Este espaço é dedicado a inclusão de artigos científicos e livros ou capítulos de livros relevantes para a área do comportamento e bem-estar animal. Conforme eu acrescento conceitos, fatos históricos e discussões sobre o tema, alguns artigos fundamentais que servem de base ou mesmo exemplificam tópicos são acrescentados aqui.
LIVROS
COMPORTAMENTO ANIMAL
1) Excelente livro base para o estudo do comportamento animal. Apresenta todos os conceitos fundamentais do comportamento numa abordagem evolutiva, além de mostrar resultados de trabalhos científicos específicos que baseiam os argumentos levantados ao longo do livro.
– Alcock, J. 2013. Animal Behavior: An Evolutionary Approach. 10th edition. Sinauer Associates: Massachusetts (USA). 606 p.
2) Outro livro texto que pode servir como base para o estudo do comportamento animal. O diferencial deste livro é focar na metodologia e nas aplicações práticas do estudo do comportamento animal.
– Nordell, S.E. & Valone, T.J. 2014. Animal Behavior: Concepts, Methods, and Applications. Oxford University Press: New York (USA). 449 p.
3) Dicionário que inclui apenas conceitos relacionados ao comportamento e bem-estar animal. Muito prático para esclarecer conceitos de forma mais pontual. Além disso, vários conceitos mais complexos tem comentários adicionais significativos e interessantes do autor.
– McFarland, D. 2006. Dictionary of Animal Behaviour. Oxford University Press: New York (USA). 221 p.
4) Livro de Darwin que demonstra, brilhantemente, o quão semelhante é a expressão das emoções entre os seres humanos e animais não humanos. Esse livro representa um forte argumento a favor da senciência animal, já que as expressões podem ser entendidas como a linguagem das emoções. Aqui apresento a versão traduzida para o português em formato de edição de bolso.
– Darwin, C. 2009. A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais. Editora Schwarcz Ltda: São Paulo (Brasil). 343 p.
5) Excelente guia visual sobre a vida animal que inclui fotos espetaculares sobre o reino animal, a anatomia e, sobretudo, o comportamento animal. O texto que acompanha as figuras é sintético, objetivo, claro e aponta para as características mais significativas mostradas nas figuras. O principal diferencial deste guia visual é que a editora (Charlotte Uhlenbroek), além de ser zoóloga, psicóloga e doutora em Zoologia, também é apresentadora de documentários e programas de TV relacionados à vida animal. Ou seja, a Dra. Charlotte é especializada em expor a vida animal de forma atraente sem perder a fidedignidade do conteúdo abordado.
– Uhlenbroek, C. 2008. Animal Life: the definitive visual guide to animals and their behaviour. Editora Dorling Kindersley Limited: Londres (UK). 512 p.
BEM-ESTAR ANIMAL
1) Livro da renomada Dra. Marian Dawkins sobre o bem-estar animal que aborda a relação entre a consciência animal, o bem-estar animal e o bem-estar humano. O diferencial deste livro é que a Dra. Dawkins busca abordar o bem-estar animal considerando os próprios interesses humanos, ou seja, trata da nossa necessidade de repensarmos nossas atitudes em relação aos animais não humanos. Assim, o livro aborda o problema em relação ao antropomorfismo dos comportamentos e expressões dos animais, inclui uma discussão sobre a consideração do bem-estar animal sem necessariamente envolver a consciência animal, além de incluir um capítulo sobre os desejos dos animais. O foco da Dra. Dawkins é levantar a questão de que o bem-estar animal precisa de novos argumentos além daqueles mais antropomórficos e envolvendo a atribuição de experiências conscientes aos animais. O livro chama a atenção para o fato de que o bem-estar animal se beneficiaria muito de uma atitude mais aberta e crítica em relação à consciência animal e também considerando a relação entre o bem-estar animal e humano.
– Dawkins, M.S. 2012. Why animals matter. Oxford University Press: Nova Iorque (EUA). 209 p.
2) Excelente livro editado por pesquisadores reconhecidos, inclusive o Dr. Michael Appleby, que trata do bem-estar animal. Até onde sei, não temos uma versão traduzida para o português, mas esse livro está escrito numa linguagem didática e de fácil compreensão. É um livro usado por cientistas renomados para darem aulas sobre bem-estar nas universidades. Ele aborda as diversas facetas que envolvem o contexto do bem-estar animal. Um de seus capítulos trata apenas das respostas de preferência e motivação dos animais no contexto do bem-estar animal. Veja abaixo os capítulos desse livro:
– Introduction
– Part I: Issues
1: Animal ethics
2: Understanding animal welfare
– Part II: Problems
3: Environmental challenge and animal agency
4: Hunger and thirst
5: Pain
6: Fear and other negative emotions
7: Behavioural restriction
– Part III: Assessment
8: Health and disease
9: Behaviour
10: Physiology
11: Preference and motivation research
12: Practical strategies to assess (and improve) welfare
– Part IV: Solutions
13: Physical conditions
14: Social conditions
15: Human contact
16: Genetic selection
– Part V: Implementation
17: Economics
18: Incentives and enforcement
19: International issues
– Appleby, M.C.; Olsson, I.A.S.; Hughes, B.O. & Mench, J.A. Animal Welfare, 2a edição. CABI Publishing: Wallingford (UK). 344 p.
