Você sabe o que é metabolismo?  

por | nov 1, 2022 | Textos | 0 Comentários

“Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar”.

    Quando o assunto é metabolismo, de certo você e eu temos várias coisas em comum. Primeiramente, é claro, ambos temos, neste exato momento, um metabolismo operante a todo vapor. Graças a ele você é capaz de ler esse texto, assim como sou capaz de escrevê-lo. Além disso, posso apostar que já ouvimos falar muito sobre esse tal de metabolismo durante nossas vidas: “metabolismo de Fulano é lento”, “Ciclano come, come e não engorda, deve ter o metabolismo muito rápido”. Todavia, você sabe ao certo o que isso significa e quais as implicações para o seu dia-a-dia? Espero que, após essa leitura, ao contrário do Zeca Pagodinho, você não saiba apenas o nome.

 Guilherme Caitano e Gildo Girotto Junior
Revisão: Alissa Bonomi e Letícia Sayuri

Caviar é comida de rico. E o metabolismo? 

    O termo metabolismo é utilizado para englobar uma quantidade enorme de reações químicas que ocorrem dentro das células dos organismos vivos, com a finalidade de manter as várias funções do corpo de forma adequada. A energia necessária para que seu cérebro leia esse texto, para que você vá praticar um esporte ou até mesmo para ter uma boa noite de sono são provenientes da ação do seu metabolismo. 

    Entenda, essas várias reações químicas não ocorrem “do nada”, assim como você necessita de uma chuteira que lhe calce bem para aquele jogo decisivo, daquela roupa fina para o casamento do final de semana ou de um par de canetas para realizar a prova do final do semestre, as células do seu corpo também necessitam de recursos para operar da forma ideal: os diferentes tipos de alimentos que vão nos fornecer energia e diversos nutrientes. 

    Quer dizer que quando não comemos, por exemplo, quando fazemos aquela dieta de jejum intermitente, não temos metabolismo? Bom, para pensarmos sobre isso, precisamos falar sobre dois outros conceitos: catabolismo e anabolismo. Não se assustem com os termos pois, apesar de diferentes, são relativamente simples.

    Quando nos alimentamos, e portanto temos recursos suficientes, nosso corpo “pensa” de uma maneira anabólica: “já que estou com essa fartura toda, vou construir novas células, preservar meus tecidos, guardar energia” – o mesmo que você faz, ou deveria fazer, quando está com dinheiro sobrando na conta. O anabolismo pode ser compreendido, então, como uma forma de produzir reservas e denominamos de metabolismo construtivo. 

    Por outro lado, quando fazemos aquele jejum prolongado ou quando iniciamos um exercício físico muito intenso e/ou prolongado, nosso corpo “pensa” de um modo catabólico: “preciso de energia para andar, correr, pensar, manter a temperatura corporal e o coração batendo. Já sei! Vou pegar aquela reserva que construí há alguns dias atrás, não é hora de guardar nada no momento. De onde posso extrair essa energia? Vou pegar aquela glicose que deixei guardada no fígado, ou a proteína do meu músculo, ou mesmo aquela gordura que ficou acumulada do churrasco de final de semana”. Usando tudo isso, assim como você quando precisa retirar o seu dinheiro suado da conta bancária, o organismo consegue produzir a moeda da energia, o ATP (a molécula de Adenosina Trifosfato) . Desse modo, o catabolismo pode ser entendido como “gastar as reservas” e chamamos de metabolismo oxidativo ou degradativo. 

    Calma, respira! É muito conceito novo mesmo, eles vão retornar nos próximos parágrafos. Enquanto isso, que tal ir fazer uma boa refeição antes de continuar? Seja com ovo, farofa e torresmo, ou até mesmo caviar, esse cérebro aí já utilizou muita energia, não?  Hora de guardar novos estoques, metabolismo anabólico que chama, certo? 

 

Hora de gastar

    Até agora vimos que, quando consumimos alimentos, nosso corpo pode armazenar uma parte de recursos energéticos (anabolismo) ou usar esses recursos para produzir energia no momento (catabolismo). Também, que a energia é produzida na forma de ATP (a nossa moeda energética). Como as diferentes atividades físicas utilizam-se dessas formas de metabolismo? 

