Con(tra(ns)dições)
No planeta Jilgathar próximo da Nebulosa Hux III, sua população encontra-se em um período de crise, no caso, uma crise social.
Pois neste planeta, os Jilgatarianos costumam nascer em duas variações. Cerca de metade nasce com a marca de um retângulo e a outra metade com a marca de um triângulo.
É claro que nem todos os retângulos são iguais.
Do mesmo modo que nem todos os triângulos são iguais.
Estas marcas influenciam de várias maneiras a forma como os indivíduos crescem, proporcionando algumas características diferentes.
Com o passar do tempo, estipularam-se normas, valores e atitudes para aqueles que nasceram com a marca do retângulo, chamados “retangulares” e para aqueles que nasceram com a marca do triângulo, chamados “triângulares”.
Porém, vários triangulares preferiam aquele conjunto de costumes referente aos retangulares, do mesmo modo, que vários retangulares preferiam aquele conjunto de costumes referente aos triangulares.
Felizmente naquela sociedade, atualmente os direitos e deveres dos Jilgatarianos não faz distinções entre triangulares e retangulares. Sendo uma opção dos próprios Jilgatarianos se reconhecerem como melhor se identificam,
Porém, em Jilgathar existe uma instituição bastante antiga e com imensa influência naquele planeta, mas que não lida bem com essa liberdade de costumes. Seus adeptos mais radicais simplesmente não aceitam os Jilgatarianos que não se identificam com sua marca de nascença, e os dois argumentos que utilizam para rejeitar essa parcela da população são:
- se um jilgatariano nasceu com o triângulo, ele será um triangular, e se nasceu com o retângulo ele será um retangular;
- os jilgatarianos devem formar pares, de um triangular com um retangular.
Diante este conflito, e respeitando que muitos Jilgatarianos são adeptos dessa instituição, vários blogs de Ciências receberam e-mails do outro lado do universo pedindo ajuda para lidar com esse contexto.
Nós do Blog Zero, ficamos sensibilizados com esta crise e discutimos a causa dos Jilgatarianos.
Chegamos a uma linha de raciocínio que pode ser usada para mostrar como os argumentos dessa instituição se contrariam (assim, segue nossa resposta aos Jilgatarianos).
Caros Jilgatarianos,
os argumentos utilizados por esta instituição para não aceitarem esta parcela da população são inconsistentes. Ou seja, é possível mostrarmos que há uma contradição neles. Comecemos pegando hipoteticamente 10 individuos que nasceram com a marca do triângulo e 10 que nasceram com a marca do retângulo.
Vamos supor, que desses 20 indivíduos, 5 com a marca do triângulo preferiram seguir os costumes esperados para os retangulares, e 5 com a marca do retângulo preferiram seguir os costumes esperados para os triangulares.
Com o tempo, estes 20 indivíduos vieram a formar 10 pares, numerados da esquerda para a direita como par 01, até par 10. De fato, estas representam todas as formas de combinar indivíduos considerando estas duas características (marca inicial, marca com que se identifica).
A princípio a instituição vai recusar os pares 01, 02, 09 e 10, pois ambos os argumentos lhes permitem essa exclusão.
Já o par 03, a instituição incluirá sem ressalvas, pois está de acoro com ambos os argumentos.
A contradição entretanto vem com os pares 04, 05, 06, 07 e 08.
- Se for aplicado o 1o e o 2o argumentos, a instituição poderá excluir os pares 04 e 05. Mas precisará incluir os pares 06, 07 e 08.
- Se for aplicado apenas o 2o argumento, a instituição poderá excluir os pares 07 e 08. Mas precisará incluir os pares 04, 05 e 06.
- Nenhum dos dois argumentos permitem excluir o par 06.
Em ambos os casos o par 06 está a salvo nesta situação. Mas a contradição reside na impossibilidade de excluir ao mesmo tempo os pares 04, 05 e os pares 07 e 08.
Ou seja, destes 5 pares possíveis que os radicais da instituição não admitem, seus mesmos argumentos não possibilitam excluir mais do que 2 desses pares ao mesmo tempo. De modo, que compulsoriamente, ao excluírem 2 desses pares pelo uso destes argumentos, os mesmos corroboram para a inclusão dos outros 3 pares.
Apesar de ainda não representar o cenário ideal para o fim desta crise social, acreditamos que este raciocínio possa mostrar que há uma contradição (inconsistência) nos princípios que levam a rejeição integral desta parcela da população Jilgatariana.
Ficamos a disposição para qualquer dúvida que possam ter sobre esta argumentação.
Att. Equipe Blog Zero
Como referenciar este conteúdo em formato ABNT (baseado na norma NBR 6023/2018):
SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. Con(tra(ns)dições). In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da Unicamp. Volume 7. Ed. 1. 1º semestre de 2022. Campinas, 03 jan. 2022. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/zero/3603/. Acesso em: <data-de-hoje>.