NANDA e as novidades da versão 2018-2020

Essa semana, mais precisamente dia 10 de dezembro, tive o prazer de participar de uma aula aberta na Unicamp com a CEO da NANDA-Internacional, a professora T. Heather Herdman sob o título: Nursing standardized language contributions to quality and safety of care, ou seja, as contribuições das linguagens padronizadas de Enfermagem para a qualidade e segurança do cuidado.

A professora destacou a importância que a utilização de linguagens padronizadas, como o próprio livro da NANDA, tem na utilização de termos únicos para um direcionamento acurado de diagnósticos e assim, resultados e intervenções mais adequados e seguros às pessoas atendidas por nós enfermeiros.

E eu pude lhe fazer o questionamento que todos tínhamos em relação à nova categorização apresentada nos diagnósticos de “populações em risco” e “condições associadas”. 

O que fazemos com esses dois novos componentes do diagnóstico de enfermagem?

Eles surgiram de vários questionamentos que o grupo de estudiosos dessa classificação se dispôs a trabalhar. A primeira, e considero principal, foi aquela que diz respeito ao foco da ação do enfermeiro: atuar no agente etiológico do diagnóstico (ou no caso, os fatores relacionados). Só assim, poderíamos resolver o diagnóstico em questão.

Porém, muitas vezes, nos deparamos com situações que não podemos modificar, como o fato do indivíduo ter sofrido um trauma ou ter nascido prematuro ou estar submetido a determinado regime de tratamento, por exemplo. Assim, surgiu o componente de “condições associadas”, ou seja, são as condições que não são independentemente modificáveis pelo enfermeiro.

A outra necessidade foi de separar as causas, ou fatores contribuintes, de grupos de pessoas que partilham características similares que os fazem ser propensos à determinadas respostas humanas e que, igualmente, não são modificáveis pelo enfermeiro. Surgiu então o componente “populações em risco”.

E dessa forma, muitos diagnósticos de enfermagem perderam seus fatores relacionados, pois nas edições anteriores, só apresentavam condições associadas ou populações em risco e nenhuma delas são passíveis de atuação do enfermeiro.

“E agora José?”

 Era a pergunta que nos fazíamos o tempo todo. Esses componentes entrariam ou não na redação do diagnóstico que inserimos no prontuário do paciente?

E qual não foi nossa surpresa quando ela nos respondeu que esse modelo do “título, seguido pelo relacionado a… evidenciado por…” que temos apresentado na páginas 111 e 112 da edição 2018-2020, é apenas para ser usado no ensino do raciocínio clínico no ensino superior. Claro que eu fiquei de queixo caído mas, o argumento fez todo o sentido para mim, então vamos lá.

Quando estamos aprendendo é sim necessário esse formato de raciocínio, pois só dessa forma poderemos compreender que o agente etiológico (ou causador,contribuinte) vem primeiro pelo fato de ser este o alvo das ações de enfermagem. Só depois aparecem os sinais e sintomas por meio dos quais: 1. nós fomos guiados a identificar tal resposta humana no indivíduo e 2. avaliaremos se o cuidado está sendo adequado para aquela pessoa.

Porém a redação que fica no prontuário, a que faz parte do trabalho de um enfermeiro capacitado, deveria ser somente do título do diagnóstico, ou seja, Dor Aguda, Enfrentamento Defensivo, Conforto Prejudicado. Os demais componentes devem estar descritos no histórico, no exame físico, nas anotações de enfermagem. O fato aqui é a importância que os registros de toda equipe tem no direcionamento do trabalho do enfermeiro.

Deu pra compreender? Para que eu escreveria de novo algo que já está registrado? Se eu já relatei que a pessoa está num quarto coletivo, em quimioterapia, chorosa, sem conseguir dormir direito e sentindo calor pois o quarto fica exposto ao sol à tarde toda, por que eu deveria escrever novamente “Conforto prejudicado relacionado a privacidade insuficiente, controle ambiental insuficiente e estímulos ambientais nocivos evidenciado por alteração no padrão de sono, choro e sensação de calor”?

E agora, você que leu até aqui, como estão seus registros? Eles podem dar suporte para essa prática sugerida? Sua unidade possui um instrumento que te apoie nessa estrutura de trabalho proposta?

O que você tem a falar sobre isso?

Sobre MARISA DIBBERN LOPES CORREIA 2 Artigos
Sou Enfermeira formada em 1999 e atuo como docente em enfermagem desde 2001. Tenho experiência principalmente em UTI adulto, mas hoje me dedico ao ensino da área de enfermagem fundamental. Desde 2011 venho estudando mais profundamente sobre SAE e PE e a cada dia nutro um amor maior pelos temas e por isso quis dividir com vocês esse conhecimento. Sejam benvindos!

6 Comentários

  1. Prezada Professora Marisa.
    Sua explicação veio totalmente ao encontro das inquietudes que nos deparamos no ensino do Processo de Enfermagem. Acredito que poderemos discutir mais aprofundado este assunto em algum evento aqui no Centro Oeste Mineiro.
    Grande abraço

    • Com certeza professor Danilo! É preciso discutir e divulgar entre os enfermeiros e estudantes as atualizações pertinentes a nossa profissão. Abraços e obrigada pelas considerações.

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