Conhecendo Carreiras de Exatas: a Química

O profissional de química pode atuar em diversas áreas: indústrias químicas, farmacêuticas, alimentícias, educação, pesquisa e desenvolvimento. 

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Prêmios Nobel

No ano de 2020, o prêmio Nobel de Química foi entregue a duas mulheres: a microbiologista e imunologista Emmanuelle Charpenter e a bioquímica e biologista molecular estadunidense Jennifer Doudna. 

Jennifer Doudna. Fonte: Wikimedia Commons
Emmanuelle Charpenter. Fonte: Wikimedia Commons

As duas cientistas ganharam destaque internacional nos últimos anos graças ao desenvolvimento de uma técnica de edição genética chamada CRISPR/Cas, que funciona como um par de tesouras moleculares para precisamente cortar ou editar seções específicas de DNA, o que resulta na possibilidade de regular a ativação racional de genes. Essa descoberta teve impactos inimagináveis em áreas das ciências como biologia, agronomia, veterinária, medicina, e muitas outras [1].

Mas, como assim o Nobel de Química foi entregue a um trabalho sobre edição genética? Isso não é biologia? 

Na verdade, essa descoberta está relacionada a diversas áreas do conhecimento e a química teve – e sempre tem – um grande impacto nesse cenário, como explica uma de nossas entrevistadas, Lívia Brenelli, Química pela PUC-Campinas e Doutora em Biologia Funcional e Molecular pela Unicamp:

“O impacto (do prêmio Nobel em Química) é extremamente positivo e fundamental para desmistificar a ideia de que a área de Química é limitada para o setor de produtos químicos (tintas, reagentes, resinas, solventes inorgânicos e orgânicos), petrolífero (combustíveis, polímeros e derivados), agrotóxicos e drogas. O mundo da Química é muito mais que isso! Genes, DNA, RNA, proteínas e enzimas são biomoléculas. Células vegetais e animais, por exemplo, são verdadeiras fábricas e os conhecimentos da Química são fundamentais para entender o seu funcionamento, equilíbrios e reações. O fato de duas cientistas terem conquistado esse prêmio fortifica a figura da mulher na Química e na pesquisa e motiva tantas outras que estão atuando ativamente em prol da sociedade.” 

Embora seja a primeira vez que duas mulheres são laureadas juntas por suas contribuições na área de química, outras mulheres muito importantes na história e no desenvolvimento das ciências já ganharam esse prêmio: Marie Curie (1911), Irène Joliot-Curie (1935), Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964), Ada E. Yonath (2009) e Frances H. Arnold (2018). Entretanto, o número de mulheres laureadas – apenas 7 – ainda é pequeno comparado ao de homens – 178. Elas vêm ganhando destaque e, mais do que nunca, mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser!

Como é o curso de Química

Você já sonhou em estar na vanguarda da pesquisa científica?” – É o que a Universidade de Oxford pergunta aos interessados em realizar graduação na Química [2]. De acordo com a universidade, considerada a melhor do mundo segundo o ranking da Times [3], “química é uma ciência abrangente preocupada com a síntese, estruturas, dinâmica, propriedades e transformações de todos os tipos de materiais – orgânicos, inorgânicos e biológicos”. 

O objetivo da Química em buscar o entendimento da matéria foi apontado também pela discente de Química da Unicamp, Gabriela Souza Bezerra, que relata o processo para alcançar a compreensão de uma interação química:

“Como estudante de química eu posso dizer que é tudo uma surpresa. A teoria é linda, mas muitas vezes quando a gente vai para o laboratório reproduzir exatamente o que já foi discutido em sala, muitas vezes não dá certo. E isso é o que torna a química tão fascinante, tentar descobrir o porquê de não ter funcionado. Tentar de novo, mudando alguma coisa e ver que as pequenas mudanças, seja na ordem de adição dos reagentes no balão reacional ou um leve aumento na temperatura, muda completamente o desempenho de um experimento. Estudar química é dar atenção aos detalhes, até o menor deles. Pois o tamanho dos detalhes, na maioria das vezes, não condiz com o impacto que eles provocam.”

As disciplinas da graduação geralmente são divididas entre áreas como Química Orgânica, Inorgânica e Analítica, Cálculo, Física, e outras, com duração do curso de quatro anos. Todos os assuntos são abordados de maneira teórica e prática para que o aluno adquira conhecimentos específicos e desenvolva habilidades, podendo atuar em diferentes carreiras, como identifica Débora Paré, química formada pela PUC-Campinas, que teve “experiência com pesquisa, controle de qualidade e assessoria”. 

Quem é formado em Química lida com a transformação da matéria e estuda as reações envolvendo diferentes estados físicos (gás, líquido, sólido), materiais (sais, metais, solventes), alterações nas condições do sistema (temperatura, pressão) e outras variáveis [4]. Para isso, é necessário um conhecimento desde a escala atômica e interações moleculares até o sistema reacional. Tanto que a Dra. Lívia Brenelli ressalta a contribuição que a química tem no desenvolvimento sustentável e social, nas áreas do meio ambiente, da saúde e das atividades econômicas:

“A química vai além das reações coloridas em tubos de ensaio. Por exemplo: a química converte lixo em energia, melhora processos e produtos para consumir menos água e gerar menos poluentes, sintetiza moléculas que podem combater o câncer, otimiza produções, cria produtos ecologicamente corretos, e muito mais.”

