Curiosidades: Reciclagem

Além da separação do papel, plástico, vidro e metal, como funciona a coleta seletiva

Tempo de leitura: 6 min

Você já deve ter ouvido falar dos 5 Rs, uma regra que tem como objetivo incentivar a diminuição do lixo gerado pelas pessoas. De acordo com essa recomendação, existem cinco passos que devem ser seguidos para que possamos melhorar e conservar o meio ambiente: Repensar seus hábitos de consumo, Reduzir o desperdício, Recusar o uso de produtos descartáveis, Reusar objetos e Reciclar os materiais.

Hoje, nós vamos falar do último dos cinco pontos, que é a Reciclagem. Apesar dessa ser uma medida usada após a adoção dos outros Rs, ela é igualmente importante porque ajuda a dar um destino mais nobre a produtos descartados. Todos os anos, o Brasil gera cerca de 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Ainda assim, 40% deles recebem um destino inadequado, quando poderiam ser usados para geração de renda e outras atividades sustentáveis [1].

Mas, afinal, o que é a reciclagem?

A reciclagem é o processamento de materiais que seriam descartados, para transformá-los em matéria-prima e novos produtos. Ela difere do reuso, em que as pessoas adaptam um mesmo objeto para fins diferentes (por exemplo, uma lata de refrigerante como porta lápis), ou para o mesmo fim (como continuar usando uma garrafa comprada na rua para beber água do bebedouro), porque na reciclagem ocorre a alteração das propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas do material [2].  

Assim, uma folha de sulfite usada pode ser reciclada – ou seja, passar por uma transformação industrial – para se tornar uma folha de sulfite nova, da mesma forma em que o vidro, metal, plástico, borracha e diversos outros materiais [3]. Mas, mais do que isso, na reciclagem o produto também pode ser transformado em algo completamente diferente do original. Por exemplo: garrafas PET em camiseta, tubo PVC em calçados, óleo de cozinha em tinta de impressora e embalagens de xampu em próteses infantis [4].

Além de reduzir a quantidade de descarte e poluição, isso preserva os recursos naturais porque não será necessário extrair mais matéria-prima como madeira, água e minerais para criar produtos novos. Ainda, ela gera retorno econômico, com a criação de empregos nas indústrias de reciclagem e manufatura. 

Para se ter uma ideia, um levantamento feito pelo Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb) concluiu que seria possível ter um retorno de cerca de R$5,7 bilhões para a economia se todo o plástico descartado no Brasil fosse reciclado. E esse dinheiro poderia ser revertido para a construção e modernização de aterros sanitários, ampliação de serviços de coleta e outras atividades relacionadas à limpeza urbana [5].  

O que é possível reciclar e como funciona a coleta seletiva na prática

Há muitas dúvidas sobre “o que pode e o que não pode reciclar” e para complicar mais ainda essa questão, há itens que poderiam ser reciclados, mas não são simplesmente por não serem aceitos nos programas de coleta local [6]. Isso fez com que as cidades ao redor do mundo desenvolvessem seu próprio regulamento, que atendesse à sua realidade e capacidade. 

No Brasil, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12305/10), os materiais recicláveis secos devem ser separados dos rejeitos. Os secos são, principalmente:  

♻ Metais (como aço e alumínio)

♻ Longa-vida (embalagem)

♻ Papel

♻ Papelão

♻ Plásticos

♻ Vidro

Os rejeitos são aqueles compostos, principalmente, do lixo de banheiros: fraldas, absorventes, cotonetes, além de outros resíduos de limpeza [7].

Normalmente encontramos as lixeiras de reciclagem divididas nas cores: azul (papel), vermelho (plástico), verde (vidro), amarelo (metal), marrom (matéria orgânica, como restos de alimentos) ou preto/cinza (não reciclável).

(reproduzido de [8])

Além da conscientização da população para respeitar as regras de reciclagem e descartar o lixo corretamente, é essencial ter uma coleta seletiva eficaz. De acordo com tabela do IBGE [9], apenas 19,5% dos municípios teriam serviço de coleta seletiva de lixo. 