3) Mais um livro que aborda apenas o bem-estar animal em detalhes. É um livro também usado por docentes internacionais para darem aulas sobre bem-estar nas universidades, sendo de autoria de outro cientista renomado na área de comportamento e bem-estar animal, o Dr. David Fraser. Até onde sei, também não temos uma versão traduzida para o português, mas o livro é de fácil leitura. Também apresenta um capítulo inteiramente dedicado às questões relacionadas às respostas de preferência e motivação dos animais. Veja abaixo os capítulos desse livro:
Part I: Animal Welfare in Context.
– Introduction.
1. Animals and Moral Concern.
2. Animals in the Human Mind.
3. A Good Life for Animals.
4. A Science of Animal Welfare?.
Part II: Studying Animal Welfare.
– Introduction.
5. Disease, Injury and Production.
6. “Stress”.
7. Abnormal Behaviour.
8. Affective States.
9. “Natural” Living.
10. Preferences and Motivation.
Part III: Drawing Conclusions about Animal Welfare.
– Introduction.
11. How Do The Different Measures Relate To Each Other?.
12. Selecting and Combining Criteria of Animal Welfare.
13. Animal Welfare, Values and Mandated Science.
– Fraser, D. Understanding Animal Welfare: The Science in its Cultural Context. John Wiley and Sons Ltd: Chicester (UK). 336 p.
DOR EM ANIMAIS DOMÉSTICOS
1) Os 3 livros que estou indicando abaixo tratam sobre a questão da dor nos animais domésticos, sendo dois deles mais focados em cães e gatos (small animals), enquanto o outro é mais geral. Os três livros são voltados para a veterinária, sendo que dois deles focam em questões mais relacionadas ao manejo da dor, mas todos são livros importantes para aprofundamento sobre a questão da dor em animais domésticos. Assim, se você busca maior embasamento sobre a ocorrência e o manejo da dor em animais domésticos, especialmente em cães e gatos, recomendo a leitura desses livros que são, inclusive, indicados por profissionais renomados na área. Considerando a importância de levar em conta a ocorrência de dor para o bem-estar animal, sobretudo para poder identificá-la e tratá-la corretamente visando melhorar a qualidade de vida dos animais, a leitura desses livros pode nos ajudar nesse processo. Segue a referência dos livros:
– Fox, S.M. (2013). Pain Management in Small Animal Medicine. CRC Press. 416 pp. ISBN: 9781840761832.
– Gaynor, J.S. & Muir, W.W. (2015). Handbook of Veterinary Pain Management. Elsevier Inc. 620 pp. ISBN: 9780323089357.
– Fox, S.M. 2018. Chronic Pain in Small Animal Medicine. CRC Press. 256 pp. ISBN: 9781138118225.
DOR EM PEIXES
1) Livro lançado em 2010 pela Dra. Victoria Braithwaite sobre a questão da dor em peixes. É um livro bem completo, que resume os principais trabalhos científicos que demonstram a ocorrência de nociceptores, a condução do estímulo nocivo pelas fibras nervosas até regiões cefálicas, além de alterações comportamentais mais complexas associadas à exposição de peixes a estímulos nocivos. Nesse livro, a autora também mostra que os peixes provavelmente são capazes de diferentes níveis de consciência, o que reforça a ideia de que sentem a dor. Também expõe as razões pelas quais nós temos tanta dificuldade de aceitar que os peixes tenham consciência de sofrimento. Ainda não há uma versão traduzida para o português, mas a linguagem do texto é simples e fluída.
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Braithwaite, 2010. Do fish feel pain? Editora Oxford University Press: New York (USA). 194 p.
ARTIGOS/CAPÍTULOS
BEM-ESTAR ANIMAL
1) Excelente artigo que sumariza o histórico envolvido no contexto do bem-estar animal, mostra definições para o conceito de bem-estar, além de apresentar várias questões envolvidas nesse contexto. O foco é sobre o bem-estar em peixes, mas os conceitos e as idéias gerais são válidos para os animais em geral.
– Volpato, G.L. 2009. Challenges in assessing fish welfare. ILAR Journal, 50(4): 329-337.
Esse artigo pode ser acessado pelo Research Gate, através do link:
www.researchgate.net/publication/40042348_Challenges _in_Assessing_Fish_Welfare
2) Mais um artigo do Dr. Gilson Volpato e, aqui com outros colaboradores, que discorrem sobre os conceitos de bem-estar animal voltados para os peixes. Aqui os autores sugerem que, uma vez que a ciência tem se mostrado incapaz de provar a senciência em peixes e outros animais não humanos, por questões éticas devemos considerá-los como seres sencientes. Pois assim, evitaremos causar sofrimento desnecessário em seres que talvez possam sofrer conscientemente em situações aversivas e dolorosas. Os autores propõem uma definição para o bem-estar dos peixes (que podemos expandir para os demais animais): o bem-estar é representado pelo estado interno do peixe (ou um outro animal) quando ele está sob condições as quais escolheu livremente. Nesse artigo, os autores também recomendam o uso de testes de preferência para determinar condições de conforto aos peixes, expondo também as limitações de tais testes.
