Veja as diferenças do apagão desta semana e o de 2001
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O cenário energético do Brasil é preocupante com a falta de chuvas, mas não é o mesmo que em 2001, quando o país viveu um período de racionamento de energia após uma série de apagões, apontam especialistas ouvidos pelo UOL. Atualmente, disseram os especialistas, o país dispõe de um parque termoelétrico que foi criado para compensar a pouca produção de energia pelas hidrelétricas.
Sem chuvas, os reservatórios baixaram e desde a metade do ano passado a capacidade das hidrelétricas foi reduzida. Por isso, o país passou a usar mais energia gerada por usinas termoelétricas.
Na última segunda-feira (19), em um pico no consumo por causa do calor, por volta de 15h, houve desligamento de redes para evitar uma queda em todo o sistema. Naquele dia, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) determinou às distribuidoras de energia que cortassem o fornecimento de 5% da carga do sistema. O corte de cerca de uma hora afetou dez Estados e Distrito Federal.
“As hidrelétricas têm pouca água em seus reservatórios, cerca de 17% da capacidade de armazenamento, era para estar acima de 30% nesse período para chegar em abril com boa capacidade. Mas isso não vai acontecer, vamos passar um ano muito difícil e a demanda de energia será suprida pelas usinas termoelétricas”, disse Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe (Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ) e ex-presidente da Eletrobras.
As usinas termoelétricas são mais caras, poluem mais e tem baixa eficiência, por isso só utilizadas como uma espécie de plano B, para evitar que os reservatórios das hidrelétricas não reduzam tanto.
“Normalmente, usa-se 80% a 85% de energia produzida por hidrelétrica. No ano passado foi de 60% o uso de hidrelétrica, o que significa que 40% foi de termoelétrica”, disse Pinguelli.
Outro fator preocupante é a falta de sintonia entre ações para evitar a escassez de água e a geração de energia.
“Há extrema interconexão entre o problema da água e da energia. Quase 60% da água que abastece o setor energético vem do Sudeste, que está sofrendo estiagem. E não foi só no ano passado, vem de antes. Se a gente tivesse economizado água e investido no setor lá atrás, nós teríamos mais oferta de energia. O problema de água em São Paulo é um problema de energia no Brasil”, afirmou Gilberto Jannuzzi, professor de pós-graduação em planejamento energético da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para Jannuzzi, é preciso planejamento integrado dos sistemas elétrico e hídrico e isso não foi feito de forma eficiente. Ele afirma que o processo pode ser agravado se os governos estaduais e federal não assumirem que há um problema.
“É evidente que há restrição. Ela vai ser mais grave quanto mais tempo a gente a gente demora para tomar medidas sobre elas”, disse.
“A palavra racionamento tem sido amaldiçoada pelo trauma de 2001, mas uma racionalização do sistema precisa ser feita urgentemente. O brasileiro precisa consumir menos e de forma eficiente. Esse desligamento seletivo de segunda-feira mostra que o sistema é vulnerável. É diferente de 2001, mas igualmente grave”, disse Pinguelli.
Em 2001, o país também vivia períodos de estagiam e diminuição da geração de energia e dependia quase que exclusivamente de hidrelétricas. Naquele ano, a economia estava bem e o consumo da indústria estava alto, mas o sistema elétrico não era compatível com a demanda. O setor enérgico não recebeu investimentos do governo de Fernando Henrique Cardoso e sem meios alternativos – que não dependessem apenas de hidrelétrica, o sistema entrou em colapso. Com a crise enérgica, o governo determinou o racionamento de 20% do consumo.
Veja outras diferenças entre o apagão de 2001 e o cenário atual:
Padrão de consumo: Em 2001, parte do aumento da demanda se dava pelo consumo da indústria. Hoje, o quadro econômico não é dos melhores e a indústria não é mais a responsável pela alta no consumo, sendo o ar condicionado o grande vilão em um verão atípico. Essa alteração no comportamento de consumo ocorreu após o lançamento de incentivos fiscais do governo para a compra de equipamentos da linha branca como eletrodomésticos.
Eficiência e desperdício: no apagão de 2001, a classe média não acessava os produtos que hoje são responsáveis pelo aumento da demanda. Há produtos bons e ruins no mercado, mas o ideal seria que só estivessem disponíveis os aparelhos com eficiência enérgica que economizam eletricidade no seu consumo sem perder potência. Especialistas criticam a falta de ações do governo para conscientizar a população sobre a importância da aquisição de produtos com eficiência.
“É importante garantir que a classe média tenha acesso a esses produtos, mas precisa ensinar a comprar os bons. Também seria bom exigir das indústrias só fabricarem produtos com eficiência garantida para reduzir o desperdício. Outra medida seria haver uma limitação da temperatura do ar condicionado. Se você entra em um estabelecimento e ele estiver muito gelado, frio mais o que o necessário, é multado no Japão”, disse Pinguelli.
Investimentos no setor: além de usinas termoelétricas, o Brasil também conta atualmente com um parque eólico e tem mais hidrelétricas que em 2001. O problema é que as obras para a instalação de todo esse sistema elétrico estão atrasadas e as que funcionam não conseguem fornecer energia porque ainda não foram instaladas boa parte das linhas de transmissão. Especialistas dizem que melhorou muito em relação a 2001, mas que o planejamento e investimento no setor precisa ser contínuo.