As coletas seletivas existentes ocorrem geralmente porta a porta ou por Pontos de Entrega Voluntária (PEVs). A primeira é realizada por um caminhão especial que recolhe o lixo reciclável em residências e pontos comerciais. A segunda, por exemplo, por prestador do serviço público de limpeza, associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis [7]. 

O material é então separado nos galpões de triagem e encaminhado para empresas de reciclagem ou outras interessadas na matéria-prima. Como cada tipo de resíduo tem um processo, a separação deve ser eficaz desde o descarte do consumidor para que o processo não fique mais caro e demorado. 

Os principais materiais reciclados no Brasil são o aço, o papel e o vidro, de acordo com fonte que informa uma taxa de reaproveitamento de quase 50% [10]. Outra informa que as latas, garrafas plásticas e papéis (principalmente papelão) são os itens mais reciclados [11]. Mais detalhes do que pode ou não ser reciclado encontram-se em blogs especializados [12] ou em canais de iniciativas locais que oferecem ferramentas práticas sobre reciclagem na sua região como o Recicla Sampa (https://www.reciclasampa.com.br/).

Top 5 dos países que mais reciclam 

Você sabe quais os países que mais reciclam no mundo? A triste notícia é que o Brasil fica nos últimos lugares, reciclando aproximadamente 3% do seus resíduos produzidos [13]. 

  1. Alemanha  

Desde 2016 o líder mundial de reciclagem é a Alemanha, este país recicla e/ou composta 65% de todos os resíduos produzidos de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) [14]. País que além de líder é um exemplo em reciclagem. Por meio da educação o País ensina aos residentes como identificar o que é lixo, composto ou reciclagem, assim cada família faz o trabalho individualmente.

  1. Coreia do Sul

Este país conseguiu atingir 59% de reciclagem e compostagem dos resíduos do país. Isto foi logrado pelo investimento de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em um programa de crescimento verde, junto a incentivos públicos de medidas de fiscalização. 

  1. Eslovênia e Áustria

Estes dois países compartilham o número 3 da nossa lista, ambos conseguem reciclar e/ou compostar 58% dos resíduos. No entanto, a Eslovênia conseguiu um aumento mais rápido dos programas de incentivo para reciclar. 

  1. Bélgica

Neste país, medidas de policiamento tem aumentado a porcentagem de reciclagem. Este país recicla 55% dos seus resíduos. O país está trabalhando em iniciativas que trabalhem pensando em uma economia circular [15].   

  1. Suiça

Este é nosso último país do Top 5 e recicla 51% dos resíduos gerados. Um dos motivos por estar nesta lista é a política de “poluidor-pagador” na qual a residência ou empresa paga por qualquer resíduo não reciclável [16]. 

Fonte: autoras

Ao transformar ou converter o que alguns consideram “lixo” em itens reutilizáveis é possível reduzir a demanda por novos recursos. Por isso, incentivamos a todos e todas a reciclar em casa. E vamos nos inspirar nestes países para fazer a nossa contribuição para um mundo melhor. Talvez assim podemos chegar no Top 5 dos países que mais reciclam. 

E as mulheres na reciclagem?

Atualmente, 70% da mão de obra que selecionam resíduos e comercializam eles é composta por mulheres, conforme dados obtidos pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis [17].

Em 2019, outro estudo feito pela plataforma Recicla Sampa apontou que as mulheres têm uma postura mais ativa quando o assunto é reciclagem, eis que 61% dos acessos na plataforma entre o período de fevereiro e outubro daquele ano compreendeu o gênero feminino [18]. 

Ocorre que, embora os dados possam parecer entusiásticos, é preciso analisá-los de maneira crítica, pois há ambiguidades neles. Isso porque não se trata de opção da mulher, em especial de baixa renda. Por falta de oportunidades, se socorrem de trabalhos precários, marginalizados e desvalorizados para o seu sustento e o da família, como é o caso das catadoras de lixo. Ou seja, as mulheres são a maioria no setor, mas não por escolha (SILVA, 2017) [19]. 

