitindo compreender melhor o interesse e percebendo as estruturas definidas pelo engajamento na prática, e o aprendizado informal que vem com ele (Braithwaite et al., 2009; Ranmuthugala et al., 2011; , 2015; Wenger e Trayner, 2015; Pyrko et al., 2017).   

Com a disponibilidade de novas tecnologias, como a internet, o alcance das interações ampliou as limitações geográficas das comunidades tradicionais, tornando-se mais acessível (Barnett et al., 2012; Wenger e Trayner, 2015; Wang et al.,2017).et al., Assim, surge a Comunidade de Prática Online (CPO).

As CPO Trata-se de um grupo de pessoas que estão conectadas através da internet e interagem com colegas, que enfrentam problemas/desafios semelhantes, ao longo do tempo, em torno de um propósito, interesse ou necessidade compartilhados, reduzindo o isolamento profissional.

A comunicação da CPO pode ser realizada por meio de fóruns de discussão, mensagens privadas, salas de bate-papo, blogs, etc. Entretanto, o sucesso das comunidades online depende em grande parte de participações sustentadas e contribuições voluntárias dos usuários (Barnett et al., 2012;Wang et al., 2017).

A CPO pode ser usada como um mecanismo de apoio à mudança entre diferentes organizações, e em diferentes níveis do sistema. Desenvolvendo novas ideias elaboradas por pessoas que se relacionam e fazem os ajustes necessários às CPO podem alcançar resultados desejados, dentro de um contexto institucional e organizacional.

Também são vistas como uma estratégia de gestão do conhecimento, que as organizações podem utilizar para apoiar a inovação. Em parte, devido ao encorajamento que as CPOs dão a todos os membros que participam, apoiando uma estrutura social baseada no respeito mútuo, na confiança e na informação compartilhada.  

De maneira explícita e tácita, as CPO unem a aprendizagem ao desempenho profissional,  podendo fortalecer efetivamente inclusive os sistemas de saúde e melhorando a qualidade de vida das pessoas. Como resultado, há uma tradução do conhecimento que facilita o entendimento do assunto em pauta e atinge um número considerado de membros, garantindo que a melhor evidência disponível seja usada para informar a política e a prática dentro de contextos organizacionais, comunitários e até mesmo universitário (Barnett et al., 2012; Kothari et al., 2015).

Referências Bibliográficas

Barnett S, Jones SC, Bennett S, Iverson D, Bonney A. General practice training and virtual communities of practice – a review of the literature. BMC Fam Pract. 2012 Aug 21;13:87

Braithwaite J, Westbrook JI, Ranmuthugala G, Cunningham F, Plumb J, Wiley J, Ball D, Huckson S, Hughes C, Johnston B, Callen J, Creswick N, Georgiou A, Betbeder-Matibet L, Debono D. The development, design, testing, refinement, simulation and application of an evaluation framework for communities of practice and social-professional networks. BMC Health Serv Res. 2009 Sep 15;9:162.

Li LC, Grimshaw JM, Nielsen C, Judd M, Coyte PC, Graham ID. Use of communities of practice in business and health care sectors: a systematic review. Implement Sci. 2009 May 17;4:27.

Ranmuthugala G, Plumb JJ, Cunningham FC, Georgiou A, Westbrook JI, Braithwaite J. How and why are communities of practice established in the healthcare sector? A systematic review of the literature. BMC Health Serv Res. 2011 Oct 14;11:273.

Pyrko I, Dörfler V, Eden C. Thinking together: What makes Communities of Practice work? Hum Relat. 2017 Apr;70(4):389-409.

Wenger E, Trayner B. Communities of practice: a brief introduction. V April 15, 2015. Acessado em 04 de maio de 2017: http:// wenger-trayner.com/introduction-to-communities-of-practice/

Wang X, Zhao K, Street N. Analyzing and Predicting User Participations in Online Health Communities: A Social Support Perspective. J Med Internet Res. 2017 Apr 24;19(4):e130.


Gabi Victorelli

DDS, MsC, PhD student - University of Campinas gabrielavictorelli@gmail.com http://lattes.cnpq.br/3031984607350991

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