Epidemias na agricultura

Publicado por Descascando a ciência em

Se você fosse um pé de batatas e vivesse na Irlanda em 1845, durante a epidemia que dizimou batateiras, o coronavírus não estaria te assustando tanto agora.

Naquele ano, uma doença (até então) tão misteriosa quanto o COVID-19, causou grandes danos ao país. Este evento histórico ficou conhecido como “A Grande Fome”, pois afetou um alimento básico para grande parcela da população europeia: as batatas!

Até pelo menos 1852, a doença causada pelo micro-organismo (oomiceto) Phytophthora infestans, destruiu 75% da produção de batatas na Irlanda, causando a morte de mais de 1 milhão de irlandeses, e obrigando pelo menos 1 milhão a emigrar. 

Estes eventos reduziram a população do país em 25% e causou impactos sociais que duraram por muito anos. 

Estátuas representando a Grande Fome, em Dublin. Pessoas em desespero.
Estátuas ‘The Great Famine’ em Dublin. Imagem de rodamundo.tur.br

Eventos Epidêmicos Pelo Mundo

Epidemias são bastante comuns em todos os seres vivos, e com as plantas não seria diferente. Os efeitos certamente são mais dramáticos quando estas doenças atingem alimentos básicos, como a batata. No entanto, eventos tão catastróficos quanto este ocorrem regularmente com outras culturas de plantas.

No Brasil, por exemplo, houve uma grande “tristeza” que abateu os citros.

A Tristeza dos Citros

Causada por um vírus, que chegou ao país no ano de 1937, esta epidemia exterminou 10 milhões de pés de laranja azeda, um dos cultivares mais suscetíveis ao vírus.

Esta é a doença viral de maior importância na citricultura mundial, e o melhor solução para conter seu avanço foi a troca dos porta-enxertos de toda a citricultura brasileira, substituindo-os por ferramentas mais tolerantes. 

Um pé de citrus afetado pela epidemia da Tristeza, com muitos frutos, porém seco.
Imagem da Fundecitrus

Essa tecnologia de manejo foi desenvolvida aqui no Brasil, pelo Dr. Sylvio Moreira, um grande pesquisador da área de citricultura. O maior centro de citricultura do país foi nomeado em sua homenagem: Centro de citricultura Sylvio Moreira, vinculado ao Instituto Agronômico, em Campinas.

O Problema das Oliveiras

Tenho certeza que você não é uma batata e nem um pé de laranja, mas se conhecer alguma oliveira, passe o recado: o perigo está sempre rondando. 

A bactéria Xylella fastidiosa é a causadora de uma doença devastadora que vem destruindo as oliveiras tradicionalmente cultivadas no sul da Itália.

Sem cura conhecida para a síndrome, as oliveiras desenvolvem um declínio rápido (Olive Quick Decline) após serem infectadas através da picada de um inseto. 

Galho com azeitonas verdes e pretas, molhadas após a chuva
Imagem de mac231 por Pixabay

Oliveiras centenárias e milenares vêm sucumbindo a esta doença. Barreiras sanitárias e controle do inseto vetor são feitas para conter o avanço pela Europa, mas focos desta doença já são conhecidos em outros países europeus.

O prejuízo acumulado desde o início da epidemia, em 2013, ultrapassa 1 bilhão de dólares.

O controle de doenças contaminosas

Doenças de plantas, assim como as de humanos, ocorrem naturalmente ao longo da História, ao redor do mundo, e ainda continuarão acontecendo. 

Muito do potencial destrutivo das doenças na agricultura moderna reside não só na ausência de controle químico disponível, mas também na extrema similaridade genética entre as plantas. 

Um pimentão amarelo e outro vermelho, sendo segurados por uma mão com luvas e, ao lado, tem um copo pequeno com alguns remédios dentro
Imagem de Emilian Danaila por Pixabay

Comparando com a população humana, seria como se todos nós fossemos gêmeos ou, pelo menos, parentes bem próximos. Assim, se há algum tipo de deficiência ou susceptibilidade genética, todas, ou quase todas as plantas, acabam sofrendo os efeitos do patógeno

Na agricultura assim como para nós, humanos, a prevenção é sempre o melhor remédio. Então não esqueça: se puder, fique em casa!

Referências


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2 comentários

Vítor · 16 de maio de 2020 às 02:24

Ótimo texto, bastante instrutivo.

    Descascando a ciência · 28 de junho de 2020 às 13:04

    Muito obrigado!

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