A reciclagem ainda é incipiente no Brasil e não há políticas públicas consolidadas na área. Vale destacar que os(as) catadores(as) de lixo são responsáveis por 90% do lixo reciclado no país [20]. Trata-se de uma atividade precária e uma alternativa àquelas sem qualquer amparo social. 

Nesse sentido, vale a seguinte reflexão feita por Nascimento e Cabral (2017) sobre a importância das mulheres na reciclagem no Brasil: 

“embora as catadoras sejam maioria no trabalho de reciclagem e desenvolvam uma atividade considerada importante para o meio ambiente e consequentemente para a sociedade urbana, cabe-nos questionar: existe um reconhecimento social da importância dessa participação feminina na gestão dos resíduos na cidade?” [21]

A questão é que a reciclagem é uma ação necessária para o combate às mudanças climáticas, eis que preserva sustentavelmente o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. Assim, é uma ação que precisa ser adotada pelo Poder Público que é o responsável pela respectiva prestação, já que é direito humano ter um meio ambiente ecologicamente sustentável. 

Além disso, atualmente no Brasil, é por esforços da participação feminina que a reciclagem existe. Embora esteja dentre os mais diversos paradoxos brasileiros de um trabalho marginalizado, tem um grande impacto social envolvido. 

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Autoras: Paula Penedo P. de Carvalho, Gabriela F. Ferreira, Luisa Fernanda Rios Pinto, Carolina F. Ferreira

Referências

[1] https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-06/brasil-perde-r-57-bilhoes-por-ano-ao-nao-reciclar-residuos-plasticos

[2] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm

[3] https://www.stoodi.com.br/blog/biologia/reciclagem-o-que-e/

[4] https://akatu.org.br/conheca-7-fins-inusitados-para-materiais-reciclados/

[5] https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-06/brasil-perde-r-57-bilhoes-por-ano-ao-nao-reciclar-residuos-plasticos

[6] http://www.timetorecycle.com/what-is-recyclable.asp 

[7] https://inovacaosebraeminas.com.br/coleta-seletiva-eficaz-saiba-o-que-e-e-como-voce-pode-contribuir/ 

[8] https://meioambiente.culturamix.com/lixo/cores-da-reciclagem 

[9] https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3875#resultado 

[10] https://www.boavontade.com/pt/ecologia/conheca-os-3-processos-basicos-da-reciclagem 

[11] https://verdadessustentaveis.com/como-funciona-o-mercado-de-reciclagem-no-brasil/ 

[12] https://blog.brkambiental.com.br/reciclagem-no-brasil/ 

[13] https://embapel.com.br/novo/os-5-paises-que-mais-reciclam-no-mundo/

[14] https://www.oecd.org/about/

[15] https://issuu.com/oecd.publishing/docs/oecd-epr-belgium-2021-highlights-web-english

[16] https://www.nspackaging.com/analysis/best-recycling-countries/

[17] https://www.terra.com.br/noticias/dino/mulheres-sao-maioria-no-setor-da-reciclagem-de-residuos-solidos,1232f6701ee0416bd267873cc027bf1bfnfmg28s.html

[18] https://noticias.r7.com/sao-paulo/reciclagem-em-sp-mulheres-sao-mais-engajadas-do-que-homens-29102019

[19] SILVA, Luciana Codognoto da. O trabalho de mulheres na reciclagem: ambiguidades, fronteiras e representações. Barbarói, Santa Cruz do Sul, n. 50, p. 90-106, jul./dez. 2017. Disponível em <file:///C:/Users/carol/Downloads/10411-50060-1-PB.pdf> Acesso em 29 ago. 2021

[20] https://observatorio3setor.org.br/carrossel/catadores-sao-responsaveis-por-90-do-lixo-reciclado-no-brasil/

[21] NASCIMENTO, Aline Gadelha do; CABRAL, Carla Giovana. Relações de Gênero e Sustentabilidade Urbana: mulheres na reciclagem de materiais. Seminário Internacional Fazendo Gênero 11&13 Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X. Disponível em <http://www.en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1498619913_ARQUIVO_FazendoGeneropronto.pdf> Acesso em 29 ago. 2021

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