Qual a importância do conhecimento científico? “Muita”, a maioria afirma sem pestanejar. Qual a importância de se divulgar, democratizar esse conhecimento? “Grande”, um coro numeroso, talvez um pouco menor, ressoa, instintivamente.

Como fazer isso? Agora, só alguns elementos isolados respondem, talvez tímidos no meio da multidão, talvez incertos pela complexidade da pergunta.

Nessa última semana, um pequeno grande passo pode ter sido dado na direção de deixar essa última pergunta um pouco mais desmistificada. Foi realizado na UNICAMP o primeiro curso de blogs científicos, com o objetivo de auxiliar na tarefa de divulgar ciência à comunidade. Foi-se o tempo em que a população era ignorante, desprovida de informação. Foi-se até mesmo o tempo de minha infância, em que recorríamos a enciclopédias para pesquisar temas em discussão na escola. Estamos hoje na democracia da internet. O desafio não é mais o acesso às coisas, mas sim o entendimento sobre coisas que, embora úteis, são vistas como eruditas. A ciência é uma delas.

No filme “Perdido em Marte”, lançado em outubro/2015 nos cinemas brasileiros, é narrado o drama de um astronauta americano que é – por engano – abandonado em Marte por sua tripulação, vinculada à NASA (agência espacial americana). Uma vez descoberta a falha, a NASA cogita abafar o caso e resolver por conta própria o problema. Essa ideia, depois de muita discussão, é posta de lado, e o problema foi divulgado oficialmente à população americana. A balbúrdia inicial é naturalmente substituída pelo desejo em ajudar, torcer, contribuir. Repórteres vão às ruas cobrir a missão de resgate em Marte. Pessoas vão às ruas com bandeiras americanas, torcendo e acompanhando. O clichê hollywoodiano presente nessas cenas não deve ser confundido com um fato sólido: a população estadunidense conhece sua ciência mais que a brasileira. A NASA divulga o que faz em linguagem inteligível, expõe seu racional para a população. Há vídeos divulgados no mundo inteiro sobre novas descobertas de planetas, novas documentações de cometas, filmagens da Terra vistas de diversas perspectivas. Essa cultura, infelizmente, ainda não está enraizada no Brasil, em nenhuma das principais áreas do conhecimento. Em parte pela herança do subdesenvolvimento, em parte por governantes incapazes de dar à ciência o digno crédito. Isso fatalmente repercute nos pesquisadores e agências de fomento, que não se veem inspirados ou necessitados de mostrarem o que fazem. Tudo o que importa são descobertas que levem à publicação de artigos científicos para a massagem no ego do pesquisador. O papel social do cientista fica esquecido.

NASA
Quartel-general da NASA retratado no filme “Perdido em Marte”: vibração e comunicação constante com a população estadunidense.

Numa tentativa de mudar um pouco esse paradigma, a ideia dos blogs científicos surgiu. A UNICAMP, à qual me orgulho em pertencer, é uma das vanguardistas. A população brasileira precisa saber o que seus pesquisadores andam fazendo, e qual a importância disso. Isso precisa ser divulgado e lido, e a ciência pode, talvez um dia, ser debatida com seriedade e possuir melhores perspectivas de defesa política. Os cerca de vinte pesquisadores incluídos neste projeto possuem familiaridade com o método científico, e também sede por inserir não-especialistas em um debate científico produtivo. Cada qual em sua área, com seu jeito de escrever, com sua lente de ver o mundo, as ideias vão sendo postas na tela. Alguns cliques levarão vocês a vários lugares e histórias diferentes. Mas com um objetivo único: levar a ciência para o engenheiro e também para a dona de casa que sempre gostou de estudar química no fundamental. Para o biólogo formado e também para o adolescente cujos olhos brilham ao imaginar uma carreira no mundo das ciências. Este espaço é para todos que quiserem. Espero que se divirtam!

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