Projeto de Extensão “Meninas na Ciência” da UFSC é uma das novas iniciativas para formar mulheres cientistas

“Juntas pelo fomento do interesse e participação de meninas e mulheres nas ciências e tecnologia”

O Projeto

Dados dos censos de educação superior no Brasil já demonstraram que as mulheres são, há muitos anos, maioria entre os ingressantes nas universidades. Entretanto, esse ingresso tem sido “dicotomizado”, uma vez que elas acabam escolhendo profissões consideradas mais “femininas”, como as áreas de saúde e de humanidades. Como consequência, profissões de exatas, como é o caso da física, acabam recebendo e formando uma concentração muito baixa de mulheres [1].

O projeto de extensão Meninas na Ciência, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é uma das diversas iniciativas que buscam resolver esse problema. Coordenado pela professora Gabriela Kaiana Ferreira, do Departamento de Física, e com a colaboração de alunas de diversos cursos de graduação, ele surgiu da percepção do baixo número de matrículas femininas e altas taxas de evasão de estudantes mulheres na graduação em Física [2].

O objetivo da iniciativa é contribuir para a desconstrução de impressões relacionadas a figura tradicional do que é ser cientista, resgatar a história das mulheres na ciência, ressaltando os contextos em que atuaram e construir uma perspectiva feminista da ciência, questionando os pressupostos base que orientam a prática científica.

“Tem como objetivo geral estimular o interesse de alunas da Educação Básica pelas ciências exatas e tecnologias e incentivar a busca por profissões e carreiras científicas entre as meninas e mulheres. Entre os objetivos específicos estão: combater preconceitos existentes com relação a presença de mulheres nas carreiras e profissões científicas e tecnológicas e divulgar estas possibilidades profissionais nessas áreas; desenvolver ações com as alunas da educação básica em que tenham contato direto com atividades e práticas científicas; contribuir para o envolvimento das estudantes de graduação em Física em projetos que busquem desenvolver suas habilidades em espaços que lhe sejam asseguradas condições de igualdade de gênero”. 

Para tanto, ele possui diversas frentes de atuação: preparo de atividades com conteúdo científico para realizar com crianças; estudo, análise e apresentação de dados e reflexões sobre o contexto das mulheres na ciência; divulgação de outros projetos voltados ao incentivo a mulheres na ciência; informações sobre o mundo científico, em especial o da física, como notícias e curiosidades, indicações de livros e filmes, e publicação de biografias de mulheres que contribuíram para a história da ciência. 

O projeto em si, conta com uma equipe de mulheres que fazem tudo acontecer: 

“A equipe é composta por voluntárias de áreas variadas das ciências – exatas e da terra, biológicas, saúde e humanas -, formando um grupo interdisciplinar e de diversas instituições e regiões do Brasil, o que contribui para o desenvolvimento de discussões mais plurais sobre as problemáticas abordadas”.

Como funciona na prática e qual o público-alvo?

No início do projeto, as bolsistas e voluntárias da UFSC focaram em atividades de formação de meninas e mulheres, por meio de leituras de textos, produção de roteiros de leituras e jogos didáticos. 

“O projeto prevê uma série de atividades desenvolvidas pelas estudantes de graduação. Entre os meses de março a agosto de 2020 focamos em atividades de formação sobre a temática das meninas e mulheres com as bolsistas e voluntárias do projeto, realizando leituras de textos, produção de roteiros de leituras e jogos didáticos”. 

A partir de agosto de 2020, o projeto foi dividido em duas frentes: uma delas consiste na divulgação científica e interação com o público pelo perfil no Instagram; e a outra na elaboração e desenvolvimento de um curso online que abordará temas de Ciência e Arte (a ser aplicado em 2021). 

“Desde agosto de 2020, a partir do momento que o projeto começou a crescer e a agregar mais voluntárias, adotamos uma estratégia mais dinâmica de desenvolvimento das tarefas, divididas em dois grupos que se dedicam em duas frentes distintas: uma delas consiste na divulgação científica e de interação com o público por meio da gestão de um perfil no Instagram; e a outra na elaboração e desenvolvimento de um curso online que abordará temas de Ciência e Arte a ser aplicado em 2021”.

A seleção das participantes do curso ainda não ocorreu, mas as inscrições e seleção serão amplamente divulgadas no canal oficial do projeto (@meninasnaciencia_UFSC). Na seleção de bolsistas e voluntárias, são escolhidas meninas e mulheres que tenham interesse pelo tema para contribuir com o desenvolvimento das atividades, e que estejam vinculadas a alguma instituição de ensino (educação básica ou superior).

Algumas atividades mais específicas são voltadas para meninas estudantes da educação básica, enquanto outras podem atingir até ensino superior e pós-graduação, sendo os temas centrais desenvolvidos para alcançar a todas.