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Volpato, G.L.; Gonçalves-de-Freitas, E.; Fernandes-de-Castilho, M. 2007. Insights into the concept of fish welfare. Diseases of Aquatic Organisms, 75(2): 165-171.
Esse artigo pode ser acessado pelo Research Gate, através do link:
https://www.researchgate.net/publication/6259437_ Insights_into_the_concept_of_fish_welfare
3) Importante artigo da Dra. Marian Dawkins relacionado ao bem-estar animal, pois é neste trabalho que ela fortemente sugere que devemos voltar mais nossa atenção às vontades e necessidades dos animais buscando identificar o que os animais realmente querem através de testes de preferência. A autora discute sobre as dificuldades das considerações a cerca da senciência (nível mais basal de consciência) animal, pois evidências baseadas em estudos sobre a cognição dos animais bem como dados sobre suas emoções não representam evidência inequívoca da sensiência animal. Entretanto, a autora sugere que, apesar desses problemas, o estudo da senciência animal é muito importante e que, embora evidências sobre a senciência nos animais possam ser ilusórias, evidências sobre o que os animais querem através de testes de preferência podem nos ajudar a melhorar suas condições de bem-estar. É neste artigo que a Dra. Dawkins menciona uma frase muito impactante: ” There is a danger that wellmeaning people define animal welfare in terms of what they think animals want or what pleases them. But if we take animal sentience seriously, we must ensure that the animal voice is heard.”
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Dawkins, M.S. 2006. Through animal eyes: what behaviour tell us. Applied Animal Behavior Science, 100: 4-10.
4) Neste artigo, a Dra. Dawkins discute sobre o estudo científico do sofrimento em animais não humanos. A autora argumenta que, independente da verbalização de sentimentos sujetivos, uma característica unicamente humana, é possível estudar as emoções negativas tidas como sofrimento nos animais pelos mesmos métodos que usamos em nós mesmos. Ou seja, a autora propõe que avaliemos o que os animais desejam e o que eles evitam, o que deve nos permitir definir estados emocionais positivos e negativos dos animais. Assim, novamente a autora reforção a ideia de aplicarmos testes de preferência para determinar os desejos dos animais e também novamente argumenta que, felizmente, não é necessário solucionar o problema da consciência em animais não-humanos para que possamos construir um estudo científico do sofrimento e bem-estar animal. A Dra. Dawkins pontua que medidas para melhorar o bem-estar animal podem ser baseadas nas respostas para duas perguntas simples: Tais medidas vão melhorar a saúde do animal? Tais medidas vão disponibilizar aos animais algo que eles querem? Neste artigo a autora ainda afirma que tal abordagem deve ser usada para definir o bem-estar animal e validar indicadores fisiológicos e comportamentais de bem-estar, que muitas vezes podem ser controversos.
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Dawkins, M.S. 2008. The science of animal suffering. Ethology, 114: 937-945.
5) Neste artigo bem completo, escrito por vários especialistas renomados na área do bem-estar animal, incluindo a Dra. Temple Grandin, o Dr. David Fraser e o Dr. Ian Duncan, o foco foi expor e discutir sobre os 10 Princípios Gerais para o bem-estar dos animais em sistemas de produção da pecuária adotados em 2012 pela Organização Mundial para a Sáude Animal (World Organisation for Animal Health). Os princípios gerais são baseados em meio século de pesquisa científica relacionada ao bem-estar animal, e tem como principal objetivo guiar o desenvolvimento de padrões de bem-estar animal. Os 10 princípios envolvem: 1) como a seleção genética afeta a saúde, o comportamento e o temperamento dos animais; 2)Como o ambiente influencia no aparecimento de injúrias e na transmissão de doenças/parasitas; 3) Como o ambiente afeta o descanso, movimentação ou mesmo a performance de comportamentos naturais das espécies; 4) O manejo de grupos para minimizar a agressividade entre os animais e permitir contato social positivo; 5) Os efeitos da qualidade do ar, da temperatura e da umidade na saúde e conforto dos animais; 6) Como assegurar acesso ao alimento e à água conforme a necessidade natural dos animais; 7) Prevenir e controlar doenças e parasitas, considerando a eutanásia humanitária caso o tratamento não seja possível ou a recuperação seja improvável; 8) Prevenir e manejar adequadamente a dor; 9) Criar relacionamentos positivos na interação homem-animal; 10) Assegurar boa habilidade e conhecimento entre aqueles que manejam diretamente os animais.
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Fraser, D. et al. 2013. General Principles for the welfare of animals in production systems: The underlying science and its application. The Veterinary Journal, 198(1): 19-27.
