Pesquisa de Implementação em Saúde

Profa. Dra. Rosana Teresa Onocko Campos (Foto: Yuri Lima)

Dispositivos de integração da rede de saúde mental no município de Itatiba/SP

Você já ouviu falar em Pesquisa de Implementação? Sabe qual é sua aplicação e finalidade?

Nosso blog entrevistou a Profa. Dra. Rosana Teresa Onocko Campos que é professora no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva e também no Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva: Políticas e Gestão em Saúde, além de coordenadora do grupo de pesquisa “Saúde Mental e Saúde Coletiva: Interfaces” e chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas. Nessa conversa, a Profa Rosana nos contou um pouco do que se tem feito no seu grupo a respeito das pesquisas de implementação e mais especificamente sobre o projeto que está sendo realizado no município de Itatiba/SP.

Mas, afinal, o que é uma Pesquisa de Implementação?

“É uma abordagem científica específica que avalia a eficácia da incorporação de intervenções e políticas baseadas em evidências na rotina do sistema de saúde” – explica a Profa. Rosana. Trata-se de “uma ferramenta de extrema importância porque insere na prática algo que já tem evidência científica e coloca para funcionar”, avaliando, então, os resultados da aplicação da descoberta e a sua aplicabilidade ou não. Esse tipo de pesquisa, que visa diminuir consideravelmente o tempo médio entre a descoberta científica e prática clínica –  que hoje é de 17 anos* – vem sendo bastante estimulada pelas agências de fomento nacionais e internacionais, complementa.

Dessa forma, a pesquisa de implementação trabalha com algo que já tem evidência de eficácia e se propõe a estudar as condições dessa implementação, testando e adaptando às descobertas científicas à nossa realidade. E, num panorama ainda mais amplo, busca avaliar se a ferramenta deu ou não certo, sobretudo quanto à sua manutenção no decorrer do tempo, ou seja, não basta apenas estudar a implementação, mas também a sua sustentabilidade.

A pesquisa de implementação realizada na rede de saúde do município de Itatiba/SP é resultado de um projeto apoiado pela FAPESP para integrar as redes de atenção básica e de saúde mental no município, buscando preparar os profissionais da atenção primária para um oferecer um melhor cuidado aos pacientes da saúde mental, permitindo que sejam avaliados de modo integral em seu estado de saúde, ou seja, corpo e mente considerados em conjunto.

O que se viu na fase inicial da pesquisa é que somente 40% das pessoas que tinham problemas mentais e que estavam sendo atendidas nos CAPS eram conhecidas pela atenção primária. Para um atendimento integral de saúde, o ideal seria que esse número fosse de 100%. Para melhorar esse índice, como parte do projeto, os pesquisadores realizaram a implementação do projeto “Dispositivos de Integração de Rede”, com Educação Permanente e treinamento dos profissionais envolvidos. Importante destacar que parte desse trabalho aconteceu em meio à pandemia de Covid-19, ou seja, muitas dessas atividades tiveram de ser realizadas à distância e, mesmo com esse desafio, o projeto mostrou resultados positivos importantes.

Nesse sentido, a Professora Rosana ressalta a vital importância das Pesquisas de implementação sobretudo para o campo das Políticas Públicas, uma vez que “cumprem com a responsabilidade de devolver em melhorias à sociedade o dinheiro público investido”.

Ainda no escopo desse projeto, a Profa Rosana destaca o trabalho do aluno do Mestrado Profissional Kaleb Eliel Ferreira Leme, que produziu um PodCast chamado “O cuidado em Saúde Mental para Agentes Comunitários de Saúde”. O que tem intuito de combater o preconceito e o estigma relacionado aos problemas de saúde mental.

Kaleb Eliel Ferreira Leme – foto de arquivo pessoal

Atualmente, o grupo de pesquisa “Saúde Mental e Saúde Coletiva: Interfaces” já está em seu terceiro projeto de pesquisa de implementação, intitulado Pear Suport – ou suporte por pares, em Português. Trata-se de um projeto piloto copiado do modelo já existente nos EUA, que consiste, grosso modo, em formar duplas de pacientes com problemas de saúde mental, sendo um deles com o tratamento já mais adiantado e capaz de auxiliar o outro, ainda com problemas latentes, de forma que, em duplas e apoiando-se mutuamente, possam, na prática, alcançar uma maior adesão ao tratamento, buscando evitar o abandono do acompanhamento do sistema de saúde. Essa pesquisa está em fase inicial e tem se mostrado tanto promissora quanto desafiadora, no sentido que depende de muitas adaptações à nossa realidade sociocultural e econômica.

Iniciativas de projetos como esses trazem fortalecimento, agilidade e eficiência dos serviços prestados pelo SUS com olhar mais empático para a sociedade.

E você, já pensou que a Pesquisa de Implementação pode ser o seu campo de atuação? Pense sobre isso e deixe aqui seu comentário, queremos saber o que você achou!

Até a próxima!

Equipe do Blog Saúde, pesquisa e desenvolvimento

 

Referências

Revista – Fapesp – “Via rápida entre a pesquisa e a sociedade”.
A. Balas, S. A. Boren (2000) * “Managing clinical knowledge for health care improvement”.

 

Profa . Dra. Rosana Teresa Onocko Campos é médica e docente da FCM/Unicamp. Já coordenou o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva e a Comissão de Pós-graduação da FCM/Unicamp entre 2014-2018. Psicanalista. Atualmente é Visiting Professor no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Yale (2018-19). Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase nos seguintes temas: saúde coletiva, gestão e subjetividade, saúde mental, planejamento em saúde e políticas públicas, avaliação de políticas e serviços. Foi assessora da Política Nacional de Humanização e da Coordenação Nacional de Saúde Mental/MS. Participa ativamente da formação de médicos e é Coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental e Coletiva. Coordena o grupo de pesquisa Saúde Coletiva e saúde mental: Interfaces desde 2003.

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Este texto foi produzido pela equipe de redação do blog “Saude: pesquisa e desenvolvimento”, com revisão e autorização do entrevistado.

Sobre Pós-graduação FCM/Unicamp
Os programas de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas têm o objetivo de propiciar a formação de professores pesquisadores de alto nível nas diversas áreas do conhecimento da saúde. A busca persistente de excelência acadêmica e o compromisso com a atividade de pesquisa constituem o substrato básico que norteia a todos os Programas.

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