Futebol e grama: a ciência por trás desta relação!

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Olá, amigos do Descascando a Ciência! Hoje, vamos falar sobre a grama, um elemento que faz parte de uma das grandes paixões dos brasileiros: o futebol.

Neste último final de semana, por exemplo, os gramados brasileiros protagonizaram as finais dos campeonatos estaduais do futebol masculino. Já na semana passada, os gramados europeus assistiram Barcelona vencer o Chelsea na final da Liga dos Campeões Feminina. 

E ainda, no próximo sábado, dia 29/05, a grama do Estádio do Dragão verá a bola rolar para a tão aguardada final da Liga dos Campeões masculina, entre Manchester City e Chelsea, direto da casa do Porto, em Portugal.

Viu só como a presença da grama é tão fundamental quanto os jogadores?  

Ela é uma personagem fundamental e que deve ser cuidada com carinho. Afinal, um gramado em condições ruins atrapalha as equipes até em fundamentos básicos como passes, domínio de bola e finalizações.

Galvão? 

Fala, Tino!

Será que toda grama é igual?

As gramas presentes nos estádios de futebol são classificadas em dois tipos: clima quente e clima frio.

No Brasil, as espécies de grama utilizadas são do tipo de Clima Quente, já que elas têm a capacidade de se desenvolver em altas temperaturas, mas suportam geadas esporádicas e podem tolerar baixas temperaturas (desde que sempre acima de zero).

Gramas de Clima Quente são divididas em dois grupos: Rizomatozas e Estoloníferas. 

O desenvolvimento vegetativo das rizomatosas ocorre a partir de rizomas (um caule subterrâneo) sub-superficiais (Figura 1).

Planta rizomatosa
Figura 1: Planta rizomatosa

Já o desenvolvimento vegetativo das estoloníferas ocorre a partir de estolões (caule que cresce paralelamente ao chão) superficiais

E quais são as gramas mais utilizadas nos estádios brasileiros? 

As gramas mais utilizadas em estádios de futebol no Brasil são do tipo rizomatosas. Esse tipo de grama possui alta capacidade de regeneração após pisoteio ou tráfego intenso. 

A recuperação da grama após intensas partidas de futebol é possível porque os rizomas são sub-superficiais e estão protegidos de danos mecânicos diretos.

Porém, gramas com alta capacidade de recuperação como as usadas na maioria dos estádios do Brasil, exigem manutenção constante, desde adubação até a poda (que pode chegar a ser diariamente).

As variedades Bermuda, Esmeralda e Batatais são exemplos de grama do tipo Rizomatosas.

Bermuda: a goleadora

A variedade de grama chamada de Bermuda é a mais utilizada nos campos de futebol brasileiro. Podemos encontrá-la nos estádios:

  • Arena Fonte Nova, 
  • Arena Castelão, 
  • Arena da Baixada, 
  • Arena Pantanal, 
  • Arena Beira-Rio, 
  • Mineirão, 
  • Maracanã,
  • Morumbi, 
  • Vila Belmiro, 
  • Pacaembu, 
  • Engenhão e 
  • São Januário
Grama nos estádios
Figura 2: Gramado Bermuda no Maracanã.

Ela possui folhas estreitas, macias, de formação densa e coloração verde intenso. Tem ótima capacidade de recuperação quando submetida a desgastes por pisoteio e apresenta resistência contra pragas e ervas daninhas. 

Overseeding

Alguns estádios de futebol, como o Mineirão, realizam um processo de replantio do gramado com sementes mais adaptadas às temperaturas mais baixas do inverno. 

Esta técnica é conhecida como overseeding, e apresenta resultados bastante interessantes em Agosto, quando a grama cresce por completo e substitui o tipo da grama de clima tropical. 

Grama natural ou artificial?

Há uma grande discussão sobre qual grama é a melhor para o desempenho dos jogadores: natural ou artificial. Quais são os prós e contras de cada uma? 

O juíz apita e a bola está rolando!

Velocidade da bola

A velocidade da bola na grama artificial é muito maior do que na grama natural e por isso muitos jogadores têm dificuldade em dominar a bola em gramados artificiais. Já na grama natural, há maior controle da bola, pois ela tem um salto mais natural e suave.

Resistência do gramado

Outra característica é a maior resistência das gramas artificiais quanto a condições climáticas (chuva forte ou neve), além do alto custo de manutenção que a grama natural exige (fertilização regular, poda e irrigação frequente). 

