No artigo anterior eu tratei do determinismo e da sua incompletude, tanto científica quanto artística, e assim também musical. Apesar de Einstein ter sido ferrenhamente determinista (como ele mesmo se intitulava, mencionado no artigo anterior), onde acreditava que tudo pode ser completamente explicado por uma equação matemática formal (determinística, ou seja, não probabilística), é também atribuída a ele a seguinte frase: “Imagination is more important than knowledge. Knowledge is limited. Imagination encircles the world“. Isto parece paradoxal, pelo menos a princípio. Einstein considerava a imaginação, ou seja, a criatividade (algo caótico, que talvez só possa ser parcialmente explicado por um modelo probabilístico), como um atributo da mente humana, que é mais importante do que o seu conhecimento formal (determinístico). Por exemplo, um livro registra conhecimento, porém não o imagina nem o utiliza. Sócrates, o filósofo mais importante de toda a história do pensamento ocidental, nunca escreveu um livro, ou mesmo registrou seus pensamentos filosóficos de qualquer forma permanente. Diz-se que Sócrates não confiava no pensamento registrado na forma de escrita. Ele afirmava que a prática da leitura traria o esquecimento à alma (consciência) do leitor pois este passaria a acreditar mais nas palavras e nas frases do que em sua interpretação daquele conhecimento, que equivaleria à diferença entre memorizar e lembrar. Por outro lado, só sabemos destes e outros brilhantes pensamentos do passado graças ao seu registro dado pela escrita e acesso pela leitura. Acho que a diferença está em saber interpretar os fatos e utilizar adequadamente os recursos; saber ler nas entrelinhas, não somente o que está escrito mas porque foi escrito. No processo de ponderar, rememorar e sintetizar, de modo a destilar da informação lida apenas aquilo que de fato interessa, entra em cena a criatividade.