Eficiência energética e fontes renováveis

IHU On-line  09/dez/2010

Faltam políticas públicas para eficiência energética e fontes renováveis

?O Brasil, especialmente em algumas fontes, tem toda a capacidade de inovar e ter um papel importante no panorama internacional, competitivamente?, disse o matemático Gilberto de Martino Jannuzzi, na entrevista que concedeu por telefone, nesta semana, à IHU On-Line. Docente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Faculdade de Engenharia Mecânica, Departamento de Energia, ele acredita que prospecção tecnológica é algo importante para o futuro e ?não podemos perder essa chance de jeito nenhum?.

Jannuzzi é graduado em Matemática pela Unicamp e doutor em Energy Studies, pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, com a tese The structure and development of the persoal demand for fuels and electricity in Brazil. É pós-doutor, pela Universidade da Califórnia, EUA, pelo UNEP Collaborating Centre on Energy and Environment/Risoe Nat. Laboratory, UNEP CENTRE EE, Dinamarca, e pelo Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), também nos EUA. Livre docente pela Unicamp, é autor de inúmeros artigos técnicos e das seguintes obras, escritas em parceria com outros pesquisadores: Introdução ao estudo do planejamento de sistemas energéticos (Campinas: Unicamp, 1994); Tools and methods for Integrated Resources Planning: improving energy Efficiency and protecting the environment (Rolskilde, Dinamarca: UNPE Collaborating Centre on energy and environmet, 1997); Planejamento integrado de recursos energéticos: meio ambiente, conservação de energia e fontes renováveis (Campinas: Autores Associados, 1997); e Prospecção tecnológica em energia (Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2005). De sua autoria individual, destacamos: Políticas públicas para eficiência energética e energia renovável no novo contexto de mercado: uma análise da experiência recente dos EUA e do Brasil (Campinas: Editora Autores Associados, 2000).

IHU On-Line ? O que significa a opção do Brasil pelo sistema energético de hidrelétricas?

Gilberto Jannuzzi ? É uma opção natural e razoável para um país que tem o potencial que tem. Não é nada surpreendente. Países que têm uma reserva grande, como Brasil, Noruega e Canadá, possuem uma participação correspondente na sua matriz de produção de eletricidade.

IHU On-Line ? Quais são os limites do sistema hidrelétrico atual?

Gilberto Jannuzzi ? Os limites sempre são ditados pela capacidade que um país tem de produzir a energia de maneira economicamente atraente. É uma combinação da distância dessas reservas de hidroeletricidade e dos centros de consumo, em comparação com as outras fontes de geração de energia elétrica.

IHU On-Line ? E, hoje no Brasil, o senhor vê algum tipo de limite desse gênero?

Gilberto Jannuzzi ? Já começamos a enfrentar limites no que se refere aos custos. Os empreendimentos começam a ficar mais caros, já ficam mais distantes do centro de consumo, e essa é uma razão que os encarece. Esses empreendimentos começam a ter que incorporar novas exigências que, no passado, eram menos levadas em conta, especificamente a questão ambiental e de deslocamento da população. Esses são os limitantes que vão começar a agravar o processo da participação da hidroeletricidade na matriz brasileira.

IHU On-Line ? O sistema hidrelétrico, estruturado para projetar energia em grande escala, poderá se tornar ultrapassado?

Gilberto Jannuzzi ? Há várias maneiras de produzir eletricidade. Usamos a hidroeletricidade, mas também aqui no Brasil se usa a energia nuclear e de termoelétricas. O que vai começar a acontecer é uma diversificação das maneiras de produzir eletricidade. Teremos crescentemente a participação de outras fontes, inclusive de energia eólica, que aí no sul começa a ser importante.

IHU On-Line ? Que modelo de planejamento energético deveria ser adotado no Brasil, para garantir a distribuição de energia no futuro?

Gilberto Jannuzzi ? Aqui na Unicamp, temos trabalhado bastante dentro de um conceito que chamamos de planejamento integrado de recursos energéticos. E entendemos que faz parte do processo de planejamento não ficar apenas preocupado com a oferta de energia, mas também olhar a maneira como estamos consumindo energia, se não podemos também evitar desperdícios, investir em maneiras mais eficientes de consumir eletricidade e todos os combustíveis. Por isso, é importante integrar as opções de oferta e demanda.

IHU On-Line ? Como o Brasil pode reformular a estrutura de produção e consumo de energia, e ao mesmo tempo, controlar o crescimento de emissão de gases estufa?