    Ao se exercitar, você pode fazer atividades de baixa intensidade e longa duração (uma corrida leve de uma hora) ou de alta intensidade e curta duração (levantar peso repetidamente por um minuto). Nosso corpo entende e se comporta de forma diferente nessas situações. Lembra do ATP, a nossa moeda de energia? Em geral temos muito pouco ATP guardado. Na verdade, temos substratos acumulados que podem ser metabolizados e produzir essa “moeda” de energia.

    Se fizermos um exercício leve, nosso corpo tem mais tempo para realizar o consumo de alimentos que temos guardado. Então ele usa carboidratos e gorduras e “queima” eles por meio da reação com o oxigênio que respiramos. Resumindo: ingerimos alimento, puxamos aquele ar, nosso corpo combina esses elementos e produz energia para continuarmos na caminhada. Como usamos o oxigênio, esse processo é chamado de metabolismo aeróbio (que usa oxigênio).

    Entretanto, se o exercício é muito rápido e intenso, o corpo precisa de muita energia em um período de tempo pequeno. Não dá muito tempo para fazer a reação das gorduras com oxigênio. Então nosso corpo pega um atalho e faz um processo que não utiliza oxigênio, chamado de metabolismo anaeróbio e que, em geral, utiliza somente os carboidratos que são moléculas menores e mais fáceis de quebrar. Obviamente, como essa é uma rota alternativa, não conseguimos mantê-la durante muito tempo. Sabe aquela dorzinha na parte lateral da barriga depois de um esforço intenso, é o seu corpo te avisando “é melhor você parar!!!!” 

    Isso significa que, no início de um exercício físico, quando os músculos precisam de energia para ação, por exemplo, na musculação, apenas os primeiros segundos (3-5) são supridos pelo ATP já pronto ali no músculo. Se o exercício é leve usamos o metabolismo aeróbio e, com exercícios intensos, o metabolismo anaeróbio.

 

Dieta, metabolismo e exercícios 

    Falamos um pouquinho de dietas no texto passado (aqui) e neste texto tentamos entender um pouco mais do metabolismo e da relação com os exercícios. Podemos pensar então que, dependendo do que você quer com os exercícios, combiná-los com algum tipo de alimentação é importante para alcançar os resultados. 

    Se você deseja queimar as gordurinhas, somente a prática de exercícios de intensidade não será a mais adequada. “Queimar” significa, aqui, se livrar dos lipídios (óleos e gorduras) que ficam estocados em vários lugares do nosso corpo aguardando que o metabolismo catabólico utilize-os como fonte para gerar energia. Os tipos de exercícios que mais mobilizam lipídios para a geração de energia são os que ultrapassam 30 minutos e duram até algumas horas e aqueles com intensidade baixa ou moderada.

    Do mesmo modo, se você deseja competir em uma maratona ou em uma prova de 100 metros, o tipo de alimento que precisa consumir é fundamental para garantir seu rendimento. Daí a importância de ter um acompanhamento de um especialista durante a prática das atividades físicas. 

    Mas e aquele lance de ter o metabolismo mais acelerado ou mais lento, como funciona? Hum, esse é o assunto do próximo texto. Fique ligado e continue falando sobre ciência. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASIL T. DARRAS, Energy metabolism in muscle, 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/energy-metabolism-in-muscle?search=metabolismo&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1

DAVID M. SYSTROM, Exercise physiology, 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/exercise-physiology?search=metabolismo&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2

DE FREITAS, E. C.; NOBREGA, M. P.; TRONCOM, F. R.; FRANCO, G. S. METABOLISMO LIPÍDICO DURANTE O EXERCÍCIO FÍSICO: MOBILIZAÇÃO DO ÁCIDO GRAXO. Pensar a Prática, Goiânia, v. 15, n. 3, 2012. DOI: 10.5216/rpp.v15i3.15698. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fef/article/view/15698. Acesso em: 1 nov. 2022.

KEYS, ANCEL, JOSEF BROŽEK, AUSTIN HENSCHEL, OLAF MICKELSEN, HENRY LONGSTREET TAYLOR, Ernst Simonson, Angie Sturgeon Skinner, et al. The Biology of Human Starvation: Volume II. NED-New edition. University of Minnesota Press, 1950. http://www.jstor.org/stable/10.5749/j.cttttqzj.

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