Mas além destas características, um dos principais pontos que têm sido discutidos é sobre a ocorrência de lesões nos dois tipos de gramados.

gramados artificiais.
Figura 3: Lesões de tornozelo em jogadores elite em gramados artificiais.

A relação entre o tipo de gramado e lesões

Um grupo de pesquisadores reuniu informações publicadas em 76 artigos científicos sobre este tema e constatou que mesmo que os gramados artificiais tenham passado nos testes da FIFA, a degradação de suas qualidades com o tempo pode afetar o desempenho ou até mesmo causar ferimentos em jogadores. 

Com o tempo, as camadas de preenchimento desses gramados são comprimidas e a qualidade de suas almofadas de choque se degrada, e pode levar ao aumento da dureza da superfície.

Além disso, essas mudanças resultam em fibras de grama artificial alongadas e, portanto, maior fricção entre o calçado e a superfície. 

Os gramados artificiais também aumentam a tração rotacional e, consequentemente aumentam a probabilidade de lesões, principalmente no tornozelo de jogadores de elite. Por serem mais leves, mulheres, jogadores amadores e jovens (desde crianças até jovens) apresentam número mais baixo de lesões nesses gramados. 

 

 

Já os jogadores de elite, que são mais pesados,​  geram mais energia do que jogadores amadores e universitários. Dessa forma, produzem mais torque (movimento de rotação de um corpo após a aplicação de determinada força sobre ele) e tração. 

No Brasil, os gramados artificiais estão presentes na Arena da Baixada (“casa” do Athletico Paranaense) e no Allianz Parque (“casa” do Palmeiras).

E o que são os gramados híbridos, professor?

São gramados que apresentam os dois tipos de grama: natural e artificial, tem sido bastante utilizados em estádios Europeus e na Arena Corinthians.

Esse gramado funciona assim: uma grande máquina de costura portátil faz a costura de fibras de polipropileno (grama artificial) com 20 cm de profundidade na zona da raiz das superfícies da grama natural. Isso fornece uma “âncora” em torno da qual as raízes da grama natural podem crescer (Figura 4).  

Figura 4: Exemplo de um método híbrido.

Este reforço na zona raiz fornece estabilidade e permite ao jogador gerar grandes forças horizontais associadas a sprint e mudanças de direção, sem falha da superfície. 

Acima do solo, as fibras sintéticas ficam logo abaixo da altura de corte da grama natural para fornecer suporte e melhorar a durabilidade.

E aí, torcedor!? O que você achou sobre como funciona o gramado em cada estádio de futebol e sua importância para que os jogadores possam completar mais passes, executar sprints mais explosivos e cobrir distâncias de corrida maiores do que nunca?

Conta pra gente e bora torcer pelo seu time do coração!

Logo logo nos encontraremos nos estádios de futebol para torcermos juntos!! 

 

Autor

Diogo Manzano Galdeano

  • Biólogo, Mestre em Sanidade Vegetal e Doutor em Genética e Biologia Molecular.
  • Professor da Universidade Federal de São Carlos e do Centro Universitário Anhanguera

 

Referências 

Ataabadi YA, Sadeghi H, Alizadeh MH. The effects of artificial turf on the performance of soccer players and evaluating the risk factors compared to natural grass. Neurologic Research and Therapy. 2017; 2(2):1–16. 

Gurgel, R.G.A. Principais espécies e variedades de grama. In: SIGRA – Simpósio Sobre Gramados – Produção, Implantação e Manutenção. 1-13. 2003. 

Thomson, A.; Rennie, D. Evolution of natural grass plain surfaces for elite football. ASPETAR – Sports Medicine Journal. 322-327. 2016.

https://laborsolo.com.br/mercado-agricola/voce-sabe-quais-sao-as-gramas-utilizadas-nas-arenas-da-copa-do-mundo-do-brasil

http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/08/dossie-gramados-brasil-persegue-o-padrao-europeu-de-qualidade.html#:~:text=Os%20campos%20europeus%20s%C3%A3o%2C%20por,per%C3%ADodo%20mais%20cr%C3%ADtico%20do%20ano.

http://www.portaldasgramas.com.br/gramas-para-campo-de-futebol

https://globoesporte.globo.com/mg/futebol/noticia/mineirao-promove-transicao-do-gramado-para-se-adaptar-a-estacao-mais-fria-do-ano.ghtml

Categorias: Plantas

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