A duração do projeto é de 12 meses e as perspectivas é que seja renovado todo ano.

Metas

Projetos como esse são fundamentais no combate aos preconceitos existentes com relação à presença de mulheres nas carreiras e profissões científicas e tecnológicas. Divulgar as possibilidades profissionais nessas áreas contribui para que cada vez mais meninas se envolvam diretamente em atividades e práticas científicas e possam se desenvolver em espaços que lhes assegurem igualdade de gênero e de oportunidades.

Resultados

Muitas vezes é difícil medir os resultados quando se trabalha em projetos voluntariamente e muitas vezes sem recurso. Mas o Projeto Meninas na Ciência da UFSC tem tido alguns resultados que compartilharam conosco: 

“Dentre os resultados obtidos até o momento, podemos mencionar o desenvolvimento de produtos e materiais didáticos, como por exemplo, os roteiro de leituras de livros sobre mulheres nas ciências, um jogo didático sobre a biografia e história de mulheres nas ciências, o desenvolvimento de um artigo, a concepção, desenvolvimento e gerenciamento de um perfil no Instagram e a formação de grupos de discussão. Com exceção do perfil no instagram, nenhuma atividade pode ser aplicada no contexto das escolas de educação básica, mas parte delas têm sido adaptadas ao perfil do Instagram. Assim, não se pode observar e afirmar qual o grau de interesse das meninas pelas atividades, pois nosso perfil do instagram atinge um público maior que apenas o de meninas.”

A pandemia tem obrigado de alguma maneira a adaptação a novas rotinas e apesar da educação presencial ser indispensável, neste contexto, os projetos têm conseguido alcançar mais pessoas e inclusive a meninas e mulheres que antes não conheciam ou que não conseguiam participar deste tipo de projetos pois geralmente eram oferecidos nas grandes cidades. As protagonistas nos contam como a pandemia tem afetado o projeto: 

“Contexto da pandemia, mudança da nossa rotina pessoal/profissional, dificuldade de realizar as atividades inicialmente previstas, e a necessidade de adaptação das atividades do projeto, do público alvo, do contexto de aplicação… 

Dificuldades de persistência para desenvolver as atividades. Desânimo por conta da adaptação e readaptação das atividades. Falta de contato com pessoas. Projeto de extensão que parecia não estar cumprindo com a sua essência/natureza enquanto atividade de extensão”.

Próximas etapas

Trabalhar em projetos de extensão com a universidade requer de um bom planejamento das atividades futuras e as entrevistadas têm bem planejado como serão os anos que estão por vir e traçaram metas de curto, médio e longo prazo:

Em curto prazo (2020-2021), nossas perspectivas são concluir e aplicar o curso online com o público alvo. Em médio prazo (2021-2022), nossa perspectiva consiste em aplicar as atividades desenvolvidas presencialmente nas escolas de educação básica, conforme originalmente previsto no projeto. Em longo prazo (2022-2023), com o projeto um pouco mais fortalecido, pretendemos buscar recursos de financiamento para realização de eventos e produção de material para distribuição entre as participantes das atividades.

Projetos como estes mostram que trabalhando juntas, é possível incentivar mais e mais meninas, mostrando para elas as experiências de mulheres que trabalham com ciência e encorajando para trabalhar no que elas quiserem e escolherem ser. 

Sigam o projeto nas redes sociais: https://www.instagram.com/meninasnaciencia_ufsc/

#meninasnaciencia #feminismo #mulheresnaciencia 

Agradecimentos

Agradecemos à Equipe do Projeto de Extensão Meninas na Ciência da Universidade Federal de Santa Catarina

Profª Drª Gabriela Kaiana Ferreira (professora coordenadora)

Raquel Bezerra Duarte de Lima (bolsista)

Bárbara Costi Farias (bolsista)

Anna Carolina Momm (voluntária)

Beatriz Oliveira (voluntária)

Bruna Costa de Oliveira (voluntária)

Jéssika Albuquerque (voluntária)

Jéssica Nascimento (voluntária)

Ivana Ferraz (voluntária)

Laura Bernardina (voluntária)

Luiza Manaut Rodrigues (voluntária)

Maria Eduarda Sangaletti (voluntária)

Thainá Miranda (voluntária)

Autoras: Paula Penedo P. de Carvalho, Gabriela F. Ferreira, Regiane A. de Oliveira, Luisa F. Ríos Pinto

Referências 

[1] ALMEIDA, Rodolfo; ZANLORENSSI, Gabriel. Gênero e raça de estudantes do ensino superior no Brasil por curso e área, 2017. 

[2] MENEZES, Débora et al. A Física da UFSC em números: evasão e gênero. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.35, n.1, p.324-336, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7941.2018v35n1p324 

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