
Os fungos estão presentes em diversas etapas da produção industrial brasileira. Venha entender um pouco mais sobre esses seres vivos que não são somente cogumelos, e seus atuais usos.
Apesar de controversos, é comum ouvir falar que fungos são utilizados como base na produção de diversos produtos, desde tecidos até hambúrguer. Contudo, você já se perguntou como e por quê?
Existem aproximadamente 1,5 milhão de espécies de fungos desenvolvendo diversas funções e papéis na natureza e por causa disso, a Micologia – ciência que estuda os fungos – tornou-se relevante e abrangente em vários setores do conhecimento e da economia. Vamos explorar o mundo dos fungos utilizados no ambiente industrial.
Fungos na indústria
A indústria aplica a diversidade de enzimas de fungos em processos biotecnológicos. Ao conjunto de enzimas produzidas pelos fungos dá-se o nome de coquetel enzimático e as aplicações biotecnológicas são todo e qualquer processo de transformação de matérias-primas em um produto de interesse, ou seja, com valor agregado no mercado. Devido aos recentes avanços nos estudos com edição genética e relacionados ao metabolismo de fungos, visando principalmente aumento na produção e secreção de enzimas, a relevância deles na indústria foi reiterada.
Relevância dos fungos filamentosos
Além da variedade de espécies e e diversidade de enzimas, as principais causas de utilizar fungos em processos industriais são a rápida e alta taxa de crescimento, a facilidade de manipulação e cultivo e a secreção extracelular de enzimas, ou seja, diretamente no meio de cultura. Assim, A secreção extracelular facilita e diminui o custo da produção de enzimas, otimizando o processo.
Entre as várias espécies de fungos conhecidas, os filamentosos são os mais utilizados na indústria, pois são excelentes secretores de enzimas. Dentre os fungos filamentosos, destacam-se os gêneros pertencentes ao filo Ascomycota, como Aspergillus, Trichoderma e Penicillium.
Em cada gênero, podemos citar pelo menos uma espécie conhecida e amplamente utilizada na indústria. Por exemplo, Aspergillus niger,é utilizado na indústria de alimentos para a produção de ácido cítrico e enzimas como a amilase, pectinase e glicose oxidase. Logo, essas enzimas são utilizadas, respectivamente, no controle de qualidade dos alimentos, na produção de xaropes e na remoção de compostos indesejáveis durante a fabricação de bebidas. Outro exemplo é Trichoderma reesei, utilizado para a produção de lipases, xilanases e celulases. Também as Lipases são utilizadas na indústria química e alimentícia, já xilanases e celulases são cruciais na produção de biocombustíveis. E, por último, podemos exemplificar o Penicillium citrino também muito utilizado na indústria alimentícia, e suas enzimas são utilizadas para dar sabor aos queijos roquefort, gorgonzola e camembert.
Fungos na economia sustentável
Resumidamente, um dos principais papéis dos coquetéis fúngicos está relacionado à produção de alimentos, bioprodutos e biocombustíveis. Por causa das alterações climáticas e a criação dos tratados como o Protocolo de Kyoto e a Agenda 21, alternativas sustentáveis aos combustíveis fósseis vêm sendo discutidas desde o começo do século. Nesse contexto, o conceito de biorrefinarias vem sendo utilizado como um modelo de reaproveitamento de resíduos gerados a partir de biomassas vegetais. Define-se como biorrefinaria o processo capaz de utilizar resíduos lignocelulósicos (de diferentes origneis, como a partir da atividade agrícola, agroindustrial ou até de resíduos urbanos) para a obtenção de produtos de interesse industrial.
Fungos em biorrefinarias
A degradação da parede celular vegetal das biomassa lignocelulósicas é coerente do ponto de vista ecológico, pois é um processo sustentável e ocorre na natureza em ação conjunta e cíclica; e o do ponto de vista econômico, pois a transformação dessas biomassas em um produto de interesse é lucrativa.
Portanto, unindo todas as informações, as enzimas fúngicas são de grande interesse para a biotecnologia, pois os produtos da sua catálise podem ser utilizados como precursores de processos ou diretamente na geração de produtos, como por exemplo, combustíveis, papel, alimentos, ração animal e químicos. Além da secreção de enzimas, os fungos também são capazes de degradar biomassas sob condições brandas, ou seja, sem qualquer tratamento químico ou físico. Em suma, os fungos utilizam e biomassa vegetal como fonte de carbono e através da degradação da parede celular geram produtos de valor agregado em diversas indústrias.
Empresas que utilizam coquetéis enzimáticos
Empresas como Johnson & Johnson e Glaxo empregam fungos em testes laboratoriais para controle de qualidade de cosméticos e alimentos. Outros exemplos são a Novozymes e Dupont, que dominam há anos o mercado de produção de enzimas e coquetéis enzimáticos para degradação de biomassa. E, por último, um exemplo nacional é a Raízen que utiliza coquetéis enzimáticos fúngicos na produção de bioenergia.
Como pode se ver, os fungos estão presentes no nosso dia a dia e participam da nossa vida mais do que imaginamos. Ainda existe um grande potencial econômico, industrial e biológico no uso desses seres vivos na produção de diversos produtos do nosso cotidiano.
A Autora
Fernanda Lopes de Figueiredo. Bióloga pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP) mestre em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e atualmente é aluna de doutorado na UNICAMP realizando seu projeto no LEBIMO. Trabalha com o melhoramento genético de fungos filamentos para a produção de coquetéis enzimáticos.
Referências
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5. NEVALAINEN, Helena; PETERSON, Robyn (2014). Making recombinant proteins in filamentous fungi- Are we expecting too much? Frontiers in Microbiology.
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7.https://super.abril.com.br/ciencia/os-fungos-invadem-asfabricas#:~:text=Empresas%20como%20Johnson%20%26%20Johnson%20e,encontrado%20em%20abund%C3%A2ncia%20na%20natureza.
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