As estrelas estavam alinhadas a seu favor  para cruzar o Estreito da Flórida. A corrente do Golfo foi “minha amiga”, disse Diana Nyad, “desta vez tive sorte”. Nyad aos 64 anos se tornou a primeira pessoa a cruzar a nado os 166 km entre Cuba e Flórida sem uma jaula protetora contra tubarões. Em 2023, sua façanha foi adaptada em um live-action de tirar o fôlego que teve seu roteiro baseado na autobiografia de Nyad, “Find a Way”.

O filme narra a saga desta nadadora destemida em duas horas de cenas emocionantes, que mostram a incansável e resistente Diana Nyad, um esforço sobrehumano. Ultrapassar limites, colocar sua vida a todo o tipo de risco que o oceano abarca, de vespas do mar, caravelas portuguesas e tubarões, até correntes marinhas e tempestades em alto mar para superar condições extremas para o corpo humano, por impensáveis 52 horas de travessia.

Mas Nyad, de tanta persistência, preparou seu corpo para as adversidades do mar em um processo de aclimatação e para além dele, um preparo mental que levou trinta anos. Para marcar a passagem do tempo, a super atleta decorou uma playlist com mais de 85 canções, tendo o guitarrista canadense Neil Young como seu preferido e a frase da poeta estadunidense Mary Oliver como inspiração para sua persistência: “Me diga, o que você está planejando fazer com esta sua vida preciosa e selvagem?”.

A força do oceano, a força humana 

Toda a tensão dramática deste filme se passa no oceano em contato íntimo com a água, de tal forma que se pode experimentar o barulho das ondas e até o sabor salgado das águas. A fotografia do filme também impressiona por representar cenas em larga escala mostrando o ambiente marinho com sua profundidade e vastidão e ao mesmo tempo que mostra o íntimo da protagonista trazendo o espectador para perto da luta travada entre Nyad e o mar.

Nyad está cotado para o Oscar 2024 pelas interpretações de Annette Bening e Jodie Foster – Imagem: Netflix

O oceano é colocado em um lugar simbólico por onde mergulhamos junto com Nyad em seu destemido destino dual, por um lado desconhecido e perigoso, entendendo que o oceano não é apenas um local onde se faz uma travessia. Mas uma grande massa de água viva pulsante, que precisa ser respeitada e compreendida, pois pertence aos seres marinhos que ali habitam e que podem ser mortais para seres humanos. E por outro lado, conhecido e previsível, através dos conhecimentos que Nyad obteve enquanto nadadora e a expertise e persistência dos membros de sua equipe, sem a qual o feito seria impossível.

São muitas as mensagens que podemos filtrar dessa longa travessia de Diana Nyad que deixaram certamente muitos espectadores emocionados pela forma como a atleta encara sua vida e seus sonhos. O filme traz os desafios da idade que podem ser superados com uma boa dose de determinação e uma rede de apoio, os conhecimentos e a tecnologia que permitem superar as difíceis condições marítimas e marinhas. 

A cena de chegada de Nyad retrata o momento mais esperado do filme ao revelar que até em uma situação de extremo esgotamento físico, a nadadora encontra forças para seu discurso de vitória. Diana segue surpreendendo fora das telas, com palestras motivacionais e em um outro esporte, o tênis, com o qual conquistou em janeiro deste ano, com sua treinadora e amiga Bonnie, a taça Los Angeles Tennis Club over 65 Silver Fox.

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Juliana Di Beo

sou bióloga pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista Mídia-Ciência Fapesp pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Atuo com comunicação científica para fortalecer a cultura oceânica e o acesso aberto ao conhecimento na Rede Ressoa Oceano.

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