Biotecnologia a serviço das meias indestrutíveis

17/12/2007 – 08h18
Japoneses criam “superfibra” de bicho-da-seda com gene de aranha

da BBC Brasil

Cientistas japoneses conseguiram implantar genes da aranha em bichos-da-seda para a criação de uma fibra duas vezes mais resistente que a seda comum –e que será usada na fabricação de meias especiais.
O novo produto, desenvolvido pelos pesquisadores da Universidade Shinshu, da província japonesa de Nagano, foi apresentado como sendo ultra-resistente. A fibra produzida pelo bicho-da-seda geneticamente alterado é composta de cerca de 10% de seda de aranha e 90% da seda que a larva produz para criar seu casulo.
A fabricante de meias japonesa Okamoto é uma das patrocinadoras da pesquisa e planeja usar a nova fibra na fabricação de meias mais fortes e mais elásticas.

Pois é, não sou mulher, portanto não sei se vale mesmo a pena alterar geneticamente um organismo para ter meias indestrutíveis.

Meu genoma, minha privacidade


Estamos cada vez mais perto de um dos sonhos da medicina: a medicina personalizada. A idéia é simples, conhecer cada pessoa, sua fisiologia, psicologia e genoma, e prevenir ou tratar cada um de acordo com as suas características especificas. Afinal somos diferentes uns dos outros, temos resistências diferentes a doenças e respondemos de maneiras diferentes aos tratamentos. Os seqüenciamentos pessoais de genoma terão um papel essencial nessa nova medicina.

Hoje em dia ainda é demorado e caro fazer seqüenciamento de um genoma inteiro, mas a perspectiva de isso vir a ficar mais fácil é clara. Recentemente um grupo anunciou o seqüenciamento de dois cromossomos de um indivíduo. O líder do grupo, que teve seus cromossomos 23 seqüenciados descobriu algumas coisas interessantes com isso: a seqüência de seu gene ABCC11 indica que ele tem tendência a ter cera de ouvido úmida ao invés de seca; uma repetição de quatro seqüências antes de seu gene MAOA indica um comportamento social normal, já que a presença de apenas três dessas seqüências ocorre em muitas pessoas com comportamento anti-social. Também algumas informações preocupantes foram descobertas. O seu gene APOE está associado a maior risco de doenças cardiovasculares e Alzheimer, e a sua variação do gene SORL1 também está ligado a Alzheimer.

Ótimo saber tudo isto certo? Agora podemos estar mais atentos e prevenir este cara contra estas doenças indicadas pelos seus genes! Mas vamos nos por no lugar do cidadão que foi seqüenciado. Essa tendência a Alzheimer não deve ser fácil de esquecer. Como lidar com esta situação? Muita gente pode se derrotar ou ficar com aquele fantasma da doença que pode aparecer a qualquer momento. Afinal não há ainda cura para isto. Devemos ter claro que estas ligações entre genes e doenças são produto de pesquisas que comparam seqüências de genes de pessoas que tem e não tem Alzheimer, por exemplo. Algumas variações podem estar muito ligadas à doença, e vão aparecer bastante no grupo dos doentes e não muito nos saudáveis. Mas não há um fatalismo, nada é certo. Alguns doentes podem não ter a variação e não-doentes podem possuí-la.

Além do peso psicológico que estes seqüenciamentos pessoais carregam há ainda outras questões em jogo. Como uma empresa de seguros agiria tendo em mãos o perfil genético de seus clientes? Fica claro que a chance de quererem cobrar de forma diferenciada, simplesmente com base nas tendências, é grande. Cobrar por doenças que ainda não surgiram se é que vão surgir. O mesmo vale para a contratação em empresas. Além de provas, entrevistas e dinâmicas, uma gota de sangue poderia ser parte da seleção, e a contratação dependeria de seu perfil genético. Claro que isto seria a base para a descriminação genética, já imaginada no filme “Gattaca“. Mas a sociedade parece estar se prevenindo. Leis que proíbem o uso de informações genéticas por empresas e que garantem a liberdade do indivíduo querer saber ou não essas informações estão sendo aprovadas nos Estados Unidos e discutidas por todo o mundo.

Referências:

Your Genes and Privacy – Louise M. Slaughter, Science 11 May 2007: Vol. 316. no. 5826, p. 797

All about Craig: the first ‘full’ genome sequence – Heidi Ledford,Nature Vol 449|6 September 2007