Como os diferentes modos de ser mulher impactam o desenvolvimento moral dos indivíduos e coletividades que compõem a espécie humana? De que modo o cuidado de outros seres humanos, invariavelmente realizado por mulheres ao longo dos milênios, aparece nas elaborações teóricas sobre a moralidade?

Até a publicação de Uma voz diferente, originalmente publicado por Carol Gilligan em 1982 e traduzido para o português em 1990, essa questão não fora sequer colocada. As teorias tradicionais do desenvolvimento moral – cujo epítome contemporâneo são os trabalhos de Lawrence Kohlberg – tendiam a ignorar as vivências de mulheres, em especial as vivências relativas ao trabalho de cuidar dos outros, na caracterização das diferentes fases da moralidade que um ser humano experiencia.  Mais do que isso, tais abordagens implicavam a conclusão de que mulheres não são aptas a alcançar o estágio de pleno amadurecimento moral. Uma crítica feminista aos pressupostos metodológicos que autorizam esse tipo de conclusão está na origem da ética do cuidado, cujas principais ideias são apresentadas por Juliana Missagia no verbete sobre o tema.