Feminicídio e seus impactos na Saúde Pública

Mónica Caicedo Roa é colombiana e recém-egressa do Doutorado em Saúde Coletiva da FCM. Seu interesse por estudar os feminicídos partiu de estudos sobre gênero e violência contra as mulheres realizados no grupo de pesquisa em violência do Prof. Dr. Ricardo Carlos Cordeiro.

Segundo a pesquisadora, os feminicídios são tema de extrema importância para a saúde pública, para a família, para o sistema jurídico e para a sociedade como um todo: causam um terrível impacto nas famílias, nas comunidades e, principalmente, no cuidado dos filhos das mulheres vítimas dessa violência,pelo papel central delas nas atividades de cuidado. Feminicídios são crimes hediondos contra a vida que não fazem distinção de classes social, raça, etnia ou escolaridade. É sintomático do quanto estamos atrasados enquanto sociedade perante a garantia de direitos básicos para as mulheres. Na sua grande maioria, os feminicídios são decorrentes de atitudes de controle e ódio por parte de parceiros, os quais matam as mulheres quando elas não atendem aos padrões de comportamento que eles esperam, como no caso de término do relacionamento por parte da mulher, por exemplo. São muitas as classes de violências feminicidas a que as mulheres estão expostas, seja individual ou coletivamente. A realidade é que, mesmo existindo leis específicas de proteção, como a conhecida Lei Maria da Penha, as estratégias de proteção às mulheres ainda são insuficientes e bastante precárias.

Durante a pesquisa, Mónica teve a oportunidade de utilizar o método de autópsias verbais com os familiares, amigos e conhecidos das mulheres vítimas de feminicídio. A autópsia verbal é um método para a coleta, codificação e sistematização de informações de mortalidade em estudos epidemiológicos e de vigilância em saúde pública . O objetivo dela é complementar as informações e ampliar o entendimento das características das mortes por feminicídio. Por meio das entrevistas, foi possível conhecer as histórias de vida e morte das mulheres vítimas e, juntamente com a consulta aos arquivos de autópsia clínica, pôde esclarecer fatos sobre as lesões que ocasionaram os falecimentos. A pesquisa, realizada em Campinas, contou com um grupo controle na cidade que permitiu estimar os locais de maior risco às mulheres, utilizando modelo de análise espacial e gerando mapas de risco. Dentre os achados da sua pesquisa, Mónica pondera que feminicídios são um problema social e que as intervenções devem estar voltadas para a prevenção dos crimes e para a proteção das mulheres, bem como para as formas de evitar comportamentos violentos por parte dos homens, o que somente será possível mediante uma mudança social real.

Para o futuro da pesquisa em violência contra a mulher, Mónica considera importante fortalecer grupos interdisciplinares de trabalho e estudos de gênero em saúde, a fim de desenhar pesquisas e propor intervenções direcionadas à comunidade, que permitam a transferência do conhecimento e o maior impacto da pesquisa na sociedade.

Ouça mais sobre a pesquisa acessando ao lado os dois podcasts produzidos pela pesquisadora

Devido a sua relevância, a tese de Mónica Caicedo foi selecionada pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva e premiada no Prêmio Tese Destaque da Unicamp.

A equipe do blog parabeniza aluna e orientador!

Referências:

Analysis of femicide cases in Campinas, SP, Brazil, from 2018 to 2019 through the
ecological model of violence. Ciência & Saúde Coletiva, 28(1), 23-36.Epub January 06, 2023.

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