6) Artigo de bem-estar do renomado Dr. Donald Broom, focado não apenas no bem-estar dos animais em si, mas também na questão da sustentabilidade e qualidade do alimento que chega até os consumidores. O autor aborda o aspecto de que um sistema que resulta em condições ruins de bem-estar é insustentável porque ele é inaceitável para muitas pessoas, sendo que a qualidade de produtos de origem animal é agora julgada em relação à ética de produção, incluindo o impacto no bem-estar dos animais, bem como características mais imediatas e nas consequências para os próprios consumidores. O autor também aborda a questão da seleção genética e o manejo para alta produtividade levando a mais doenças e outros aspectos de condições ruins de bem-estar, mas também levanta a questão de que a seleção genética pode ajudar a melhorar questões de bem-estar se for feita voltada para as características certas. O Dr. Broom também atenta para a necessidade de mantermos em mente uma clara definição de bem-estar que pode ser relacionada a outros conceitos tais como necessidades, saúde e estresse. É interessante observar aqui que a definição de bem-estar dele difere da definição da Dra. Marian Dawkins e que o Dr. Broom considera que estresse é basicamente sinônimo de condições ruins de bem-estar, o que eu particularmente discordo e já discuti com vocês aqui no blog. Por fim, ele salienta que nenhum título em veterinária deveria ser aceito sem um curso completo sobre a ciência do bem-estar animal e aspectos relevantes sobre ética e legislação, e que deveria haver um comitê nacional de aconselhamento em ciência de bem-estar animal em cada país. Vale a pena conferir os pontos abordados e discutidos este artigo.
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Broom, D.M. 2010. Animal welfare: an aspect of care, sustainability, and food quality required by the public. Journal of Veterinary Medical Education, 37: 83-88.
7) Este é mais um artigo da renomada Dra. Marian Dawkins. Aqui ela argumenta que embora grandes avanços sobre o entendimento do funcionamento do cérebro tenham sido conquistados nas últimas décadas, a demonstração de como funciona a consciência e qual é a relação dela com o cérebro ainda permanece como o que chamamos de “hard problem”. A autora pontua que fica ainda mais difícil estabelecer analogias entre seres humanos e os demais animais sobre a consciência dos eventos porque além de diferenças nos circuitos cerebrais, em humanos há múltiplas rotas para as mesmas ações, sendo que algumas envolvem experiências conscientes enquanto outras não. Com base nisso, neste artigo a Dra. Dawkins argumenta que o estudo da consciência e da ciência do bem-estar animal se beneficiariam se encarássemos essas dificuldades ao invés de ignorá-las. Nesse sentido, ela argumenta que a ciência do bem-estar animal não tem que ser baseada na premissa de quais espécies são ou não capazes de ter experiências conscientes. Ou seja, aqui a autora reforça sua ideia de que o bem-estar pode ser definido em termos da saúde e dos desejos dos animais, que seria uma definição livre da questão sobre a consciência animal, prática e de fácil compreensão pelas pessoas com diferente visão sobre os animais. Tal definição deve permitir que a ciência do bem-estar animal progrida sem a necessidade de resolver o “hard problem” sobre a consciência dos animais.
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Dawkins, M.S. 2017. Animal Welfare: with and without consciousness. Journal of Zoology, 301: 1-10.
8) Mais um artigo da Dra. Marian Dawkins sobre o bem-estar animal. O foco deste artigo é discutir a questão do conflito entre a eficiência na produção animal e o bem-estar animal. A autora argumenta que tais conflitos podem ser resolvidos, ou ao menos reduzidos, se nós mostrarmos os benefícios financeiros, tanto para os fazendeiros e criadores quanto para a sociedade em geral, causados pela melhora nas condições de bem-estar dos animais de produção. Tais benefícios devem incluir os lucros gerados a partir da mortalidade reduzida dos animais; da melhora na saúde dos animais; da melhora na qualidade do produto final; da melhora na resistência dos animais às doenças e a redução da medicação necessária; de um baixo risco de zoonoses e também à algumas outras doenças; além da satisfação no trabalho pelos fazendeiros e de sua habilidade de obter preços mais altos dos consumidores para animais criados em melhores condições de bem-estar. Além disso, a Dra. Dawkins argumenta que os conflitos atuais entre o bem-estar animal e a produção devem ser solucionados por futuros desenvolvimentos na genética, nas práticas de manejo e também a partir de novas tecnologias. Ela ainda ressalta que os benefícios financeiros devem reforçar e não substituir os argumentos éticos por boas condições de bem-estar para os animais.
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Dawkins, M.S. 2016. Animal welfare and efficient farming: is conflict inevitable? Animal Production Science, 57(2): 201-208.
9) Este artigo é também do prof. Gilson Volpato e colaboradores sobre o bem-estar animal. Os autores fazem uma breve retrospectiva histórica da questão do bem-estar animal, expõem uma clara diferenciação entre os termos “well-being” e “welfare” e abordam claramente as relações entre doença, saúde, estresse, distresse e o bem-estar animal. Além disso, os autores também abordam a problemática envolvida ao considerar características fisiológicas bem como a expressão de comportamentos naturais x estereotipias como indicadores de bem-estar animal, propondo que considerar as respostas comportamentais de preferência dos animais deve ser mais promissor.
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Volpato, G.L. et al. 2009. Animal Welfare: from concepts to reality. Oecologia Brasiliensis, 13(1): 5-15.
