Por Denis Camico

Outubro se veste de azul. É tempo de estender o olhar ao horizonte marítimo e perceber que o oceano não é apenas uma imensidão de águas, mas o coração pulsante do planeta. Este mês começou com o lançamento oficial da Conferência da Década dos Oceanos da Unesco, que será sediada no Rio de Janeiro em 2027, marcando o início de uma série de ações e mobilizações voltadas à cultura oceânica.

E, hoje, começa a programação com a 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia que, neste ano, convida todo o Brasil a mergulhar no tema “Planeta Água: cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”, reunindo escolas, universidades e centros de pesquisa em atividades por todo o país. Dentro da mesma Semana, de 22 a 26 de outubro, o Museu do Amanhã recebe a Rio Ocean Week, uma semana repleta de palestras, oficinas e encontros entre artistas, cientistas e comunidades que compartilham um mesmo propósito: pensar o oceano como parte essencial da vida e do futuro da Terra.

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia é o maior evento de divulgação científica do país,  e neste ano, pela primeira vez, desde 2004, envolve escolas, universidades, museus, centros de pesquisa e comunidades em torno de uma mesma corrente: reconhecer o papel vital do oceano e fortalecer uma consciência coletiva sobre sua preservação. O chamado é para que cada pessoa, mesmo longe do litoral, entenda que o mar está presente em tudo, no ar que respiramos, no clima que regula as estações, na comida que chega à mesa e até nas histórias que moldam a nossa identidade. Neste ano, o evento conta com 164 municípios com atividades cadastradas para um público estimado em cerca de 400 mil. Para acompanhar as atividades da sua cidade e se inscrever nos eventos, basta acessar o site

Semana do Mar no Rio de Janeiro

E, nesse mesmo espírito de conscientização, o Rio Ocean Week, surge como uma grande maré de ideias, emoções e encontros, um espaço onde ciência, arte, cultura e educação se encontram para pensar o futuro do oceano e, com ele, o futuro da vida no planeta.

Durante a semana, o evento reúne pesquisadores, ativistas e artistas em debates “Ideias Azuis” sobre economia azul, conservação, poluição e cultura oceânica, com nomes como Alexander Turra (USP), Nathalie Gil (Sea Shepherd), Lorena Froz, Patrícia Marroig (Coppe/UFRJ), Leana Bernardi (Bandeira Azul) e Marcelo Szpilman (AquaRio). Enquanto o projeto Gente do Mar reúne surfistas, mergulhadores, pescadores e cientistas, entre eles Marcelo Bibita, Adeimantus Carlos da Silva e Leana Bernardi.

Além das palestras, há atividades que e espalham por espaços como o Cais do Porto, com exposições e projetos de pesquisa, a Arena, com oficinas e aulas abertas, e ações voltadas a crianças e jovens, que aprendem sobre o mar por meio da arte e da experimentação. E o público também poderá visitar navios oceanográficos e participar do espaço Mar de Livros, com lançamentos e bate-papos sobre cultura oceânica

Um dos pontos altos da programação será o Festival de Cinema, que exibe documentários sobre o oceano seguidos de debates com especialistas em oceanografia e biologia marinha. Entre os destaques estão “Amazônia Azul”, que aborda a importância estratégica e ambiental das águas brasileiras; “Sinfonia dos Cavalos Marinhos”, do Projeto Cavalos Marinhos, que revela a beleza e a fragilidade desses animais; e “Drops of Hope (Gotas de Esperança)”, do projeto Ocean Uprise, que propõe um olhar sensível sobre as ações de conservação marinha. 

Eventos em outubro aproximam o público do oceano por meio da ciência, da arte e da educação, fortalecendo a cultura oceânica no Brasil. Crédito: Vitor Oliveira – Wikimedia Commons.
Brasil a nação do oceano em 2027

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, participou do lançamento no Brasil da Conferência da Década dos Oceanos de 2027, evento que reuniu representantes do governo, da Unesco, da prefeitura do Rio e de diversos setores da sociedade. Também estiveram presentes a primeira-dama e enviada especial para a COP 30, Janja Lula da Silva, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o prefeito em exercício do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere.

“Ao colocar o oceano no centro do desenvolvimento educacional brasileiro, o Brasil reafirma seu compromisso com um futuro sustentável, ao mesmo tempo que reconhece o oceano como regulador do clima, fonte de vida, motor de inovação tecnológica e elemento estratégico para o desenvolvimento econômico e social”, afirmou a ministra.  Enquanto a primeira-dama ressaltou o protagonismo das mulheres na agenda climática e o prefeito Eduardo Cavaliere reafirmou o compromisso da cidade em ser referência em sustentabilidade oceânica. 

O lançamento da Conferência reforça a Década dos Oceanos como oportunidade estratégica para fortalecer políticas públicas, a cooperação internacional e ações voltadas à proteção e desenvolvimento sustentável dos oceanos, destacando o Brasil como protagonista na agenda global de proteção marinha e desenvolvimento sustentável.

Num mundo onde o oceano sofre com a poluição, o aquecimento e a exploração excessiva, esse mês de outubro nos lembra que proteger o mar é proteger a nós mesmos. Cuidar do oceano é cuidar da vida. Programe-se.


Germana Barata

Jornalista de ciência, mestre e doutora em história social. É pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri) da Unicamp e editora dos blogs Ciência em Revista e Um Oceano.

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