Artigo publicado na última edição da revista científica Química Nova relata o impacto ambiental dos microplásticos, responsáveis pela poluição por meio da degradação de resíduos plásticos que chegam no oceano e rios, ou micropartículas com menos de cinco milímetros (<5mm) usadas na indústria cosmética e que não se dissolvem na água, e são prejudiciais ao oceano e à vida aquática. Os autores enfatizam a importância de entendermos os impactos para mitigar seus efeitos no ambiente, o que exige mudança no consumo.
Segundo os autores do artigo de Eduardo Ferreira Molina, da Universidade de Franca, e equipe, microplásticos podem ser designados como primários – partículas que são intencionalmente desenvolvidas como partículas de plástico de tamanho micro usado em formulações cosméticas como microesferas ou secundários – detritos de materiais plásticos que sofrem decomposição causada pela radiação de raios ultra-violeta (UV) estresse mecânico (ondas oceânicas) e ação do vento.
O artigo dá uma visão geral sobre plásticos e microplásticos, que são usados principalmente em produtos de higiene pessoal e cosméticos, como esmaltes, maquiagens e produtos com brilho (glitter). Além disso, os pesquisadores demonstraram alguns dos principais problemas que os materiais à base de microplásticos podem causar na vida aquática, levando a um problema de saúde humana, através de uma revisão da literatura.
Um oceano de microplásticos
O plástico é o tipo de resíduo mais comum encontrado no oceano. Segundo pesquisa feita pela organização não governamental World Wide Fund for Nature em 2019, o volume desse resíduo encontrado anualmente no oceano é de 10 milhões de toneladas. O Brasil é o 4º maior produtor de plástico no mundo, produzindo em média 11 milhões de toneladas por ano.
Esse problema ambiental, no qual afeta todo o ecossistema marinho e organismos aquáticos, vêm atraindo a atenção de pesquisadores e instituições ambientais na última década. Esse “monstro real”, produzido em larga escala e lançado nos ambientes aquáticos, conhecido como microplástico, vêm se tornado um campo emergente de estudo nas indústrias, universidades e centros de pesquisa.
Os autores do artigo concluem que a alta produção global de plásticos associado ao manejo inadequado desses resíduos é o principal fator que influencia a contaminação do ambiente por microplásticos. A chamada bioacumulação, representa um risco potencial para a saúde humana, como mostrou um estudo da Universidade de São Paulo em 2021 que identificou a presença de fibras de micropartículas plásticas em tecido de pulmão humano.
Faltam pesquisas sobre os impactos ambientais de microfragmentos plásticos em ambientes terrestres e até mesmo no ecossistema aquático de água doce. De acordo com o Atlas Esgotos do Brasil, cerca de 45% dos lares brasileiros não possuem coleta de esgoto e, portanto, os despejos são lançados sem tratamento prévio nos corpos aquáticos, gerando a contaminação de diversos organismos em diferentes níveis da cadeia alimentar. Microesferas incorporadas em formulações de produtos de cuidados pessoais e cosméticos constituídos por polietileno e polipropileno merecem atenção e cuidado, enfatizam os cientistas. “Esses materiais podem ser substituídos por esferas de origem natural, como sementes ou cascas mais resistentes. Porém, necessitam de muita atenção e novos estudos para que se possa descrever melhor suas interações e transportes de contaminantes tóxicos no sistema aquático”, alertam os pesquisadores.
Leia o artigo completo em:
Julia Gabriela Matos Vargas, Vinicius Bueno da Silva, Lílian Karla de Oliveira e Eduardo Ferreira Molina. Microplásticos: uso na indústria cosmética e impactos no ambiente aquático. Quim. Nova, 45(6): 705-711, 2022.
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