Biocombustíveis

Internacionalmente tem se verificado que as políticas para o desenvolvimento de tecnologias de energia estão dedicando maior atenção a modernas formas de aproveitamento de energia da biomassa. Preocupações de ordem ambiental, aproveitamento de resíduos agrícolas, criação de novos mercados para produtos agrícolas, tem orientado as discussões.
 
Ainda hoje a tecnologia dominante para utilização energética da biomassa tem sido a combustão direta, seja a partir de lenha, resíduos de processos industriais, utilização de bagaço de cana, etc. Cerca de 11% do consumo mundial de energia primária provém de biomassa e dessa parcela, cerca de 97% é utilizada através de processo de combustão direta. De uma maneira geral esse é um processo de conversão que apresenta impactos ambientais negativos e é pouco eficiente do ponto de vista energético. A biomassa é energicamente pouco densa, ou seja, é necessário grande quantia de biomassa para poder extrair a mesma quantidade de energia que um litro de gasolina, por exemplo.
 
A utilização moderna de biomassa procura resolver esse dois aspectos: o ambiental promovendo substituição (total ou parcial) de combustíveis fosseis, e concebendo sistemas de produção e utilização sem acrescentar emissões de CO2;  e o aumento de sua eficiência energética através de rotas tecnológicas onde é possível aumentar sua densidade energética.
 
Entre as formas modernas de utilização de energia da biomassa estão as tecnologias de produção de bio-combustíveis. Hoje em dia temos o etanol que é o principal bio-combustível sendo utilizado em escala comercial e também o bio-diesel, consumido em escala muito menor principalmente em alguns países da Europa e os EUA, mas com grandes perspectivas de aumento de sua utilização.
 
O Brasil já promove uma substituição parcial da gasolina pelo etanol, que chega a representar, em termos de energia térmica, mais de 40% do consumo anual de gasolina. A utilização de óleos de origem vegetal para a produção de eletricidade e para transporte são outras possibilidades que ainda não alcançaram escalas significativas no país e que pode contribuir para a substituição do óleo diesel, hoje o derivado de petróleo de maior consumo no país. O Brasil também está implementando instrumentos importantes para criar um mercado mais estável para algumas fontes renováveis, entre elas a biomassa. Duas dessas medidas são o PROINFA e a obrigatoriedade da universalização dos serviços de energia elétrica.
 
As vantagens de utilização de bio-diesel são conhecidas, vale mencionar as vantagens ambientais com a redução de emissões locais (especialmente enxofre e particulados, hidrocarbonetos), em substituição ao diesel contribui para estabilização das emissões de CO2. Além disso, possui impactos positivos na balança comercial evitando a importação de petróleo,  e possibilita a geração de emprego e renda em toda sua cadeia produtiva e de transformação, criando também novos mercados para as oleaginosas.
 
A utilização de bio-diesel como combustível para geração de eletricidade em comunidades isoladas pode contribuir significativamente para a geração de renda local e inclusão social de comunidades remotas, além de promover a substituição do diesel subsidiado que necessita ser transportado até essas regiões.
 
É bastante razoável afirmar que o Brasil já possui um grande potencial e nível tecnológico adequado para atuar no mercado internacional de bio-combustíveis. No entanto, ainda é necessário garantir níveis maiores de competitividade em relação a Europa e os EUA, especialmente devido aos investimentos e esforços que estão em curso nesses países.

 
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Gilberto

Professor Titular em Sistemas Energéticos do Departamento de Energia, Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP (Universidade de Campinas), Pesquisador Sênior do Núcleo Interdisciplinar de Energia da UNICAMP (NIPE-UNICAMP). Diretor Executivo da International Energy Initiative-IEI, uma pequena, organização não-governamental internacional, independente e de utilidade pública conduzida por especialistas em energia, reconhecidos internacionalmente e com escritórios regionais e programas na América Latina, África e Ásia. O IEI é responsável pela edição do periódico Energy for Sustainable Development, da editora Elsevier.

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