Rejeitar ≠ Ignorar

A alguns dias atrás recebi um meme da Sabris, uma amiga muito boa de discussões (instagram.com/acqua.sabre/ youtube.com/@acqua-sabre ). O meme mostra três cenários, comparando conceitos de Matemática, Física e Biologia ensinados em um nível básico, em comparação com suas discussões em um nível mais avançado:

Minha primeira impressão sobre este meme, e talvez a mais comum, é que ele fazia uma crítica APENAS sobre a dificuldade que as pessoas têm em aceitar que sexo é diferente de gênero, e que gênero não é algo binário.

Porém há uma outra mensagem presente neste meme, e darei uma dica:

  • Por que o atrito foi ao psicólogo?
  • Porque ele foi sempre desprezado.

Tudo bem se você não riu, mas lembre-se das suas aulas de Física, na hora que aprendemos os primeiros problemas de mecânica clássica, ouvimos repetidas vezes a mesma frase acompanhando o enunciado: ignorar o atrito e a resistência do ar.

Essa é uma situação em que deliberadamente “deixamos pra lá” o efeito do atrito e da resistência do ar, para seguirmos com as ferramentas que temos em mãos, e sermos capazes de calcular o deslocamento, velocidade e aceleração de um objeto. Mas ninguém se colocaria a pensar que o atrito e a resistência do ar não existam, pois isso é diretamente perceptível aos nossos sentidos.

Já nos três quadrinhos do meme, vemos situações em que os conceitos ensinados de “forma básica” parece (na melhor das intenções) envolver uma intencionalidade de quem leciona, de enxergar como uma simples ação de ignorar um assunto do qual não haja ferramentas suficientes para se tratar na ocasião. Porém, diferente do atrito ou resistência do ar, os números complexos ou os outros estados da matéria podem não ser perceptíveis no nosso dia-a-dia:

Fui na padaria comprar um leite “condensado de Bose-Einstein” e paguei (5 + 3i)$.

Assim, a grande questão que este meme trouxe nesta discussão que compartilho com você leitor, é a diferença entre ignorar e rejeitar a existência dos conceitos.

Ouvimos durante a escola que raízes quadradas de números negativos não existem, mas chega um momento em que começamos a “enxergar” este conceito como forma de resolver situações-problemas mais complexas.

Ouvimos durante a escola que existem somente 3 estados da matéria, mas chega um momento em que conhecemos experimentos que mostram existirem outros estados.

São conceitos ensinados erroneamente, mas que a sociedade parece retificar mais facilmente devido à sua relação direta com a resolução de problemas e averiguação com instrumentos de medida considerados imparciais (se funciona, então deve ser verdade).

O problema em si volta-se à essa necessidade de retificar um conceito ensinado de forma errada. Como por exemplo, ensinar que raiz quadrada negativa não existe, e alguns anos depois dizer que agora isso existe… mas como resolver essa situação? Então, a divulgação científica é um caminho (não o único, mas um que posso falar com alguma experiência).

Por exemplo, se tratando de números Complexos tenho o post “Funções complexas tem gráficos fofos”.

Não espero que você venha a aprender funções complexas somente lendo este post, mas ele mostra que funções complexas existem e podem gerar coisas fofinhas :3.

Quando você tiver as ferramentas conceituais suficientes para trabalhar com funções complexas ou outros conceitos avançados em alguma ciência, elas estarão lá te esperando pacientemente, que nem um boss de Megaman XD (uso esse exemplo como se eu fosse boa neste game rsrsrsrs).

Imagem de capa adaptada do meme conhecido na internet como “Noooooooo!!! My 2 genderinos”.


Como referenciar este conteúdo em formato ABNT (baseado na norma NBR 6023/2018):

SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. Rejeitar ≠ Ignorar. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da UnicampVolume 9. Ed. 1. 1º semestre de 2023. Campinas, 03 mar. 2023. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/zero/4887. Acesso em: <data-de-hoje>.

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