Você está pronto para as mudanças climáticas do futuro?

Publicado por Descascando a ciência em

O 16 de março é o Dia Nacional para Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. O Descascando a Ciência preparou um material cheio de informação sobre o tema.

As mudanças climáticas são um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade atualmente, com graves consequências para o meio ambiente e sociedade. Ondas de calor e frio extremos, secas e inundações devastadoras já estão afetando milhares de pessoas em todo o mundo.

Como as mudanças climáticas impactam na vida das pessoas?

No Brasil, o ano de 2023 começou com chuvas intensas e temperaturas elevadas na região Norte, Centro-Oeste e Sudeste. O Rio Grande do Sul enfrenta um longo período de seca – já é considerada a maior dos últimos 70 anos. O volume de chuva que caiu no Litoral Norte de São Paulo, e que levou a uma tragédia na região, foi o maior registrado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Dados Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus mostram que a Europa está passando pelo segundo inverno mais quente já registrado e as altas temperaturas coincidem com uma surpreendente falta de chuva. Nos Estados Unidos e Canadá um evento climático extremo colocou os países em alerta máxima devido a possibilidade de nevascas com ventos muito fortes, chuva e temperatura congelantes.

Eventos climáticos extremos como esses, estão cada vez mais recorrentes em todo o mundo. Mesmo com o cumprimento do Acordo de Parisdo qual estamos longe – desastres naturais devem continuar frequentes. O motivo? O Planeta Terra já está 1,1 °C mais quente em comparação ao período pré-Revolução-Industrial.

Por isso, a conscientização sobre o tema é importante. Pode auxiliar na prevenção de futuros eventos climáticos e no enfrentamento do aquecimento global.

As mudanças climáticas são uma consequência direta das atividades humanas

Para entendermos o papel dos seres humanos nas mudanças climáticas, uma breve história:

Após a Revolução Industrial a produção em larga escala e a queima de combustíveis fósseis passou a ser cada vez maior e mais comum. Com isso houve o aumento nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), como dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Foi só na década de 1960 que os cientistas começaram a identificar que o aumento das emissões de GEE poderia ter consequências negativas para o clima e para o meio ambiente.

Em 1988, foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que reúne cientistas de todo o mundo para estudar os efeitos das mudanças climáticas. Os pesquisadores passaram a reunir provas de que os GEE permaneciam na atmosfera por um longo período e quanto maior o acúmulo desses gases, maior era a retenção de calor na Terra. Criando o que chamamos de efeito estufa.

Para você ter uma ideia, as emissões globais de CO2 aumentaram de 2 bilhões de toneladas em 1900 para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegando a cerca de 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingindo 37 bilhões de toneladas em 2022. Esse é o impacto da Revolução Industrial na atmosfera da Terra.

Os cientistas chegaram à conclusão de que o efeito estufa é responsável pelo aumento significativo da temperatura média global, resultando em um desequilíbrio do clima – derretimento das geleiras, alteração dos padrões de ventos, das massas de ar (frias e quentes) e das correntes oceânicas.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicam que os últimos 8 anos (2015 a 2022) foram os anos mais quentes do Holoceno (últimos 12 mil anos).

Em outras palavras:  A seca no RS e o volume de chuva no Litoral Norte Paulista são um reflexo do desequilíbrio do clima ocasionado pelo acúmulo de GEE produzidos desde Revolução Industrial em níveis sem precedentes na história do planeta – Para mencionar apenas dois exemplos de eventos climáticos extremos que aconteceram nos últimos 30 dias.

Plantação de milho em solo seco

Desde então, os cientistas tem trabalhado pela conscientização da população do perigo dos GEE e da importância em adotar medidas urgentes para redução nas emissões desses gases.

Mas se o planeta está esquentando, por que ainda existem ondas de frio tão fortes?

O impacto do aquecimento global não significa apenas ondas de calor, mas sim desequilíbrio nas dinâmicas do planeta.

De fato, o Centro-Sul do Brasil, tem sido afetado com mais frequência por massas de ar polares que derrubam as temperaturas para abaixo de 5 °C.  Isso confunde muita gente. A causa desses eventos climáticos é a mudança nas massas de ar da atmosfera, que leva mais ar quente para o Ártico e traz o ar frio para o continente.

Por exemplo, o calor fora do comum no Brasil interfere no sistema de trocas de massas de ar, enviando mais ar quente para a Antártida e, como consequência, abrindo espaço para a chegada de ar frio – É como se fosse uma busca por equilíbrio entre as diferentes massas de ar na atmosfera.

Com a temperatura média do planeta aumentando, esses sistemas ficam mais intensos, buscando equilíbrio mais rapidamente. O resultado? Ventos mais fortes, tempestades e ondas de frio onde antes não tinha.

No futuro as mudanças climáticas podem levar ao fim das praias do Rio de Janeiro

O aquecimento global também está acelerando o descongelamento da Antártida. Cientistas do Centro Nacional de Gelo e Neve dos Estados Unidos (NSIDC) registraram, em 2022, o menor nível de cobertura de gelo marinho na região. As medições por satélite acontecem desde 1979.

O degelo na Antártida deve impactar a vida das pessoas fortemente, principalmente por dois motivos:

  • Grandes extensões de gelo são capazes de refletir para o espaço a energia solar. A conversão desse gelo em água nos oceanos aumenta a absorção de calor, o que contribui para o aquecimento global e mais descongelamento na região.
  • O descongelamento da Antártida aumenta o volume de água marinha e tem potencial para elevar o nível global dos oceanos em mais de um metro. Combinar a elevação dos mares com a atual erosão costeira é a equação perfeita para devastação das praias da maioria das cidades do planeta.

Desde 2016 as praias do Rio de Janeiro estão sofrendo com desabamentos de grandes e pequenas estruturas devido a ressacas cada vez mais fortes. São ciclovias, helipontos e casas destruídas e Avenidas sendo cobertas por inundações. Em 2023 já tivemos a tragédia no Litoral Norte Paulista, as mudanças climáticas já afetam direta ou indiretamente a vida de todas as pessoas.

Não estamos preparados para as mudanças climáticas que estão por vir, a conscientização sobre o assunto é crucial. Só assim será possível adotar medidas efetivas para redução nas emissões de GEE (mitigação), encontrar soluções para áreas que já estão em risco (adaptação) e prevenir uma crise ainda mais grave no futuro.

Sobre o autor:

Dr. Paulo José Camargo Dos Santos: Biólogo, pesquisador, mestre em microbiologia e doutor em biologia molecular. Atualmente trabalha como criador de conteúdo voltado para agricultura e divulgador científico no Descascando a Ciência

Principais fontes:

Blackport, R., et al. Minimal influence of reduced Arctic sea ice on coincident cold winters in mid-latitudes. Nature Climate Change, 2019.

Instituto Nacional de Meteorologia. Eventos extremos: Chuvas intensas e temperaturas elevadas marcaram janeiro de 2023.

IPCC. Summary for Policymakers. In: Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change.

IPCC. Summary for Policymakers In: Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change.

Nasa. Global climate change. Disponível em: Climate.nasa.gov. Acesso em 15/03/2023

Projeto colabora. O recorde de degelo da Antártida e o fim das praias do Rio de Janeiro. Disponível em: https://projetocolabora.com.br/ods13/o-recorde-de-degelo-da-antartida-e-o-fim-das-praias-do-rio-de-janeiro/. Acesso: 15/03/2023.

Tierney, J. E., et al. Glacial cooling and climate sensitivity revisited. Nature, 2020.


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