8 de março – Dia Internacional da Mulher: o que a data representa

Comemorando a data que representa a luta das mulheres

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Hoje, 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Todos os anos, nesse dia, mulheres são surpreendidas com presentes, flores, chocolates e homenagens sobre o quanto elas são “lindas”, “delicadas” e importantes para o mundo.  Mas, apesar de ser uma data bastante conhecida e celebrada no Brasil, você sabe qual é a origem e o significado da comemoração?

Embora existam algumas divergências históricas sobre essas origens, a mais comum é associá-la a um incêndio que ocorreu em uma fábrica de Nova York, no dia 25 de março de 1911. No incêndio, 146 operários morreram, entre eles 125 mulheres, a maioria imigrantes judias e italianas com idades entre 13 e 23 anos. Esse episódio incentivou as lutas por melhores condições de trabalho nas fábricas, mas a verdade é que, antes disso, já havia reivindicações trabalhistas, em diversos países, pela melhoria das condições das operárias, que eram muito piores que as masculinas.

A escolha dessa data, no entanto, está relacionada a uma manifestação de operárias russas em 1917. Um grupo de trabalhadoras saiu para protestar no dia 23 de fevereiro pelo calendário russo – 8 de março no calendário gregoriano – contra a monarquia e o fim da participação russa na Primeira Guerra Mundial. Elas eram, em sua maioria, tecelãs e familiares de soldados no exército e sua revolta, que assumiu gradativamente um caráter de greve geral e luta política, acabou sendo o estopim para a Revolução Bolchevique.

Foi somente em 1975, no entanto, que a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou o 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres, para lembrar sua luta pelas conquistas políticas e sociais e reivindicar a igualdade entre os gêneros. De acordo com a socióloga Eva Blay, em entrevista à BBC News Brasil, esse dia tem uma importância histórica porque levantou um problema que ainda não foi resolvido:

 “A desigualdade de gênero permanece até hoje. As condições de trabalho ainda são piores para as mulheres. Ainda há muitos problemas a serem resolvidos, como o da violência contra a mulher, do feminicídio, do aborto e da própria diferença salarial” [1].

A história do 8 de março levanta uma questão pouco abordada que é a sua relação com as reivindicações trabalhistas. Na maior parte do mundo ocidental, ela foi transformada em uma comemoração capitalista, com o intuito de incentivar a compra de presentes, mas pouco se fala sobre a luta contra o patriarcado, um sistema que influencia todas as esferas sociais, afirma a historiadora feminista Diana Assunção para o portal Brasil de Fato [2].

“A história real do 8 de março é totalmente marcada pela história da luta socialista das mulheres, que não desvincula a batalha pelos direitos mais elementares – que, naquele momento, era o voto feminino – da batalha contra o patriarcado e o sistema capitalista”

Apesar dos diversos avanços que ocorreram desde as primeiras manifestações pelos direitos das mulheres, muito ainda precisa melhorar. Com a pandemia, por exemplo, ficou bastante óbvio que as condições de trabalho desfavorecem majoritariamente as mulheres. De acordo com uma pesquisa da Sempreviva Organização Feminista [3], em média 50% das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém (idosos, crianças, pessoas com deficiência, etc) durante a pandemia, sendo que 52% eram negras, 50% indígenas e 46% brancas.

E isso impacta diretamente em seus resultados no mercado de trabalho. Dados da Parent in Science [3], sobre produtividade acadêmica, revelaram que apenas 8% das mulheres responderam que estão conseguindo trabalhar remotamente, enquanto 18,3% dos homens responderam de maneira afirmativa. Ou seja, as obrigações com casa e com a família fazem com que elas trabalhem mais e produzam menos do que eles.

Por esse motivo, é essencial resgatar as raízes do dia 8 de março e lembrar a história das mulheres que lutaram para que nós tivéssemos as chances que temos hoje. Mas também é importante que continuemos lutando, para que as próximas gerações não tenham que lidar com as dificuldades que ainda enfrentamos. 

Dia internacional das mulheres ao redor do mundo

O Dia Internacional das Mulheres é um dia global celebrado como feriado oficial em pelo menos 20 países, enquanto em outros, como no Brasil, não é feriado. Em muitos desses lugares, a tradição diz que os homens honram suas mães, esposas, namoradas e colegas com flores e pequenos presentes. Em outras nações, a data é muito parecida com o feriado do Dia das Mães, em que as crianças dão presentes para suas mães e avós. Em outros países, no entanto, como Nepal e China, é um feriado apenas para mulheres [4].

