Humanos = 99% chimpanzés. Não, 97%. Ou melhor, 83%…

“A diferença entre humanos e chimpanzés é de apenas 1%!”. Este é um dos dados mais usado pelos evolucionistas em discussões, pois nele está implícita a base da biologia evolucionista: que todos os seres vivos são aparentados e que nem o Homo sapiens escapa desta família. Prova disto seria a proximidade genética com outras espécies de animais, como o chimpanzé por exemplo. Mesmo num artigo anterior, neste mesmo blog (“Genoma do Homem de Neandertal. E daí?”), foi citada a tal diferença de 1 % para chimpanzés e 0,5% para o Homo neanderthalensis. O problema é que a coisa não é tão simples assim.

1% de que? Esta porcentagem, que ficou famosa em 1975, foi confirmada recentemente com o seqüenciamento do genoma do chimpanzé. Mas percebeu-se que este 1% (1,23% na verdade) se refere apenas a substituições de bases, ou seja, troca das moléculas que formam a seqüência do DNA. Trocar um A (adenosina) por um G (guanina), por exemplo. Mas os pesquisadores perceberam que estes 1,23% não levavam em conta trechos inteiros inseridos ou excluídos nos genomas. Levando isto em conta a porcentagem da diferença sobe para 3%. Analisando ainda as diferenças nos números de cópias de genes das duas espécies chegamos a 6,4% de diferença. E se considerarmos só os genes que estão funcionando em determinadas regiões de um tecido, por exemplo o cérebro, essa diferença de expressão pode chegar a 17%.

Na verdade é impossível calcular um número que defina a diferença absoluta entre qualquer espécie. Nas palavras de um pesquisador do consórcio para o seqüenciamento do chimpanzé: “No fim, nossas diferenças serão definidas no âmbito político, social e cultural”. E talvez seja nisso que os evolucionistas citados no inicio do texto possam apostar suas fichas. Não na porcentagem molecular, mas no incalculável e inegável reconhecimento de algo quase humano no olhar de um chimpanzé.

Referência:

  • Relative Differences: The Mith of the 1% – Science, 29 de Junho 2007
  • Genoma do Homem de Neandertal. E daí?


    Dois artigos publicados recentemente nas revistas Nature e Science deram o pontapé inicial para o sequenciamento do genoma do Homem de Neandertal (Homo neandertalensis). Mas, e daí? Porque seqüenciar uma espécie extinta?

    Bom, para início de conversa, esses artigos são importantes pois desenvolveram técnicas de coleta, sequenciamento e análise de DNA muito antigo, e por isso mesmo muito degradados pelo tempo, coisa que até pouco tempo era impossível de se conceber.

    Mas o mais importante é que esses trabalhos possibilitaram algo muito importante para o conhecimento do homem: a comparação entre o Homo neandertalensis e nós, Homo sapiens.

    A espécie viva até hoje que mais se assemelha ao homem é o chimpanzé. E olhando assim para eles, nem parecem tanto assim com a gente. Mas sabe-se que só 1% do genoma dos chimpanzés é diferente do nosso. 1% que foi o suficiente para nos dar as características que nos separam desses macacos.
    O Homo neandertalensis foi a espécie mais próxima evolutivamente de nós, e por isso a mais parecida conosco que já existiu. Estima-se que nossos genomas se diferem em apenas 0,5%. Esses hominídeos tinham um corpo muito parecido com o nosso, só eram um pouco mais atarracados (mais baixos e troncudos), com alguns ossos do crânio mais salientes, um nariz bem largo e achatado e, o mais intrigante, um volume cerebral maior que o do homem moderno! Além disso eles desenvolveram habilidades únicas até então: inventaram ferramentas como a agulha, confeccionavam roupas de couro, tratavam esse couro, desenvolveram as pedras lascadas fabricando machados e martelos. Mas então, o que os tornava diferentes de nós? Algo que realmente só o Homo sapiens desenvolveu na face da Terra: abstração.

    Mesmo possuindo um cérebro maior e sendo capazes de fabricar ferramentas mais bem acabadas do que os sapiens, os neandertalensis nunca foram capazes de adornar suas machadinhas, pintar suas cavernas com figuras abstratas ou fazer rituais fúnebres religiosos. Acredita-se hoje em dia que o cérebro dos neandertalensis, apesar de grande, era compartimentalisado, ou seja, não integrava os pensamentos. Comparando os cérebros do neandertalensis e do sapiens, acredita-se que o cérebro do primeiro seria como uma caixa de ferramentas, enquanto que o do segundo seria um canivete suíço. Assim, a maior interação entre as diferentres partes do cérebro do homem atual seriam a explicação para a redução do volume (da caixa de ferramentas para o canivete) e também um dos fatores para a origem da abstração.

    Assim, descobrir as pequenas diferenças entre o genoma do neandertalensis e do sapiens, pode nos dar muito boas dicas de como ocorreu o primeiro estalo que nos fez abstrair, imaginar, e criar, ou seja, o que nos fez humanos.

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  • The Dawn of Stone Age Genomics
  • comentario nature
  • (Muitos destes artigos são de acesso restrito, principalmente Nature e Science. É uma pena que se restrinja acesso a esse tipo de informação. Surge assim mais uma justificativa para meios de divulgação cientifica como este blog.)