Galinha ciborgue vem do futuro para evitar aquecimento global

Sim, é isso mesmo que você leu no título: uma galinha ciborgue viaja no tempo para tentar salvar o planeta das consequências do aquecimento global. Esse é o enredo da websérie de animação Kigalinha, que leva o nome da protagonista galinácea.

Kigalinha viaja para o Rio de Janeiro de 2019 para encontrar Chico, um jovem cheio de energia e com muito potencial (que ele ainda não reconhece), e dar a ele uma importante missão ao longo da história. Ela explica, e leva Chico para ver, quais as consequências das mudanças climáticas para o meio ambiente. Um dos passeios acontece na Amazônia de 2050 (usando um meio de transporte, digamos, nada convencional). Kigalinha também mostra para o garoto qual a relação entre hábitos do dia a dia no uso de eletrodomésticos, como o ar-condicionado, e o aquecimento do planeta. 

O objetivo da websérie animada, segundo seus criadores, é tratar de temas complexos e mais difíceis de serem percebidos, como o aquecimento global e a eficiência energética, de forma divertida e envolvente, mas sem perder a dimensão da seriedade desses temas e o rigor da informação científica.

Ficou curioso? A seguir você confere o primeiro episódio da websérie, que é resultado de um projeto desenvolvido pelo International Energy Initiative – IEI Brasil com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS):

Os outros cinco episódios, com a continuação da história, podem ser assistidos aqui.

Por que o nome Kigalinha?

O nome da protagonista Kigalinha faz referência à Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, uma importante medida assinada por mais de 170 países em 2016, entre eles o Brasil. O nome Kigalinha une as palavras Kigali e Galinha para dar origem à personagem, que também recebeu pitadas de cultura geek.

O objetivo da Emenda de Kigali é reduzir gradualmente a produção e o uso dos hidrofluorcarbonetos (HFCs), substâncias que causam o efeito estufa. Os HFCs têm potencial de aquecimento global até 12 mil vezes maior do que o principal gás de efeito estufa, o gás carbônico (CO2).

A maior parte dos HFCs no Brasil é usada como fluido refrigerante no setor de refrigeração, principalmente em aparelhos de ar condicionado, que estão presentes em nossas casas, escritórios e automóveis. Os HFCs também são muito utilizados em refrigeradores, câmaras frias e balcões refrigerados de frigoríficos, de supermercados, de hospitais, de caminhões, entre outros.

No momento em que este post é escrito, 136 países já ratificaram a Emenda. Isso quer dizer que eles já cumpriram todas as etapas da legislação do país para que a Emenda tenha efeito de lei nacional. Aqui no Brasil, esse caminho passa pela aprovação da Câmara dos Deputados, do Senado e, por último, do presidente da República. Hoje, a Emenda de Kigali aguarda ser votada no Senado, após percorrer um longo caminho na Câmara, onde aguardava ser votada desde 2019.

Galinha ciborgue: animal, máquina e com traços humanos

A Kigalinha é uma galinha, animal escolhido entre os demais pela proximidade com a palavra Kigali. Mas ela tem pedaços de máquina em seu corpo, como o olho biônico e o tablet na barriga. Além disso, ela também tem traços humanos: anda sobre os dois pés e se move igual gente, fala ao invés de cacarejar e tem sentimentos (a irritação é um deles como você poderá perceber nos episódios rs…). Por tudo isso, a Kigalinha pode ser considerada uma ciborgue.

Em seu Manifesto Ciborgue (2000, p. 36), Donna Haraway define:

Um ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de
máquina e organismo, uma criatura de realidade social e também
uma criatura de ficção. Realidade social significa relações sociais
vividas, significa nossa construção política mais importante,
significa uma ficção capaz de mudar o mundo.

A autora une o conceito de ciborgue – que, por sua vez, traz dentro de si a união entre humano, animal e máquina – às noções de realidade social, relações sociais, construção política e (o meu preferido) “ficção capaz de mudar o mundo”. A Kigalinha nasce com essa missão: na ficção, ela vem para ensinar sobre as consequências de não fazer nada para conter o aquecimento global; na realidade, ela é um personagem criado para a divulgação científica de conceitos ligados às mudanças climáticas e ao uso da energia. O objetivo é transmitir o conhecimento de uma forma leve ao público jovem e, assim, tentar transformar a realidade, mudar o mundo. 

Referências 

Haraway, D. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: Antropologia do ciborgue – as vertigens do pós-humano. Tomaz Tadeu da Silva org., Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 33 – 118.

Texto escrito por Gabrielle Adabo, com revisões e sugestões de Rodolfo Gomes e Cristiane Bergamini.

Share

Gabrielle Adabo

Graduada em Ciências Sociais e em Jornalismo, é especialista em Jornalismo Científico e mestra em Divulgação Científica e Cultural pelo Labjor da Unicamp. Atua como jornalista no International Energy Initiative - IEI Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *