No início do Livro VII da República Sócrates anuncia que irá descrever a situação humana em relação à inteligência ou, melhor, à educação e à sua falta, por meio da articulação de um cenário imaginário que lhe é em todo semelhante. Com o auxílio da fantasia e a metáfora como recurso, Platão oferecerá ao leitor um diagnóstico empírico e uma lição filosófica, na forma de uma construção literária da mais fina elaboração. A Alegoria da Caverna, pois disso se trata, tem sido e será sempre lida e interpretada de infinitas maneiras. A nossa proposta hoje será encará-la desde o ponto de vista dramático, ensaiando uma reconstrução da passagem a partir dos cânones clássicos da composição, aos quais, por fortuna, a figura se adéqua perfeitamente. Além do prólogo, teremos a divisão em três atos, separados por dois nós da trama e que se rematam em uma resolução a modo de epílogo. Teremos, assim mesmo, clímax e anticlímax, e personagens com contornos nítidos e definidos.