Você sabia que o Brasil possui um acelerador de partículas, o único da América Latina e o primeiro do Hemisfério Sul na sua categoria? Não se trata de um colisor de partículas, tal como o grande LHC. Isso significa que ninguém irá redescobrir o Bóson de Higgs nessa máquina, muito menos será capaz de criar um Buraco Negro com ela.  Basicamente, esses grandes colisores, como o LHC, aceleram (e colidem!) cargas elétricas sob altíssimas energias, avaliando os estilhaços desse golpe. É como uma criança que arrebenta objetos da casa uns contra os outros, pela simples curiosidade de saber o que tem dentro (quem nunca quis quebrar a tela do televisor quando criança?). O acelerador de partículas brasileiro é uma fonte de Luz Síncrotron, uma máquina destinada a gerar um tipo de radiação de amplo espectro eletromagnético, utilizada, sobretudo, para investigar a matéria em nível molecular.  De maneira bastante simplificada, essa radiação é criada quando cargas elétricas relativísticas, isto é, próximas da velocidade da luz, são defletidas de sua trajetória, normalmente por uma força de origem magnética. Quando ocorre essa deflexão, a carga elétrica perde energia através dessa luz, que é emitida na direção tangencial à trajetória. Nada de fortes colisões por aqui.

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Geração de Luz Síncrotron. Fonte: http://www.nsrrc.org.tw/english/lightsource.aspx

Desde 1997, a ciência brasileira tem acesso à tecnologia de Luz Síncrotron, com a inauguração do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado na cidade de Campinas, SP. O LNLS encontra-se dentro das instalações do CNPEM, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, que também integra outros três laboratórios nacionais de pesquisa: o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).

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Campus do CNPEM (Outubro/2015). Fonte: Divulgação CNPEM/LNLS.
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Fonte de Luz Síncrotron UVX. A mesma observada na foto de capa deste blog. Divulgação CNPEM/LNLS (imagem Julio Fujikawa).

O LNLS opera o UVX (sigla que representa “do ultravioleta ao raio-X”), uma fonte de Luz Síncrotron com quase 30 metros de diâmetro e com 18 estações experimentais. Somente em 2013, o laboratório realizou cerca de 400 projetos, beneficiando aproximadamente 1200 pesquisadores. Apesar de ser um marco para a ciência brasileira, o atual síncrotron já não é mais capaz de atender a demanda da comunidade de pesquisadores, uma vez que uma série de experimentos mais avançados já não é possível. “Mas Johann!” – você poderia indagar – “Essa pequenina obra que observo na parte superior da imagem acima tem alguma coisa a ver com essa questão?”. Sim!

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Projeto arquitetônico da fonte Sirius. Fonte: Divulgação CNPEM/LNLS.

Para manter a competitividade da ciência e tecnologia brasileiras, em 2008 o LNLS iniciou o projeto e a construção da nova fonte de Luz Síncrotron brasileira, que será construída no mesmo campus do CNPEM. Trata-se de um projeto pioneiro, que está sendo idealizado pela mesma equipe responsável pelo UVX. Sirius, como foi nomeada a nova fonte, está sendo desenhada como uma das fontes mais modernas do mundo na tecnologia de geração de luz síncrotron. Seu nome faz referência à estrela mais brilhante no céu noturno, localizada na constelação de Canis Major. O projeto foi aprovado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, e está orçado em R$ 1,3 bilhões, com previsão de que o primeiro feixe de luz seja emitido em 2018. Para mais informações, clique aqui.

“Aceleradores de Partículas Brasileiros” – outra possibilidade para o título deste post.