10) Sabemos que o bem-estar animal é um conceito que envolve inúmeras facetas. Embora seja um conceito atualmente muito discutido e considerado entre as pessoas, não é infrequente que a possibilidade de ocorrência de tédio nos animais seja deixada de lado. Mesmo no meio científico, a ocorrência de tédio nos animais tem sido pouco investigada. Na ausência de estímulos suficientes, principalmente, em meio a um ambiente altamente previsível, em que tudo acontece da mesma forma todos os dias, não é difícil imaginar que os animais sintam tédio… Assim, fica clara a importância de avaliarmos melhor a ocorrência de tédio e como isso afeta a vida dos animais. E é exatamente sobre essa faceta do bem-estar animal que trata o artigo recentemente publicado que está indicado abaixo.
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Meagher, R.K. 2019. Is boredom an animal welfare concern? Animal Welafre, 28: 21-32
11) O artigo referenciado abaixo trata de uma nova revisão sobre o debate entre os diferentes conceitos que definem o bem-estar animal. Esse trabalho nos lembra que quando as pessoas abordam e consideram o bem-estar animal, geralmente levam em conta o estado afetivo (emoções – saúde mental), o funcionamento biológico (saúde física) e a expressão de comportmentos tidos como naturais para a espécie em questão, mas que ainda não está claro como esses diferentes fatores são “pesados” em cada caso. E quando tais fatores são confitantes? Como as pessoas respondem a esses cenários? Qual é o melhor caminho nesses casos? Quais fatores as pessoas costumam “pesar” mais? Será que as pessoas entendem os conceitos múltiplos de bem-estar? O que podemos fazer daqui para frente para melhorar tal compreensão? Essas são perguntas abordadas por essa revisão.
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Weary, D.M. & Robbins, J.A. 2019. Understanding the multiple conceptions of animal welfare. Animal Welfare, 28: 33-40
12) Esse artigo nos fala um pouco sobre algo que também muitas vezes acaba sendo negligenciado quando falamos em bem-estar animal: a subjetividade humana. Caso os animais em questão sejam mamíferos e, mais ainda, sejam muito próximos de nós – tais como os pets, como é o caso específico abordado no trabalho – a tendência de envolver subjetividade no processo de avaliação e na forma de lidar com questões de bem-estar é maior… É preciso muito cuidado e, inclusive treino, se for o caso, para avaliar objetivamente e com acurácia as condições de bem-estar dos animais. O artigo argumenta que no caso dos pets, o viés criado pela subjetividade e, mais ainda, pelo antropomorfismo, é particularmente exagerado porque as pessoas tendem a formar fortes vínculos com esses animais. O artigo ainda argumenta que a seleção artificial humana por características morfológicas e comportamentais acentuadas e específicas nesses animais acaba gerando obstáculos que desafiam a avaliação mais objetiva da qualidade de vida dos pets.
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Serpell, J.A. 2019. How happy is your pet? The problem of subjectivity in the assessment of companion animal welfare. Animal Welfare, 28: 57-66
13) Esse artigo de 1994 apresenta a proposta dos famosos “cinco domínios” para o bem-estar animal. Esses domínios se subdividem em 4 componentes físicos: domínio 1 – Nutrição, domínio 2 – Ambiente, domínio 3 – Saúde, domínio 4 – Comportamento; e um componente mental: domínio 5 – Estados mentais. A proposta pontua que é o domínio 5, ou seja, o componente mental, que reflete o estado de bem-estar do animal. O domínio 1 compreende problemas de privação de alimento e de água, bem como subnutrição; o domínio 2 envolve os desafios ambientais impostos aos animais tais como frio, calor, falta de espaço adequado, etc; o domínio 3 abrange doenças, ferimentos e comprometimentos funcionais; o domínio 4 aborda restrições comportamentais e de interação com outras espécies ou com indivíduos da própria espécie. Já o domínio 5 engloba os estados mentais que refletem o que acontece nos outros domínios, tais como fome, sede, dor, medo, ansiedade, frustração etc. Assim, se um animal está privado de alimento (questão relacionada ao domínio 1), ele deve sentir fome (estado mental do domínio 5 que reflete o que o animal está de fato sentindo). Essa abordagem dos “cinco domínios” foi um marco histórico importante para o bem-estar animal
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Mellor, D.J. & Reid, CSW. Concepts of animal well-being and predicting the impact of procedures on experimental animals. In Improving the Well-Being of Animals in the Research Environment; Australian and New Zealand Council for the Care of Animals in Research and Teaching: Glen Osmond, Australia, 1994; pp. 3–18.
