Musicoterapia na demência

Você conhece a Musicoterapia? Trata-se de um campo do conhecimento que estuda os efeitos das experiências musicais a partir de um planejamento terapêutico individual. Sua prática tem como objetivo favorecer os potenciais em saúde nos âmbitos da promoção, prevenção, reabilitação e no contexto social comunitário. Sua aplicação pode acontecer por meio da composição musical, do tocar instrumentos, do cantar, do movimento corporal ou de mesmo de forma receptiva, quando o terapeuta toca ou utiliza gravações musicais para o paciente. Diferentes estudos já indicaram benefícios da musicoterapia para pessoas com demência, autistas, pacientes em tratamento de saúde mental dentro do contexto hospitalar, etc. Nesse sentido, as técnicas da musicoterapia podem ser aplicadas para atingir diferentes objetivos, como o de facilitar a expressão de sentimentos, a interação social, a comunicação, estimular a memória e habilidades cognitivas, a reabilitação de fala e do movimento, favorecer as relações familiares, entre outros.

No contexto específico das demências, a musicoterapia pode ser aplicada de diferentes formas e, em geral, seus benefícios incluem a diminuição de sintomas como agitação, depressão, ansiedade, apatia ou irritabilidade. Na doença de Alzheimer – que é crônica e neurodegenerativa – por exemplo, as ntervenções podem retardar o avanço do declínio das habilidades, estimulando as funções que ainda estão preservadas. Por se tratar de uma doença neurodegenerativa, não é possível confirmar benefícios para a memória, mas a qualidade de vida dos idosos pode ser muito favorecida. Sabe-se que a memória musical permanece consideravelmente preservada mesmo nos estágios mais avançados doença de Alzheimer, com isso, podemos utilizar as canções da preferência do paciente para acessar memórias autobiográficas, ajudando a resgatar a identidade do sujeito.

Em nossa pesquisa de doutorado, buscamos os achados recentes de pesquisas que aplicaram musicoterapia e outras intervenções com música em idosos com demência e verificamos que os estudos foram realizados em diferentes países, concentrando-se mais na Europa e Estados Unidos. De foram geral, os estudos indicaram melhoras na expressão emocional, na criatividade e na comunicação, alívio do estresse, redução no uso de medicamentos psicotrópicos, melhora nas dores e redução da ocorrência de queda, melhora na qualidade do sono e na participação social.

Neste momento, a pesquisa pretende avaliar o impacto de sessões grupais de musicoterapia na qualidade de vida e no bem-estar de idosos da comunidade de Campinas. Contudo, sabe-se que não há consenso na literatura acadêmica sobre o que caracterizaria aquilo que chamamos de “envelhecimento bem-sucedido”, uma vez que a subjetividade é um fator preponderante nessa questão. Isso em vista, entrevistaremos idosos a fim de buscar entender os benefícios da musicoterapia por meio da perspectiva individual dos participantes, relacionando temas como o processo de envelhecimento, a velhice, a comunidade, a família, relações amorosas, entre outros.

Atualmente, o número de musicoterapeutas pesquisadores e de pesquisas quantitativas e qualitativas na área têm crescido no Brasil. O cenário desse campo de estudo no Brasil é bastante diverso e, com isso, as pesquisas têm abordado temas inovadores, como as relações sociofamiliares dos pacientes, luto, processos de decolonização, empoderamento, de temática LGBTQIA+, racismo, entre outras pautas relevantes e atuais. Acreditamos que ainda há muito a ser explorado pela Musicoterapia dentro do contexto da pesquisa em Saúde e que, com pesquisa de qualidade e rigor metodológico, essa prática poderá contribuir cada vez mais para a saúde e bem-estar da população.

Quem escreveu aqui?

Me. Mauro Pereira Amoroso Anastácio Junior atualmente é aluno do Doutorado no Programa de Pós-graduação em Gerontologia da FCM/Unicamp, sob orientação da Profa. Dra. Olga Rodrigues de Moraes von Simson. Aos 14 anos, Ingressou no curso técnico em piano erudito do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí-SP. Graduou-se em Música pelo Instituto de Artes da Unicamp (2008) e em Musicoterapia pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (2014). Após iniciar o atendimento à idosos com demência em Instituições de longa permanência, ingressou no Mestrado do Programa de Gerontologia da Universidade de São Paulo (2019), onde pesquisou o efeito da Musicoterapia na qualidade das relações sociofamiliares de casais formados por um idoso com doença de Alzheimer e seu cuidador.

Sobre Pós-graduação FCM/Unicamp
Os programas de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas têm o objetivo de propiciar a formação de professores pesquisadores de alto nível nas diversas áreas do conhecimento da saúde. A busca persistente de excelência acadêmica e o compromisso com a atividade de pesquisa constituem o substrato básico que norteia a todos os Programas.

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