falsos-mitos-empresariais-292x300Nas atividades de divulgação científica, com boa frequência, deparamo-nos com várias afirmações (e negações) errôneas mais ou menos populares e de ampla disseminação – que costumamos denominar de ‘mito’.

Como divulgadores, é nossa obrigação abordar tais desinformações, porém a forma mais comum: dizer qual é o mito e, a seguir, refutá-lo com argumentos e dados – traz um risco bastante sério: o de reforçar a crença no mito que se deseja combater. A menção ao mito pode fazer com que as pessoas fiquem ainda mais familiarizadas com ele; o excesso de argumentos na refutação pode tornar o mito atraente pela simplicidade; se a refutação ameaça a visão de mundo da pessoa, ela pode se agarrar mais firmemente ainda às suas crenças… Esse efeito é conhecido como ‘tiro pela culatra’ (‘backfire effect‘)

Por exemplo, Nyhan e colaboradores (2014) analisaram várias estratégias de comunicação para a promoção da vacinação. a) informações do CDC – centro americano de controle de doenças – explicando a falta de indícios de que a vacina tríplice viral SRC cause autismo; b) informação textual da Declaração de Informações da Vacina (Vaccine Information Statement) sobre os perigos das doenças que são prevenidas pela tríplice viral; c) imagens de crianças que tiveram as doenças prevenidas pela tríplice viral; d) narrativa dramática da ficha informativa do CDC sobre uma criança que quase morreu de sarampo; e) grupo controle sem exposição a qualquer um dos outros tipos de informação.

Em nenhum dos casos houve aumento da intenção dos pais em vacinarem seus filhos. A refutação da alegação de que tríplice viral causa autismo foi bem sucedida em diminuir a percepção errônea de que há ligação entre a vacinação e a doença, mas, por outro lado, diminuiu a intenção de vacinar os filhos entre os pais que já tinham uma atitude (conjunto de disposições positivas e negativas em relação a um tema) negativa em relação à vacinação. A exposição à imagem de crianças doentes aumentou a crença dos pais na ligação entre vacinas e autismo. Já a narrativa dramática aumentou a crença dos pais em que haveria sérios efeitos colaterais da vacinação.

Cook e Lewandowsky (2011) sugerem a seguinte estrutura para se refutar os mitos:

  • Fatos principais – a refutação deve enfatizar os fatos, não o mito. A apresentação dos fatos deve ser restrita aos fatos principais para se evitar o efeito “tiro pela culatra por excesso’ ;
  • Alerta explícito – antes de mencionar o mito, sinais textuais ou visuais devem alertar para o fato de que as afirmações a seguir são falsas;
  • Explicação alternativa – qualquer buraco deixado pela refutação deve ser preenchido. Isso pode ser obtido pelo oferecimento de explicações causais alternativas, por que o mito está errado ou por que os promotores da desinformação promovem o mito em primeiro lugar;
  • Gráficos – se os fatos principais podem ser apresentados graficamente tome proveito dessa opção.

Para Peter & Koch (2016) é importante também induzir a formação de juízo imediatamente durante a recepção das informações corretas. Do contrário, as informações e os contextos podem ser perdidos e a concepção errônea prévia pode voltar ou mesmo se intensificar no processo de “tiro pela culatra”. Pedindo que as pessoas formulem juízo sobre o tema tão logo recebam as informações, esse juízo pode ser mantido por mais tempo – mesmo que esqueçam as informações e os argumentos que as levaram-nas a formulá-lo.

Em suma, combater as concepções errôneas é importante, mas comumente a forma como isso é feito tende a ter um efeito nulo ou até de reforçar o que se deseja refutar; felizmente há abordagens que podem ser mais efetivas.

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