
A doença de Crohn foi descrita em 1932 por Burrill B. Crohn (1884-1983) e se trata de uma doença inflamatória intestinal crônica, ainda sem cura, que afeta na sua grande maioria adultos jovens, causando dor abdominal, diarreia, febre, entre outros sintomas. Nosso grupo de pesquisa tem se dedicado há mais de 15 anos no estudo de fatores relacionados à sua etiologia, vias moleculares envolvidas, desenvolvimento de biomarcadores, e estabelecimento de novos alvos terapêuticos.
Por se tratar de uma doença multifatorial e com grande espectro de manifestações clínicas, nem todos os pacientes respondem da mesma maneira a uma classe de medicamentos, daí a importância de termos mais opções terapêuticas. Nosso grupo de pesquisa realiza experimentos no laboratório de Investigação em Doenças Inflamatórias Intestinais, localizado no Gastrocentro da Unicamp, e pertencente à rede de laboratórios de pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Em 2020, o nosso Laboratório passou a fazer parte do Diretório do CNPq de Grupo de Pesquisa no Brasil.
Uma característica importante de nossas pesquisas é que, em sua maioria, são de caráter translacional, ou seja, é aquela pesquisa que tem seu início na ciência básica e sua conclusão na aplicação prática do conhecimento apreendido. A pesquisa translacional é entendida como pesquisa científica que reduz o distanciamento entre a produção do conhecimento nos laboratórios e a aplicação prática na medicina, e se propõe a preencher este vácuo existente entre o pesquisador da ciência básica e o clínico em sua prática. Assim, em nossos estudos, utilizamos amostras biológicas humanas, para testar diretamente nossas hipóteses no tecido/célula de interesse.
Uma das pesquisas mais importantes do nosso grupo trata da avaliação do chamado tecido adiposo mesenterial na doença de Crohn: uma característica importante dessa doença é o evidente aumento desse tecido, que fica próximo as alças intestinais. Nossa equipe sequenciou o RNA de amostras dele e da parte final do intestino delgado de pacientes que foram operados e de pacientes-controles. Com o sequenciamento, estudamos quais vias imunológicas foram mais ativadas pela doença e observamos que a principal assinatura transcricional é caracterizada por genes que codificam estruturas dos plasmócitos – células de defesa produtoras de anticorpos – além de linfócitos B e T.
Não sabemos exatamente se esse aumento do tecido adiposo mesenterial é causa ou consequência da doença, mas identificamos nele células imunes de memória que podem deflagrar os episódios de recorrência da doença, mediante algum estímulo, ou mesmo aumentar o processo inflamatório.
Com isso, contribuímos para elucidar o papel do tecido adiposo mesenterial no armazenamento de células imunes e também no envolvimento de respostas imunes controladas por antígenos. Os achados da pesquisa reforçam o papel fundamental do sistema imune na doença de Crohn, classificada atualmente como imunomediada. Considerando o amplo escopo de sintomas e de evolução da doença, a pesquisa abre caminhos para que se busquem tratamentos mais específicos e direcionados para o perfil de cada paciente.
Pra saber mais, acesse:
https://agencia.fapesp.br/identificados-genes-alterados-em-pessoas-com-doenca-de-crohn/33916/
Quem escreveu aqui?

Profa. Dra. Raquel Franco Leal
Professora Raquel Leal é associada do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Possui graduação em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (2001), residência médica em Cirurgia Geral (2004) e Coloproctologia (2006). Mestrado (2007) e Doutorado (2009) em Cirurgia pela Universidade Estadual de Campinas. Realizou Pós-Doutoramento junto ao Laboratório de Sinalização Celular da FCM/UNICAMP no período de 2010 a 2011; estágio de Professor Visitante e Pós-doutorado pela Universidade de Chicago em 2012. Pós-doutorado pelo Institut D’Investigacions Biomèdiques August Pi i Sunyer, Hospital Clínic, Universidade de Barcelona no período de 2012 a 2014. Livre-Docência em Coloproctologia pela UNICAMP (2015).
Parabéns a todo o grupo pelo trabalho!
O blog agradece em nome dos(as) pesquisadores(as)!