No decorrer dos anos, muitas universidades ramificaram os cursos de Química, oferecendo não somente a licenciatura (objetivo principal de ministrar aulas aos ensinos fundamental e médio), mas também opções de bacharelado (atuação mais ampla no mercado), com ênfase em Biotecnologia, Ambiental, Alimentos, Materiais, entre outros disponíveis na Universidade de São Paulo [5].

Neste vídeo, a experiência de uma mulher que escolheu a carreira de química pode despertar a curiosidade a respeito do curso:

Áreas de atuação

No Brasil, assim como boa parte dos países, é comum que as formadas em Química sigam uma carreira acadêmica, continuando seus estudos na pós-graduação (mestrado e doutorado), principalmente em razão do aspecto interdisciplinar da área, conforme esclarece a Dra. Lívia Brenelli:

“Eu identifiquei a oportunidade de construir uma carreira acadêmica, onde eu pudesse me tornar uma pesquisadora e desenvolver projetos tecnológicos unindo outras áreas como biologia, engenharia, biotecnologia, farmácia e ambiental.”

Além disso, a área de educação, seja no ensino médio ou em cursos de graduação, também absorve grande parte desses profissionais, visto que a química é uma disciplina obrigatória na escola e em cursos superiores como engenharias, farmácia, medicina e a própria química. 

Muitos profissionais também são acolhidos pela indústria, como na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). É o que informa Gabriela Souza Bezerra, que narra a possibilidade da realização de pesquisa voltada à indústria, em especial a influência que a química exerce na produção de medicamentos e de produtos de beleza:

“Eu gostei muito da atuação industrial, no ramo farmacêutico ou de cosméticos, foi algo que sempre me atraiu. Ainda mais depois da IC que eu fiz na área de físico-química de fármacos. Trabalhar em alguma dessas áreas seria como atingir a minha tão sonhada idealização de trabalho.” 

Na indústria, a química pode desempenhar atividades relacionadas ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento de produtos, avaliando propriedades químicas e físicas em áreas tão variadas quanto, farmácia, cosméticos, petroquímica, energias renováveis e produtos de limpeza. A atuação pode abranger, por exemplo: pesquisa, supervisão do processo produtivo, tratamento de resíduos e qualidade de toda linha de produção [4].

A profissional da química ainda pode trabalhar na área ambiental, fazendo perícias e elaborando relatórios que ajudem na proteção do meio ambiente e até mesmo na área forense, colaborando com a solução de crimes por meio da análise de materiais deixados na cena. 

As oportunidades nas diversas áreas de trabalho fazem a química uma profissão bastante promissora.

Onde estudar

Há diversas opções de universidades que oferecem o curso de Química, em todos os estados brasileiros. Em planilha disponibilizada pelo Ranking Universitário Folha 2019 [6] são listadas 198 instituições de ensino superior, com maioria de universidades federais, seguidas das privadas e concentradas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

Fonte: Autoras, adaptado de [6]

De acordo com o ranking, as universidades brasileiras mais bem conceituadas em relação ao curso de Química são a Universidade de São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mulheres na Química

Um estudo sobre as “Mulheres Cientistas na Química” [7] mostra a representação feminina entre os diferentes níveis de titulação (iniciação científica, mestrado e doutorado) e por região brasileira. 

Apesar de se restringir aos dados disponíveis pelo CNPq e CAPES, essa é uma indicação de que as mulheres representam uma tímida maioria na área, na média. Dentre os níveis mencionados, elas equivalem a 52-56% das estudantes. Entretanto, essa porcentagem diminui para o cargo de docente das universidades federais e estaduais nos cursos de graduação (39-45%) e pós-graduação (33-43%). 

Mesmo assim, por mais que a participação feminina na Química seja mediana, ela contribuirá para que as meninas possam optar pela formação e pela atuação na ciência, em razão dos exemplos do protagonismo das que hoje estudam e trabalham na área, nos termos enfatizados pela aluna Gabriela Souza Bezerra:

“E acho que esse é um dos principais papéis das mulheres cientistas, mais do que trazer o acesso a tecnologias para melhoria da qualidade de vida das pessoas, é tornar o caminho científico mais fácil de ser trilhado para as mulheres que nos sucederão.”

O reconhecimento dado pelo Nobel de Química a duas mulheres químicas e a dedicação que as entrevistadas neste artigo possuem com a área influenciarão as meninas a vislumbrar uma atuação profissional na ciência. 

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Agradecimentos

Agradecemos às profissionais de química pela disposição em responder o questionário.

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Lívia Brenelli, Química, PUC-Campinas
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Gabriela Souza Bezerra, Química em Formação, UNICAMP
Débora Paré, Quimica, PUC-Campinas

Autoras: Luisa Fernanda Ríos Pinto, Gabriela F. Ferreira, Carolina F. Ferreira, Regiane A. Oliveira, Paula Penedo, Mônica Morais Lima. 

Referências

[1] https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/10/07/nobel-de-quimica-2020-vai-para-emmanuelle-charpentier-e-jennifer-a-doudna.ghtml

[2] https://www.oxford-royale.com/articles/studying-chemistry/#aId=5fc30593-8d9b-462c-a1f6-6eee79760a15

[3] https://www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/2020/world-ranking#!/page/0/length/25/subjects/3063/sort_by/rank/sort_order/asc/cols/stats

[4] https://www.guiadacarreira.com.br/guia-das-profissoes/quimica/ 

[5] https://www5.usp.br/ensino/graduacao/cursos-oferecidos/quimica/ 

[6] https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-cursos/quimica/# 

[7] https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422020000600823#:~:text=A%20Figura%201%20deixa%20claro,53%25%20na%20%C3%A1rea%20de%20Qu%C3%ADmica

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