14) O renomado pesquisador David Mellor, um dos autores que havia proposto o modelo dos “cinco domínios” para avaliar questões de bem-estar animal, publicou este artigo em 2016 reformulando o modelo. Assim, 22 anos após a proposta dos “cinco domínios”, este trabalho veio expandir o modelo dos domínios para incorporam estados positivos, pois até então apenas os estados negativos eram considerados nos domínios. Essa nova proposta do próprio Dr. Mellor é uma consequência de uma visão mais moderna sobre o bem-estar animal, na qual a consideração dos estados positivos é tão importante quanto a consideração dos estados negativos para avaliar e melhorar a qualidade de vida dos animais. Como argumentos, neste artigo o Dr. Mellor aponta que não é possível eliminar completamente os estados negativos dos animais, mas apenas temporariamente; e também que eles são importante para a sobrevivência dos animais já que, por exemplo, um animal com fome (emoção negativa a partir da privação de comida) vai buscar alimento. Outro argumento levantado pelo pesquisador nesse artigo é que a simples remoção das emoções negativas não implica, necessariamente, em emoções positivas, as quais são importantes para o bem-estar.
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Mellor, D.J. & Beausoleil, N.J. 2015. Extending the ‘Five Domains’ model for animal welfare assessment to incorporate positive welfare states . Animal Welfare, 24: 241-253.
ESTEREOTIPIAS
1) Artigo que faz uma boa revisão sobre as abordagens científicas dos estudos de enriquecimento ambiental que buscam minimizar a ocorrências de estereotipias em animais de zoológicos. Esse autor salienta que há poucos estudos publicados que passaram pelo processo de peer-review, ou seja, muito do que foi feito para avaliar os efeitos da aplicação de diferentes enriquecimentos ambientais não passou por um crivo científico apropriado. Assim, muito ainda precisa ser feito na ciência do enriquecimento ambiental!
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Swaisgood, R.R. & Shepherdson, D.J. 2005. Scientific approaches to enrichment and stereotypies in zoo animals: what’s been done and where should we go next? Zoo Biology, 24: 499-518.
2) Este é um dos capítulos do livro da Dra. Georgia Mason cujo foco é o comportamento estereotipado dos animais cativos, no qual ela propõe, inclusive, uma nova definição para o termo estereotipia, que eu já mencionei aqui no blog. Assim como o artigo citado acima, nesse capítulo a ênfase é sobre os efeitos do enriquecimento ambiental sobre os comportamentos estereotipados dos animais de zoológico.
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Swaisgood, R.R. & Shepherdson, D.J. 2006. Environmental enrichment as a strategy for mitigating stereotypies in zoo animals: a literature review and meta-analysis. In G.J. Mason & J. Rushen (Eds.), Stereotypic animal behavior: fundamentals and applications to welfare (pp.255-284). Wallingford: CAB International.
3) Conforme eu mencionei aqui para vocês, há artigos mais antigos que contestaram as estereotipias como sinônimo de bem-estar animal. Entretanto, tais artigos também são contestáveis pois parecem se basear na ideia de que se um animal está se reproduzindo/produzindo bem então ele está em melhores condições de bem-estar. Ao usarmos essa inferência direta, estaremos assumindo que o bem-estar pode ser inferido com base puramente em medidas fisiológicas, o que não é adequado, conforme eu já argumentei para vocês aqui e aqui. Entretanto, esses artigos ainda nos fazem refletir sobre o que realmente a estereotipia indica em termos de bem-estar animal…
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Bildsøe, M.; Heller, K.E. & Jeppesen, L.L. 1991. Effects of immobility stress and food restriction on stereotypies in low and high stereotyping female ranch mink. Behavioral Processes, 29: 179–189.
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De Passilé, A.M.B.; Christopherson, R. & Rushen, J. 1993. Non-nutritive sucking by the calf and postprandial secretion of insulin, CCK and gastrin. Physiology & Behavior, 54: 1069-1073.
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
1) Artigo que faz uma excelente revisão sobre trabalhos de enriquecimentos ambientais que envolveram a estimulação sensorial para os animais cativos. O artigo foca em trabalhos sobre efeitos de estimulação visual, olfatória e auditiva. A principal conclusão é a de que muitos trabalhos tem mostrado a eficácia de tais enriquecimentos sensoriais em melhorar as condições dos animais cativos, embora isso deva depender de uma gama de fatores como espécie, gênero, idade e condições de cativeiro.
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Wells, D.L. 2009. Sensory stimulation as environmental enrichment for captive animals: A review. Applied Animal Behaviour Science, 118: 1-11.
2) Um artigo sobre enriquecimento ambiental do qual participo em co-autoria e que foi recentemente publicado. Nesse artigo demonstramos que pouca interação com o enriquecimento não significa que o comportamento dos animais foi pouco afetado. Ou seja, mesmo que um enriquecimento desencadeie pouca resposta de interação do animal, várias alterações comportamentais podem ser causadas, até mesmo tanto quanto se o animal tivesse interagido muito com o enriquecimento. Tal achado se torna muito importante se pensarmos que muitas pessoas que aplicam o enriquecimento desistem dele, achando que não funcionou, quando o animal não interagiu muito em resposta.
