Pensei em algo para escrever sobre cultura universitária na fila do famoso “bandejão” (restaurante universitário), na Unicamp: “Por que não escrever sobre o este lugar? Existe um lugar mais cultural que esse?”. Fiquei tentando calcular quantos alunos se encontravam na fila e viajei numa matemática louca… logo desisti de contar, pois a fila não tinha fim, a cada segundo alguém ocupava um espaço rumo ao almoço, às doze horas.
Nesse dia, um grupo de alunos estava reivindicando a reintegração de um colega de classe que foi expulso pela universidade porque havia concluído o ensino médio através da prova do Enem. Foi muito interessante a forma como se organizavam, e fiquei por muito tempo fitando-os. À medida que um dos alunos se disponibilizava a falar, o outro abordava pessoas na fila, explicando exatamente o motivo do evento.
Duas meninas, que estavam próximas a mim, foram abordadas na fila por esse garoto, mas na verdade não consegui prestar atenção no que o garoto falava, pois os cabelos de uma delas roubou minha atenção. Estava preso ao alto e era muito claro, dava pra ver que aquela menina descoloriu os cabelos, pois a raiz já estava querendo crescer, e do lado dessa moça, havia uma outra menina que tinha os cabelos azuis. Percebi o quanto era diversificado aquele lugar. E a partir de então, além de observar também comecei a escutar.
Sons estranhos aos ouvidos, pessoas falavam espanhol, um português com sotaque estrangeiro, inglês… Me dei conta que estava no coração da cultura universitária. A maioria eram alunos da graduação….Cheios de esperança, de vida, de vontade de fazer política, vontade de mudar o mundo, enfim, cheios de boa vontade. Isso tudo na fila do “bandejão”.
Ao entrar no Restaurante Universitário, a fila continua. Ela anda rápido. As copeiras ligeiras, servem a comida; imagino quantos “obrigados” elas ouvem em um dia e agora, imaginem “obrigados” em diversas línguas. Ao sentar para almoçar, fiquei prestando a atenção no que falavam durante o almoço.
Do meu lado direito tinha uma galerinha falando alto, acredito que era do mesmo período da graduação e eram calouros, pois estavam muito empolgados. Falavam que precisavam estudar mais, mas que os barzinhos de Barão eram tentadores e que as calouradas eram muitos boas. Do meu lado esquerdo, dois homens africanos que falavam um português com um sotaque forte, conversavam sobre projetos. Logo, percebi que eram pós-graduandos. Pareciam que estavam muito satisfeitos com a Universidade, uma frase não me sai da cabeça: “Já esqueci como é morar na Angola”. Fiquei um tempo pensando no que aquele homem havia dito e não consegui concluir nada. Em direção a saída, notei também a organização das copeiras e parei para ler uma placa que mostrava a forma correta de colocar o prato sujo na esteira e em seguida, saí. Lá fora a cultura transbordava. Nesse dia, um garoto estava segurando um rádio que tocava funk e as meninas distribuíam folhetos de festas, bailes de máscaras, cursos de língua estrangeira, entre outros.
Enquanto eu caminhava em direção ao ponto do ônibus circular, fiquei observando um outro grupo de pessoas dançando forró próximo à Diretoria Acadêmica, e fiquei pensando em tudo o que eu havia observado, no que havia aprendido e fiquei feliz por estudar na Unicamp. Fiquei feliz por ter a oportunidade de almoçar todos os dias no restaurante universitário, pois todos os dias posso viajar por vários lugares e conhecer culturas diversas, sendo necessário somente ir almoçar às doze horas no “bandejão”. Simples, fácil e custa pouco!