Sobre Ipês e Brasis

Publicado por Descascando a ciência em

As árvores são os maiores e mais antigos seres vivos da superfície da natureza.

Uma árvore de grande porte, como a Sumaúma amazônica, do mesmo gênero das paineiras do Sudeste, pode chegar a 70 metros de altura e 2 mil anos de idade.

Na altura das sapopembas, que são as raízes tabulares, essa árvore gigante pode chegar a 50 metros de circunferência ou ainda mais.

Crianças Matsés nas sapopembas de uma Sumaúma, no norte do Acre.

Já no Parque Estadual da Vassununga, no interior do estado de São Paulo, encontram-se Jequitibás de grande porte, como o “Patriarca”, com idade calculada em 600 anos, 4 metros de diâmetro e 42 metros de altura.

Essas árvores antigas podem revelar aspectos da história biológica, meteorológica e até antropológica do ambiente ao seu redor, através da análise do seu caule.

Benefícios de uma árvore

Uma árvore sozinha em um pasto, ou mesmo em um estacionamento, já pode causar um forte impacto ambiental.

  • Reduz em até 7°C a temperatura em sua sombra;
  • Fornece abrigo e alimento aos pássaros e outros organismos;
  • Absorve a poluição sonora e atmosférica;
  • Aumenta a qualidade paisagística;
  • Conserva o solo;
  • Permite sua multiplicação.

Uma área florestada aumenta exponencialmente esses benefícios.

Ela tem a vital consequência de produzir e melhorar a qualidade da água, de proteger a diversidade biológica; além de mitigar impactos dos desequilíbrios térmicos, como o aquecimento global, o ressecamento durante determinadas estações do ano e a deterioração da camada de ozônio

Árvores e o Brasil

O Brasil tem mantido historicamente uma relação de amor e ódio com as árvores. Primeiro adotou o nome de uma delas, o pau-Brasil, para se autodenominar e, em seguida, quase a levou à extinção.

O Pau-brasil foi resgatado pela comunidade científica, que alertou o mundo sobre o risco que a árvore nacional corria.

A população tomou uma certa consciência e passou a patrocinar sua multiplicação, adotando um sentimento de (Pau-) Brasil, ame-o ou deixe-o morrer.

Símbolo nacional: a Guapeba

O imperador Pedro II adotou uma sapotácea como árvore da casa imperial, a rara Guapeba (Chrysophyllum imperiale).

Ele presenteou diversas nações com a planta maravilhosa, mas quando os militares tomaram o poder em 1889, imediatamente começaram a perseguir e destruir a coitada da árvore.

Essa é mais uma espécie que poderíamos tentar salvar do grande risco de extinção em que se encontra.

Folhagem da “Árvore do Imperador”, Guapeba, parente do Abiu, no Jardim Botânico de Sidney, Austrália.

Os bem-amados Ipês

Ao contrário do que aconteceu com outras espécies da nossa flora, como o Jequitibá, árvore-símbolo do estado de São Paulo, os Ipês sempre foram e continuam sendo uma das árvores mais plantadas do país.

Os ipês são divididos em dois gêneros principais, com dezenas de espécies. O primeiro é o Handroanthus, que denominam as árvores de madeira mais densa, e o segundo é chamado de Tabebuias, de madeiras mais leves.

Grupo 1: Handroanthus

O primeiro grupo, muito maior, inclui os ipês amarelo, amarelo-cascudo, roxo-sete-folhas, roxo-de-bola, amarelo-do-cerrado, amarelo-do-campo, amarelo-do-brejo, amarelo-liso.

Ipê amarelo. Foto por Liti Gianelli.

Grupo 2: Tabebuias

O gênero Tabebuia é composto pela caroba-do-campo, a caixeta, ipê-branco-do-brejo e o ipê-branco, que embora tenha madeira moderadamente leve, é resistente, e de grande durabilidade em ambientes internos.

Ipê branco. Foto: Rosy Lima/VC no TG

Além desses dois gêneros, existem outros como:

  • o ipê-felpudo, também de madeira leve e durável
  • o ipê-verde, leve e pouco durável

Todos pertencem à família Bignoniaceae, com as flores em forma de corneta, um formato afunilado.

Floradas dos ipês

Está no irresistível encantamento das florações do ipê a razão do grande amor que a árvore conquistou entre os povos.

As floradas dos ipês são magníficas e eles, em sua grande maioria, possuem madeira nobre, de alto valor comercial pela beleza, resistência mecânica e durabilidade.

As raízes pivotantes têm um desenvolvimento vertical mais pronunciado do que o horizontal, causando pouco distúrbio no território ao seu redor como calçadas e construções.

Os ipês atraem abelhas melíferas e pássaros que devoram suas bases florais, como as maritacas. Nas bordas dos rios, ajudam a alimentar os peixes que chegam a saltar da água para apanhar as flores ainda no ar.

Período da florada de ipês

As floradas dos ipês ocorrem ainda durante o inverno, com as árvores totalmente desprovidas das folhas.

Porém, os distúrbios nos regimes de temperatura e umidade tem “enganado” o metabolismo das plantas e, infelizmente, não tem sido raro as ocorrências de florações interrompidas e retomadas, presença de folhas ou brotações fora da estação.

O futuro dos ipês e outras árvores

A grande oportunidade, e passo como nação, que o Brasil e os brasileiros têm agora é em relação à proteção das árvores, florestas e biomas remanescentes.

Somente o cuidado com a natureza para garantirá para as futuras gerações a diversidade biológica, riqueza florística e qualidade de vida que a exuberante natureza do Brasil sempre nos ofereceu com generosidade.


Sobre o autor: Alfredo Nagib Filho, Fritz, nasceu na cidade de São Paulo. É fotojornalista, formado em direito e engenharia agronômica. Reside em São João da Boa Vista/SP

Referências

1. Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica-ÁRVORES GIGANTESCAS DA TERRA E AS MAIORES ASSINALADAS NO BRASIL: Alceo Magnanini, Cristina Magnanini

2. https://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-aquatica/zona-costeira-e-marinha/recifes-de-coral.html

3. Lista de espécies indicadas para restauração ecológica para diversas regiões do Estado de São Paulo / organização Luiz Mauro Barbosa – Instituto de Botânica, São Paulo, 2017

4.  Lorenzi, Harri, 1949 –  Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil, vol. 1 / 5. ed. – Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008.

5.  Por que manter árvores na área urbana? Maria Luiza Franceschi Nicodemo e Odo Primavesi, Embrapa Pecuária Sudeste São Carlos, SP 2009.

6.  http://www.arvores.brasil.nom.br/Chrysophyllum/index.htm 

7.   http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil 

8. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.607-1978?OpenDocument

9.   Efeito de árvores isoladas e da vegetação circunvizinha sobre a chuva de sementes em pastagem   Ramos, Danielle Christine Tenório Leal, 1988-,   Brasília, BDTD 2013

10.  Arborização de Pastagens: I – Procedimentos para Introdução de Árvores em Pastagens Convencionais,  Vanderley Porfírio-da-Silva, Embrapa Florestas, Colombo, Paraná, 2006


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