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Reimer, J.; Maia, C.M. & Santos, E.F. 2016. Environmental enrichments for a group of captive macaws: low interaction does not mean low behavioral changes. Journal of Applied Animal Welfare Science. DOI: 10.1080/10888705.2016.1175944
3) Zoológicos são espaços que recebem visitantes e, especialmente aos finais de semana, a quantidade de pessoas em torno dos recintos dos animais pode ser muito grande. Boa parte desse público inclui crianças, que podem correr, gritar e pular em frente aos recintos… Qual seria o impacto dos visitantes para os animais cativos? Eles funcionariam como uma forma de enriquecimento ambiental, gerando estímulos positivos para os animais, ou gerariam impactos negativos por colocarem os animais em situações incômodas as quais eles não podem controlar? Esse artigo é uma excelente revisão do Dr. Davey sobre o efeito dos visitantes sobre o comportamento de diversas espécies de animais cativos e salienta que ainda é preciso mais objetividade, amostras maiores, medidas de estresse, variáveis adequadas, padronização na metodologia, entre outros fatores. Ou seja, ainda temos um longo caminho pela frente para compreender exatamente o impacto causado pelos visitantes.
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Davey, G. 2007. Visitors’ effects on the welfare of animals in the zoo: A review. Journal of Applied Animal Welfare Science, 10: 169–183.
4) Artigo que publiquei na revista The Shape of Enrichment, um veículo de comunicação muito utilizado e conhecido por suas publicações de trabalhos de enriquecimento ambiental, que já comentei aqui. O principal problema dessa revista é que a avaliação crítica do artigo é focada apenas nas descrições dos autores das reações dos animais frente ao enriquecimento. Ou seja, essa revista acaba deixando de lado a necessidade de uma análise mais objetiva dos efeitos observados pelos autores, como por exemplo a análise estatística dos dados. Entretanto, por publicar diversos artigos sobre enriquecimento, pode ser uma fonte de ideias sobre diferentes técnicas e estratégias de enriquecimento. Nesse artigo que publiquei nessa revista, eu mostro o efeito de diferentes tipos de enriquecimento (alimentar, olfativo, interação com objeto novo…) sobre o comportamento de 3 onças-pardas (Puma concolor) mantidas em cativeiro numa ONG (Associação Mata Ciliar, unidade de Jundiaí – SP).
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Maia, C.M. 2010. Enrichment options for pumas: what are the effects? The Shape of Enrichment, 19: 4-5.
DOR EM PEIXES
1) Artigo onde a autora demonstra a ocorrência em peixes dos dois tipos de fibras nervosas associadas a dor em mamíferos (fibras A-delta e fibras C).
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Sneddon, L.U. 2002. Anatomical and electrophysiological analysis of the trigeminal nerve in a teleost fish, Oncorhynchus mykiss. Neuroscience Letters, 319(3): 167-171.
2) Artigo onde os autores identificam vários nociceptores (receptores de estímulos nocivos) em peixes, identificando alguns mais gerais e outros mais específicos e especializados, que respondem a estímulos dolorosos específicos. Também demonstraram aqui que quando esses receptores eram estimulados, dispararam sinais que foram enviados pela fibra nervosa até o cérebro.
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Sneddon, LU.; Braithwaite, V.A.; Gentle, M.J. 2003. Do fishes have nociceptors? Evidence for the evolution of a vertebrate sensory system. Proceedings of the Royal Society B-Biological Sciences, 270(1520): 1115-1121.
3) Neste artigo os autores demonstram as alterações comportamentais observadas quando os peixes são expostos a estímulos dolorosos. Mais ainda, aqui os autores indicam que os comportamentos alterados voltam para os níveis basais naturalmente expressos quando os peixes receberam morfina, um dos mais potentes analgésicos, em situações em que estão expostos a estímulos dolorosos. Dessa forma, este trabalho mostra que comportamentos mais complexos podem ser alterados por estímulos nocivos.
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Sneddon, LU.; Braithwaite, V.A.; Gentle, M.J. 2003. Novel object test: examining nociception and fear in the rainbow trout. The Journal of Pain, 4(8): 431-440.
BEM-ESTAR EM PEIXES
1) Esta é a indicação de um artigo onde os autores apresentam uma base de dados de acesso aberto (open access) em constante crescimento que traz diversas informações sobre comportamento e bem-estar de diversas espécies de peixes criados em fazendas de produção. Essa base visa trazer uma visão geral de todas as espécies de peixes cultivadas no mundo, apresentando diversas informações importantes para melhorar o bem-estar desses animais nas condições práticas em que são mantidos. Este artigo explica a racionalidade por trás dessa base de dados e já aponta uma visão geral sobre a situação atual das espécies de peixes de fazendas de produção com base nos dados já compilados pela equipe que mantém e atualiza essa base. Vale a pena conferir o artigo na íntegra.
PREFERÊNCIAS
1) Artigo onde os autores demonstram, por mais incrível que pareça, que microorganismos são capazes de realizar escolhas! É isso mesmo, neste artigo os autores avaliaram as preferências de amebas sociais pela seleção de outras amebas para formar agrupamentos em situações nas quais alguns indivíduos morrem para ajudar os outros. E sim, os autores mostraram que as amebas preferem agrupar-se com seus parentes nessas situações! Esse trabalho se mostra muito relevante, pois demonstra que até mesmo seres unicelulares, sem sistema nervoso, podem ser capazes de realizar algum tipo de escolha. Nesse sentido, imaginem então que tipos de escolhas os organismos multicelulares, com sistema nervoso bem desenvolvido, devem poder expressar!