Gilberto Jannuzzi ? Nós realizamos um estudo específico para eletricidade, no ano passado, para a WWF, onde fizemos esse tipo de hipótese. E sugerimos maneiras de estabilizar o nível de emissões, mas continuar atendendo a população com os serviços de eletricidade. O estudo trabalha muito a questão da eficiência energética, que nós podemos melhorar bastante e também analisa uma maior participação de fontes renováveis. Essa é a estratégia possível para estabilizar as emissões do setor.

IHU On-Line ? Qual é a importância de pensar numa prospecção tecnológica ampla para a área de energia?

Gilberto Jannuzzi ? Isso é fundamental. O Brasil, especialmente em algumas fontes, tem toda a capacidade de inovar e ter um papel importante no panorama internacional, competitivamente. A biomassa é um dos elementos em que temos vantagens comparativas, recursos e capacidade intelectual, mesmo do setor industrial, de desenvolver tecnologias de ponta, que possam ser utilizadas em muitos outros lugares pelo mundo afora. A prospecção tecnológica é algo importante para o futuro e não podemos perder essa chance de jeito nenhum.

IHU On-Line ? Que medidas devem ser tomadas para criar uma matriz energética limpa?

Gilberto Jannuzzi ? No estudo que fizemos para a WWF, elencamos nove medidas que ajudariam a ter uma matriz mais limpa, tentando reverter, no caso da eletricidade, o aumento da participação de fontes fósseis e o aumento das emissões. Naquele estudo, há detalhes dessas sugestões para tornar nossa matriz de eletricidade mais limpa. Tudo passa por uma necessidade de tornarmos a nossa estrutura de consumo muito mais eficiente do que ela é hoje, e também de um esforço forte para viabilizar uma maior escala na utilização de fontes renováveis que não a hidroeletricidade de grande porte.

IHU On-Line ? Se existem opções energéticas para o Brasil, com grande potencial de uso como a eólica, a solar ou a de biomassa, por que a demora em investir nessas alternativas?

Gilberto Jannuzzi ? Existem várias dificuldades. Essas alternativas têm também vários problemas, que é importante serem considerados. Um deles é que são fontes de energia mais caras. Outro problema é o da nossa escala de consumo, com grandes exigências de energia. E essas fontes são descentralizadas, de pequeno porte, não são constantes, ou seja, não duram o ano inteiro. Elas têm uma série de dificuldades, e não poderíamos estar somente dependendo delas. O que temos que fazer é saber usar todas essas fontes. Todas elas podem ter um papel importante. No entanto, nossos planejadores não têm sido muito criativos. São preferidas fontes convencionais, porque o planejamento do País ainda privilegia essas soluções. Também não podemos negar que existem grandes interesses, já mobilizados, em favor das fontes convencionais e existe maior dificuldade de mobilização desses mesmos interesses econômicos e políticos em favor das fontes renováveis. Esse é um outro fator importante. Não é só uma questão técnica nem econômica, mas também envolve a participação de agentes que têm maior interesse na solução tecnológica convencional.

IHU On-Line ? Que relações o senhor estabelece entre a eficiência energética brasileira e a americana, no livro Políticas públicas para eficiência energética e energia renovável no novo contexto de mercado: uma análise da experiência recente dos EUA e do Brasil?

Gilberto Jannuzzi ? No caso dos Estados Unidos, durante muito tempo, eles tiveram um papel bastante inovador, exatamente concebendo essas políticas e criando um mercado. Eles tiveram grandes oportunidades, grandes experimentos, criando um mercado para fontes renováveis e eficiência energética. Nessa Era Bush, muito foi erodido, mas conseguimos ver novamente um papel importante dessas políticas públicas em vários estados, na Califórnia, por exemplo, e a questão ambiental sendo o pano de fundo para essas mudanças. No Brasil, ainda não temos nada nessa escala. Não temos uma política pública para a eficiência energética e não temos uma política pública para fontes renováveis ainda. Essa é uma grande diferença que nós ainda guardamos em relação aos Estados Unidos.

(IHU On-line)

http://www.zeeli.pro.br
_______________________________

Jose Eli Da Veiga

UNIVERSITY OF SAO PAULO – BR
Dep. Economics – Professor
_____________________________

Share

Gilberto

Professor Titular em Sistemas Energéticos do Departamento de Energia, Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP (Universidade de Campinas), Pesquisador Sênior do Núcleo Interdisciplinar de Energia da UNICAMP (NIPE-UNICAMP). Diretor Executivo da International Energy Initiative-IEI, uma pequena, organização não-governamental internacional, independente e de utilidade pública conduzida por especialistas em energia, reconhecidos internacionalmente e com escritórios regionais e programas na América Latina, África e Ásia. O IEI é responsável pela edição do periódico Energy for Sustainable Development, da editora Elsevier.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *