Parabéns, Ozônio!

 

Gato fofo malhado de óculos escuros espelhado em fundo rosa.
Quem não tem colírio usa óculos escuros. Adaptada de foto de Anna Shvets no Pexels

Hoje é o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio, esse fino, mas poderoso, escudo que protege os seres vivos contra os raios ultravioletas do Sol. A exposição excessiva a esses raios aumenta o risco de catarata, câncer de pele e sistema imunológico baixo, bem como pode danificar a vida de plantas, seres unicelulares e ecossistemas aquáticos. Por isso, mesmo sendo um escudo poderoso, “use protetor solar” (e escute esses outros conselhos dados por Mary Schmich nesse hit dos anos 90, “Wear Sunscreen”🧴).

Há 36 anos atrás, no dia 16 de setembro de 1987, os países estabeleceram metas em comum acordo para redução e eliminação de Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDOs) produzidas e utilizadas por indústrias e em equipamentos, como ares-condicionados e refrigeradores, ao constatarem que havia um grande “buraco” na camada. Exemplos de SDOs são os CFCs (clorofluorcarbonos), HCFCs (hidroclorofluorcarbonos) e brometo de metila, pois essas substâncias possuem átomos de cloro, flúor ou bromo que reagem com o ozônio estratosférico, eliminando-o. O Protocolo de Montreal foi esse acordo internacional que hoje faz aniversário e que fez e continua fazendo bastante.

Mostra um desenho infantil de múmia com a língua de fora tentando assustar.
Autoretrato do autor em 2066… 😛 . Imagem de niyosstudio por Pixabay

Todas essas medidas que foram, que continuam e se ainda continuarem sendo tomadas farão a quantidade de ozônio voltar aos níveis de 1980 por volta de 2066. Sim, você leu certo, esse escudo protetor apenas receberia alta médica daqui a 43 anos 😱, ou seja, quem nasceu no ano do Protocolo de Montreal, em 1987, terá 79 anos. E você terá quantos anos? (eu estarei como na foto ao lado).

 

Grandes poderes, grandes responsabilidades (obg, Stan!)

Quando se mexe com a saúde de nosso planeta, ou seja, quando a humanidade produz impactos negativos em escala planetária 🌎, o trabalho que dá para reverter isso é gigantesco e os resultados demoram a aparecer. Por isso é importante que as lideranças do mundo ajam rápido e persistentemente (alguém aí fez um paralelo com o aquecimento global? Voltarei a esse urgente tema mais adiante).

Os resultados desse planetário esforço demoram a aparecer, mas aparecem. Em 2022 o potencial de destruição da camada de ozônio das SDOs na atmosfera estava 18% abaixo do seu pico em 1987. Sim, foram 35 anos de esforço mundial para reduzir essa quantidade. Ainda falta uma longa jornada de mais de seis décadas para a cura total da camada de ozônio, mas estamos no caminho certo se continuarmos adotando e cumprindo essas medidas.

Como assim seis décadas (sessenta anos) se você falou em 43 anos mais acima do texto? [está prestando atenção, hein? 👏👏👏] Bem, na média geral é em 2066, mas já nas regiões polares, que são onde se concentra a maior destruição da camada de ozônio, apenas voltará aos níveis de 1980 duas décadas depois, por volta de 2086 (eu não mudarei nada, estarei bem conservado, ainda o mesmo da figura 💀😊) .

Protocolo de Montreal também combate o aquecimento global

A celebração de aniversário do Protocolo de Montreal 🎂🎈 também precisa se dar pelos benefícios que trouxe ao combate ao aquecimento global antes do tão falado Acordo de Paris. As Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDOs) são também substâncias com alto potencial de aquecimento global. Para se ter uma ideia, diversas dessas substências são milhares de vezes mais poderosas em aumentar a temperatura do planeta quando comparadas com a mesma quantidade do principal gás de efeito estufa que é o gás carbônico (CO2). Por exemplo, o CFC-11 e CFC-12 possuem potencial de aquecimento global de 6.410 e 12.500, respectivamente. Dito de outra forma, 1 quilo de CFC-11 equivale ao mesmo efeito de aquecimento global de 6,41 toneladas de CO2 💣💥.

De acordo com resultados de pesquisadores de universidade australiana, o Protocolo de Montreal já evitou o aquecimento de cerca de 1 °C sobre o Ártico 🐻‍❄️🧊 em 2019 e evitará entre 3 a 4 °C na mesma região até 2050. Ainda segundo eles, evitará o aumento médio de 1 °C de temperatura em todo planeta em 2050. Em termos de comparação, estima-se que o Protocolo de Kyoto, considerado como a primeira tentativa mundial de redução de gases de efeito estufa, terá o impacto de reduzir a temperatura média global em cerca de 0,12 °C em 2050. Logo, o Protocolo aniversariante do mês está de parabéns pelo feito.

O Protocolo de Montreal turbinado para o clima

Se você acha que o Protocolo fez e está fazendo indiretamente muito pelo clima, por ser um acordo sobre ozônio apenas, ele foi turbinado em 2016 para combater especificamente o aquecimento global. Nesse ano foi assinada, na capital de Ruanda, a Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, incluindo os HFCs (hidrofluorcarbonos) no rol das Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDOs). Os HFCs vêm sendo usados principalmente em equipamentos de refrigeração e ar condicionado como substitutos aos HCFCs por possuírem nenhum ou muito pouco potencial de destruição da camada de ozônio. Por outro lado, possuem elevado potencial de aquecimento global. E o impacto que a Emenda teria se cumprida por todas as partes no combate ao aquecimento global é grande. Mas isso fica para a próxima postagem, pois deixo esse mistério em homenagem à aniversariante de ontem, Agatha Christie, cujos livros de mistério acompanharam minha pré-adolescência com o incentivo de minha mãe. Parabéns para você também, Rainha do Crime!

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📖Dica de leitura: as informações dessa postagem foram retiradas dos materiais produzidos pelo Scientific Assessment Panel (SAP) do Protocolo de Montreal. Além dos relatórios quadrienais, recomenda-se folhear o trabalho do SAP “Vinte Perguntas e Respostas sobre a Camada de Ozônio: 2022 Update”

#DiadoOzonio #ProtocoloDeMontreal #AquecimentoGlobal

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Rodolfo Dourado Maia Gomes

Formado em engenharia mecânica e com mestrado em Planejamento de Sistemas Energéticos, atua como pesquisador no International Energy Initiative - IEI Brasil e atualmente é diretor executivo do IEI Brasil desde 2020. As áreas de interesse são em política energética, científica e tecnológica para eficiência energética e fontes renováveis de energia e também nos estudos sociais da ciência e tecnologia.

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