Em geral, esse dia celebra as conquistas sociais, econômicas, culturais e políticas das mulheres, apelando muitas vezes pela igualdade de gênero [5]. 

Países da América

Na Argentina, as mulheres são celebradas recebendo flores e outros presentes, assim como na Itália e na Rússia. No entanto, também ocorrem protestos, como em 2016, quando as mulheres se reuniram em frente ao Congresso em Buenos Aires com slogans pintados em seus corpos, exigindo a implementação de políticas de prevenção ao feminicídio. As mulheres também tomaram as ruas em 2017, 2018 e 2019 para lutar pela igualdade de gênero, mudança social e igualdade de remuneração – com foco particular nos direitos reprodutivos, devido às leis restritivas ao aborto da Argentina. No ano passado, finalmente foi anunciado que o aborto deveria ser legalizado na Argentina – tornando-se o primeiro grande país latino-americano a fazê-lo [4]. 

Nos Estados Unidos, o dia – que não é feriado oficial – é celebrado com inúmeros comícios políticos, conferências de negócios e eventos governamentais e corporativos em todo o país para homenagear o dia especial e reunir mulheres de diferentes origens e culturas [6].

Países da África

Em Uganda, o dia internacional da mulher foi anunciado como feriado oficial em 1991. Desde então, o governo escolhe um tema para enfocar todos os anos: em 2017, o país voltou sua atenção para o incentivo ao empoderamento das mulheres no trabalho. E em 2018, eles destacaram o trabalho de mulheres policiais na capital de Uganda, Kampala, fazendo com que controlassem o tráfego de veículos [4]. 

Países da Ásia

Na Arábia Saudita, a data foi celebrada pela primeira vez em 2017, mas não no dia 8 de março. A celebração anual do país é semelhante ao Dia Internacional da Mulher, mas ocorre de 1 a 3 de fevereiro. O evento de três dias acontece na capital de Riad e reúne a realeza e os cidadãos para discutir os direitos das mulheres. O reino, que foi classificado em 134º lugar entre 145 quanto à igualdade de gênero no relatório Global Gender Gap de 2015 do Fórum Econômico Mundial, foi fortemente criticado por seu histórico de igualdade de gênero. Ainda hoje, segundo a lei saudita, uma mulher deve pedir permissão a seu tutor homem para casar, viajar ou estudar. Assim, a introdução do dia espera “celebrar a mulher saudita e seu papel de sucesso e lembrar as pessoas de suas conquistas na educação, cultura, medicina, literatura e outras áreas” [4].

Na Armênia, o dia 8 de março marca o início de um ‘Mês da Mulher’ não oficial que vai até o ‘Dia da Maternidade e da Beleza’ em 7 de abril. Até 2011, o dia era feriado para todos, mas tornou-se um dia útil depois que a Assembleia Nacional decidiu adotar o dia 8 de março como oficialmente como o Dia da Mulher [4,5]. 

Na China, o dia internacional da mulher é celebrado como folga de meio dia de trabalho, mas somente para as mulheres, desde 1949. Nos últimos anos, a celebração tem envolvido vestidos e saltos altos, em vez de focar nas conquistas femininas. Em 2016, os homens da província de Guangdong usaram vestidos e salto agulha para escalar uma montanha no Dia Internacional da Mulher. No ano anterior, cinco mulheres foram presas por planejarem um protesto contra o assédio sexual. Já as comemorações anteriores se concentraram mais na saúde e no bem-estar das mulheres, como com a oferta de exames médicos gratuitos às mulheres em 1977 e a marcha de mulheres reunidas na Praça Tiananmen para as reuniões do Partido Comunista em 2003 [4]. 

Na Índia, muitas celebrações são realizadas durante este dia. Várias organizações de mulheres, Organizações Não Governamentais (ONG), estudantes e ativistas sociais participam ativamente para tornar a ocasião um sucesso. Vários seminários, comícios de massa, filmes e documentários são organizados e uma série de peças sensíveis ao gênero são encenadas para despertar a consciência geral sobre o dia e levar ao empoderamento das mulheres comuns [7].

No Nepal, o dia internacional da mulher é um feriado oficial no qual as mulheres têm o dia de folga do trabalho. Em 2017, houve uma manifestação para “enviar uma mensagem de que as mulheres podem se tornar o que quiserem”. As pessoas foram às ruas em seus uniformes de trabalho para protestar contra o fato de que as mulheres ganham em média 24% menos do que os homens em todo o país. Desde então, as manifestações ocorrem todos os anos pelos direitos das mulheres [4]. 

Países da Europa

Na França, o dia internacional da mulher é uma grande celebração, e as pessoas em todo o país comemoram este feriado. Atualmente, um dos maiores problemas contra os quais se está protestando na França é a disparidade salarial que as mulheres vivenciam no local de trabalho. Além das demonstrações, as mulheres costumam receber presentes ou ofertas especiais para o Dia Internacional da Mulher. Isso inclui itens como buquês de flores, chocolate e produtos relacionados à beleza [6].

Na Itália, o Dia Internacional da Mulher – ou La Festa Della Donna – é comemorado com a entrega de flores para as mulheres, mais ou menos como o gesto simbólico de amor que uma rosa vermelha tem no Dia dos Namorados. Embora o dia não seja uma feriado oficial, as mulheres podem desfrutar de entrada gratuita em museus e locais culturais em todo o país [7]. 

Na Polônia, houve um retrocesso nos direitos das mulheres desde que em 2016 o direito ao aborto foi revogado. Desde então, o dia internacional da mulher se tornou um dia de protestos e lutas por direitos básicos [4]. 

Em Portugal, o dia é celebrado tanto pelas mulheres como pelos homens das suas vidas. Na noite de 8 de março, grupos de mulheres celebram a ocasião juntas em jantares e festas “somente para mulheres” [7].

País transcontinental (Europa e Ásia)

Na Rússia, o dia internacional da mulher se parece muito com o dia dos namorados. Não é incomum testemunhar homens comprando presentes para as mulheres em suas vidas antes de 8 de março e o preço de buquês de flores dobrando na véspera do feriado. A data é um feriado público em toda a Rússia desde 1965, e muitos lugares marcam o dia com uma festa de trabalho no dia anterior. Além disso, o ato de dar festa para mulheres neste dia começa desde cedo na Rússia, com os meninos nas escolas planejando celebrações para as meninas de sua classe [4]. 

Na Turquia, o tema também é complicado. Em 2017 o governador de Istambul tentou proibir manifestações, mas centenas de mulheres se reuniram na capital da Turquia dois dias antes do Dia Internacional da Mulher, a tropa de choque interrompeu a manifestação à força, disparando balas de borracha contra a multidão. Já em 2018, as autoridades recusaram a permissão para as pessoas realizarem os eventos do Dia Internacional da Mulher em toda a Turquia, alegando preocupações com a segurança, mas acabaram por permitir uma grande manifestação em Istambul, na qual mais de 2.000 mulheres marcharam no centro da cidade para protestar contra a crescente violência e abuso sexual por homens [4].

*

Dentre as diversas comemorações nos países, temos relembrado o objetivo principal dessa data e retornado às origens: os direitos conquistados pelas mulheres devem ser valorizados, defendidos e cumpridos como todo direito humano.

Feliz Dia da Mulher!

Autoras: Regiane A. de Oliveira, Paula Penedo P. de Carvalho, Luisa F. Ríos Pinto, Carolina F. Ferreira, Gabriela F. Ferreira.

Referências

[1] Ver em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43324887

[2] Ver em https://www.brasildefato.com.br/2019/03/08/marco-das-mulheres-or-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco

[3] Ver em https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/mulheres-trabalho-pandemia-30112020

[4] Ver em https://www.goodhousekeeping.com/life/a26539742/international-womens-day-march-8/ e em https://www.stylist.co.uk/life/international-womens-day-celebrate-different-world-europe-middle-east-china-africa/194218 

[5] Ver em https://www.internationalwomensday.com/about#:~:text=International%20Women’s%20Day%20(March%208,and%20political%20achievements%20of%20women.) e em https://www.theholidayspot.com/international_womens_day/across_the_world.htm 

[6] Ver em https://www.goodhousekeeping.com/life/a26539742/international-womens-day-march-8/ e em https://www.frenchpod101.com/blog/2020/02/25/international-womens-day/

[7] Ver em https://www.theholidayspot.com/international_womens_day/across_the_world.htm

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