É comum encontrá-los em todos os cantos, ouvindo seus coaxares, seja no quintal de casa ou na beira de riachos. Os anuros – sapos, rãs e pererecas – representam a mais diversa ordem de anfíbios da região amazônica, sendo mais de trezentas espécies catalogadas. Assim, a Amazônia Ocidental tem a mais rica fauna destes animais no mundo.
Observando isso, o estudo de doutorado realizado pelo pesquisador do Programa de Pós Graduação em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Igor Kaefer, teve como foco entender a evolução de algumas espécies de anfíbios muito pouco estudados na Amazônia brasileira.
Foram utilizados na pesquisa, além de características genéticas, que são comumente empregados em estudos evolutivos, marcadores morfológicos e comportamentais que, no caso, foram os acústicos. “A utilização desses marcadores acústicos serviu para entender como se deu a evolução relativa de cada característica”, explica Kaefer.
Cada sapo coaxa diferente
Uma das descobertas que atrai a atenção é a diferença na evolução do sistema acústico nesses anfíbios. A morfologia e o canto evoluem de uma forma não necessariamente igual àquela definida pelo DNA. Foram feitas análises dessas vocalizações para obter informações que permitissem separar grupos de sapos em unidades evolutivas.
O pesquisador explica que esses coaxares são como sotaques, e que eles servem como sinal sexual. A partir daí, tais sons são estudados para entender como a variação deles influenciam cada grupo de sapos.
Floresta a dentro
Os estudos foram realizados em áreas de várzea e terra firme nos estados do Amazonas e Pará. Por serem espécies recentemente descobertas, suas áreas de distribuição conhecidas eram restritas aos locais onde foram descritas. Umas das maiores dificuldade enfrentadas durante a pesquisa foi a obtenção de dados, tendo em vista a imensidão da floresta.
“Nós não visitamos áreas classicamente estudadas como sítios de pesquisas e reservas. Fomos atrás dos animais nos ambientes em que eles ocorrem, visitamos áreas de várzea e vilas ao longo das margens dos rios, muitas vezes sem a estrutura encontrada nas cidades”, relata o pesquisador.
O projeto durou quatro anos, e também envolveu estudantes de mestrado. Os trabalhos de campo foram realizados durante a estação chuvosa, o período reprodutivo das espécies estudadas.
Sapoteca
O Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Inpa (PPBIO/Inpa) oferece um catálogo apelidado de sapoteca, que disponibiliza diversos tipos de mídia (notas bibliográficas, gravações sonoras, fotografias, vídeos) sobre os sapos da Amazônia. Clicando aqui, é possível acessar uma amostra do que é a sapoteca, pelo fragmento de uma gravação de áudio e/ou vídeo de algumas espécies.