Cannabis: Remédio ou Droga?

Publicado por Descascando a ciência em

Você provavelmente já ouviu falar sobre a Cannabis, mas você realmente sabe o que é? Qual sua opinião sobre a liberação para fins medicinais? Antes de responder, leia o texto para entender um pouco mais sobre o assunto!

O que é Cannabis?

Cannabis é um gênero de plantas originárias da Ásia e que, tem em sua família plantas como a maconha e o cânhamo. 

A maconha (Cannabis sativa subespécie sativa) é considerada no Brasil, e em vários outros países, uma droga ilícita, devido ao alto teor de THC, que é o principal elemento tóxico e psicoativo da planta. O THC é responsável por deixar a pessoa com uma “brisa”.

Por outro lado, o cânhamo (Cannabis sativa subespécie ruderalis), que tem várias propriedades iguais da maconha, tem baixos níveis de Tetrahidrocanabinol (THC<1%), e isso faz com que seja muito visada para fins terapêuticos. No cânhamo há a presença do Canabidiol (CDB), principal componente extraído para fins terapêuticos.

Oléo de CBD

Outro fato interessante é que são plantas dióicas, ou seja, possuem exemplares masculinos e femininos, e a quantidade de canabinóides varia, sendo que a planta fêmea possui maior quantidade.

E a maconha, é um remédio?

Como diz o ditado: “A diferença entre o remédio e o veneno está na dose”. Existem produtos farmacêuticos que precisam ser administrados em concentrações extremamente baixas para ter os efeitos terapêuticos esperados, mas  caso sejam tomados em doses elevadas, podem causar riscos para a saúde e até levar à morte do paciente. 

Um bom exemplo é o medicamento captopril, ou capoten, para a hipertensão. Ele é feito a partir de uma substância encontrada no veneno da jararaca brasileira, que é venenosa.

No caso da maconha, a planta por si só não é um remédio, porém, os componentes dela extraídos, se aplicados nas doses corretas após a formulação, podem ser utilizados para o tratamento de diversas doenças. 

Como já mencionamos, um dos componentes mais conhecidos para fins terapêuticos e medicinais é o Canabidiol (CBD).

Canabidiol

O canabidiol é um dos compostos canabinóides obtidos da maconha. Ele é biologicamente ativo, porém não psicoativo, ou seja não deixa a pessoa “chapada”.

O CBD possui potencial terapêutico, e tem sido estudado e utilizado em diversos tratamentos como:

  • Ansiedade 
  • Depressão
  • Distúrbios do sono
  • Glaucoma, diminuindo a pressão intraocular
  • Epilepsia
  • Anticonvulsivante
  • Câncer 
  • Dores crônicas (de origem oncológica ou neuropática)
  • Náuseas e vômitos (causados pela quimioterapia)
  • Inapetência (ausência de apetite ocasionada pela quimioterapia)
  • Parkinson
  • Alzheimer
  • Autismo 
  • Espasticidade 
  • Esclerose múltipla

Para o tratamento de dores crônicas, o efeito ocorre pela ação analgésica da molécula no organismo.

Em doenças do sistema nervoso, a molécula auxilia no tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esquizofrenia, Parkinson, esclerose, epilepsia ou ansiedade.

Como funciona o Canabidiol?

O  canabidiol age como um sistema chave-fechadura, onde o composto é reconhecido pelo corpo do paciente.

O corpo humano produz determinados canabinóides por conta própria, e também possui dois receptores para canabinóides, chamados de receptores CB1 e CB2, além de produzir moléculas que atuam sobre eles.

Os principais receptores canabinóides se localizam no sistema nervoso central, em células do sistema imune e em alguns tecidos periféricos, porém sua ação pode ocorrer por mais de uma via receptora. 

  1. Os receptores CB1 estão presentes em todo o corpo, mas com maior concentração no cérebro. Eles atuam sobre a coordenação, movimento, dor, emoções, humor, apetite, memória, etc.
  2. Já os receptores CB2 são mais comuns no sistema imunológico. Eles afetam a inflamação e a dor. 

Administração do produto

Existem diferentes formas de administrar o CBD ao paciente, que pode utilizar o fármaco na forma de solução de óleo, spray nasal ou comprimido, sendo que todas essas formas e doses devem ser prescritas por um médico responsável.

Os medicamentos à base da planta podem ter concentração de até 0,2% de THC, sendo que, dosagens com concentração maiores deste componente só poderão ser recomendadas para pacientes em estado terminal, ou que não tiveram melhora com nenhuma outra forma de terapia. Isso porque o THC pode ocasionar a dependência

O que diz a legislação brasileira sobre a cannabis?

No final de 2019 a ANVISA aprovou o registro e venda de medicamentos feitos à base de Cannabis, mas vale lembrar que o cultivo da planta continua proibido no Brasil, assim como o comércio (configurado como tráfico) e seu uso recreativo.

Com a autorização da ANVISA, alguns processos serão simplificados para quem precisa de fármacos derivados da planta, sendo as principais mudanças:

  • O paciente não precisará mais informar a quantidade do medicamento a ser importado, essa exigência passa a ser cumprida por agências competentes;
  • A validade da autorização da importação do medicamento passa de um para dois anos;
  • Fica extinta a lista de produtos analisados pela ANVISA, evitando assim o favorecimento indevido de empresas e produtos;
  • O medicamento pode ser importado pelo responsável legal do paciente ou por procurador legalmente constituído;
  • Não será necessário o envio postal de documentação. Após a aprovação oficial, o pedido de autorização será feito exclusivamente online pelo Portal Único do Cidadão.

Outras Aplicações  

Além da utilização medicinal, o cânhamo possui várias outras aplicações, desde a indústria têxtil, cosméticos, óleo de cozinha, sabão em pó, tintas, isolantes. 

Na indústria têxtil, as fibras do cânhamo podem ser utilizadas para a confecção de cordas, sacos, tapetes, redes e tecidos grossos, sendo de grande potencial para a indústria de roupas. As fibras são obtidas do caule da planta e são muito resistentes. Outra aplicação para as fibras da planta é na fabricação de papel, devido ao alto índice de celulose (aproximadamente 70%).

Fibras do caule de cânhamo para têxteisFibras do caule de cânhamo para têxteis

Alguns estudos mostram que o extrato vegetal de Cannabis sp. pode ser utilizado até mesmo no controle biológico, inibindo o crescimento de patógenos de plantas, como fungos e bactérias.  

Essas e outras aplicações aumentam o potencial de interesse agrícola para a produção da planta. Recentemente, uma empresa do estado de São Paulo, conseguiu junto à ANVISA a liberação da produção de cânhamo, visando à comercialização para fins exclusivamente industriais e farmacêuticos.

Malefícios da cannabis

Vários estudos demonstram que usuários crônicos de maconha sofrem de síndrome de dependência quando param de fumar a substância. Os comportamentos agressivos é a sintomatologia mais comum, também caracterizado por insônia, agitação, perda de apetite e irritabilidade. 

Galhos de Maconha

Durante o uso prolongado da planta, de maneira recreativa (fumo), algumas funções cognitivas mais afetadas são: a fluência ao falar, a atenção, a memória de curto prazo e déficit de aprendizagem.

Esses efeitos podem desencadear e/ou potencializar quadros de esquizofrenia em indivíduos psicopatológicos, ou seja, que tenham tendência a algum problema mental. Além dessas funções, alguns estudos mostram a diminuição de espermatozóides e perda de libido em dependentes do sexo masculino, nas mulheres houve indicíos de alteração do ciclo menstrual.

Esse texto é imparcial e informativo, baseado em trabalhos científicos. Para maiores informações sobre tratamentos e uso medicinal, procure um médico responsável!

Autora: Tatiane Cunha

Categorias: Plantas

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2 comentários

paulosergio · 30 de setembro de 2020 às 13:14

Pensei que remédio e droga fossem, em sua essência, a mesma coisa.

Amanda Silva · 1 de março de 2022 às 18:48

Conheça mais sobre o assunto em https://cannabisbrasil.net.br/

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