Em 1968, o escritor italiano Pier Paolo Pasolini decidiu se retirar de um dos maiores prêmios literários da Itália (senão o maior) por não concordar com a forma como a produção literária vinha sendo tratada em seu país. Sua maior crítica estava relacionada à transformação do mercado editorial em mais uma engrenagem do complexo sistema de dominação da indústria cultural e do consumismo. Com essa atitude, o escritor mostrou estar disposto a colocar em prática uma reflexão que começava a ganhar consistência em seus escritos jornalísticos. Seu gesto de protesto reflete, por sua vez, o compromisso com suas reflexões críticas e não com um mercado editorial sedento por enjaular escritores em um sistema de produção comercial. Movido por seus “interesses culturais”, isto é, pela crença de que a verdadeira literatura só poder ser criada com total liberdade de pensamento, Pasolini se retirou de uma cadeia de produção que, infelizmente, está presente em nossa vida literária hoje mais do que nunca. Coerência de conduta: Pasolini foi um dos poucos em nossa história que teve coragem de viver sua vida com a mesma criticidade com que observava as mudanças sociais e políticas de sua época. E é por isso que seu texto abre a nova série sobre Literatura, Política e Resistência que se inicia hoje aqui no blog Marca Páginas. Porque precisamos protestar e defender, sempre, aquilo em que acreditamos, em todas os espaços da nossa existência. Boa leitura a todos!