Ciência em acrílico sobre tela.

É muito satisfatório ver manifestações artísticas com inspiração científica. Recentemente descobri (de modo muito atrasado e por acaso, confesso) o excelente Shardcore. Se você também não conhece, deixo a apresentação para o dono do espaço:

Gosto de atuar na interface entre arte e ciência, entre o proibido e o inefável. Atualmente trabalho principalmente com pintura, mas às vezes é vídeo, às vezes é música. O Shardcore é um processo de experimentação estética em andamento, você nunca sabe qual será o próximo passo, e frequentemente, eu também não.

Um exemplo do material é a genial pintura com três gigantes da Biologia. Ou quatro, dependendo do referencial (e não, eu não estou me referindo ao Lamarck).

lamarck_haekel_darwin.jpg

Da esquerda para a direita: Lamarck, Haeckel, Darwin e, claro, a girafa.

Adaptei a explicação do autor sobre a tela:

“A frase é uma citação de Sherlock Holmes:

Quando você elimina o impossível, qualquer coisa que permaneça, por mais improvável que seja, deve ser a verdade.

Parece improvável a cena em que 3 cavalheiros vitorianos dividem um pouco d´água com uma girafa, mas não é necessariamente impossível…

Todos conhecem Darwin e sua teoria baseada na seleção natural como promotora do processo evolutivo, apesar de a mesma ser apenas parte das faces da evolução.

Jean-Baptiste Lamarck foi contemporâneo a Darwin e sugeriu que a evolução ocorria pela transmissão de traços desenvolvidos durante a vida de um indivíduo de uma geração para a seguinte. Um de seus exemplos foi de que a girafa esticaria seu pescoço para alcançar folhagem mais alta, e o estiramento produziria descendentes de pescoço mais longo. Sua teoria, o Lamarckismo, é geralmente ridicularizada pois a genética Mendeliana apóia somente a combinação de material genético durante a seleção sexual, mutações ocasionais e “a sobrevivência do mais adaptado”.

Haeckel, claro, é conhecido pela afirmação “a ontogenia recapitula a filogenia”, ou seja, a ideia de que um embrião em desenvolvimento expressa todos os seus antepassados evolutivos sequencialmente durante esse processo, o que com o tempo mostrou-se um certo exagero.

O novo campo da epigenética postula um mecanismo para a ativação e inativação de genes dentro do período de vida de um indivíduo, sendo que essas alterações na expressão gênica podem ser transmitidas a gerações futuras. Isso, até certo ponto, pode ser considerado um caso específico de Lamarckismo.

E de onde vem esses genes que podem ser ´ligados´ e ´desligados´? Ora, nosso genoma, além de conter as instruções para formar um ser humano, também contém grandes partes de informação de nossos antepassados evolutivos. É possível que até certo ponto Haeckel também estivesse certo?

Todos eles sem dúvida teriam uma teoria sobre como uma criatura como a girafa se desenvolveria. E, talvez, dadas as devidas proporções, todos os três possam estar parcialmente certos.”

Conheçam outros exemplos de arte inspirada em ciência no ótimo Shardcore.org!

PS: Volta e meia nos arriscamos a falar de arte, veja outros exemplos em:

Vidro, maçarico e a real aparência das coisas.

Um biólogo metido a crítico na Bienal de Arte e Tecnologia.

UMF, música eletrônica e ciência.

Curioso sobre a opinião do Sharcore sobre Lamarck? Acesse http://scienceblogs.com.br/rnam/2008/03/quem-disse-que-lamarck-esta-errado.php

3 comentários em “Ciência em acrílico sobre tela.”

  1. Pois é Luiz, acho que ainda precisamos fazer uma divulgação maciça sobre o exemplo da girafa, prá ver se entra na cabeça do povo... Vou ver se atualizo o post com uma citação do seu texto e o link direto.
    Abraço!

  2. A afirmação de que todas as teorias acima estejam parcialmente certas é correta, creio eu, já que por intuição e lógica de um cientista amador, que adora pensar a ciência como arte, ou um artista que se diz cientista, vê a evolução em sentidos circulares, holísticos, um espiral como sentidos, o que fará da afirmação da teoria da evolução, uma reunião de sentidos, mais fácil procurar a síntese desta reunião do que o ocidental certo e errado de um cientista com seu compartimentado espaço. abraços.

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