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Mehdiabadi, N.J.; Jack, C.; Talley, T.; Strassmann, J. 2006. Social evolution: kin preference in a social microbe. Nature, 442(7105): 881-882.
2) Artigo que recentemente publiquei em conjunto com o Dr. Gilson Volpato. Nele propomos que há dois padrões de resposta com significados biológicos distintos para os animais quando consideramos as escolhas realizadas por eles: as preferências (escolhas consistentes ao longo do tempo) e as não preferências (escolhas apenas momentâneas, que não se mantém no tempo). Assim, propomos que as preferências devem melhorar as condições de bem-estar dos animais enquanto as não preferências devem ser evitadas. Também argumentamos que as respostas de preferência devem ser consideradas a nível individual, pois a variação de resposta entre os indivíduos pode ser bem alta, como nós vimos na tilápia-do-Nilo quando realizando escolhas por cores ambientais. No mesmo artigo, nós propomos a utilização de um método que desenvolvemos e que é baseado na história das escolhas ao longo do tempo para identificar as preferências e não-preferências dos animais. Tal método pondera as escolhas realizadas pelos animais, dando maior peso para aquelas mais recentes (que devem estar mais relacionadas ao que o animal quer no momento), mas sem desconsiderar o histórico de todas as respostas de escolha ao longo do tempo. Não deixem de conferir!
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Maia, C.M.; Volpato, G.L. 2016. A history-based method to estimate animal preference. Scientific Reports, 6:28328.
Esse artigo pode ser acessado pelo link: http://www.nature.com/articles/srep28328
3) Pequeno comentário crítico que publiquei há pouco tempo no qual eu comento sobre a abordagem dos testes de preferência e também os de motivação (ou testes de esforço) para detectar condições de conforto que devem melhorar as condições de bem-estar dos animais. Ambas as abordagens parecem promissoras, pois buscam determinar os desejos e vontades dos animais pelo próprio “ponto de vista” deles, como tem proposto a Dra Marian Dawkins. Entretanto, nesse artigo eu finalizo lembrando que ambos os testes precisam ser aplicados e interpretados com cautela por uma série de razões e que ainda temos um longo caminho pela frente. Por exemplo, tais testes tem sido concentrados em animais domesticados ou de laboratório, mas em zoológicos e outras instituições/situações em que os animais permanecem confinados e fora de seu ambiente natural, deve ser mais do que relevante também fornecer condições de preferência para melhorar o bem-estar desses animais.
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Maia, C.M. 2016. Detecting preference and motivation for environmental resources: an animal welfare approach. Animal Nutrition, 1(2): 1-3.
Esse artigo pode ser acessado pelo link: http://animalnutrition.imedpub.com/detecting-preference-and-motivation-for-environmental-resources-an-animal-welfare-approach.php?aid=8676
4) Um dos raros trabalhos em que os pesquisadores avaliaram as respostas de preferência de animais mantidos em zoológicos. Em geral, testes de preferência são conduzidos em animais de laboratório ou ainda em vida livre quando o foco não é exatamente melhorar as condições em cativeiro, mas responder alguma questão evolutiva ou comportamental ainda desconhecida para a espécie. Entretanto, testes de preferência realizados em animais de zoológicos ainda são raros. Em geral, nos zoológicos, quando as pessoas visam melhorar as condições dos animais cativos, elas fornecem itens de enriquecimento ambiental, mas raramente testam as respostas de escolha dos animais para tais itens. Neste artigo, os pesquisadores avaliaram se os orangotangos de um zoológico tinham alguma preferência relacionada ao posicionamento/direcionamento ou bloqueio visual quando sobre uma plataforma transparente que permitia aos visitantes observar os orangotangos.
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Bloomfield, R.C.; Gillespie, G.R.; Kerswell, K.J.; Butler, K.L. & Hemsworth, P.H. 2015. Effect of partial covering of the visitor viewing area window on positioning and orientation of zoo orangutans: a preference test. Zoo Biology, 34: 223-229.
5) Aqui os pesquisadores avaliaram as respostas de preferência de gatos domésticos por caixas de areia cobertas ou descobertas. Ou seja, também um estudo raro avaliando respostas de preferência em animais fora do laboratório visando melhorar suas condições de bem-estar. Para as pessoas que tem gatos em casa ou que cuidam deles em abrigos, deve ser relevante saber a preferência deles por caixas de areia abertas ou fechadas. Afinal, é comum para essas pessoas ter que optar entre esses dois tipos de caixas de areia em lojas de pets. Muitas pessoas acabam comprando o tipo de caixa que acham que seria a melhor opção para o seu gato, ou aquela que pensam exalar menos o odor ou ser mais fácil de limpar. Entretanto, o que será que os próprios gatos preferem? Nesse artigo, os autores mostram que a variabilidade individual de resposta entre os felinos é grande, de forma que apenas alguns gatos testados tiveram claras preferências por um dos 2 tipos de caixa. Vale a pena conferir!
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Grigg, E.K.; Pick, L. & Nibblet, B. 2012. Litter box preference in domestic cats: covered versus uncovered. Journal of Feline Medicine and Surgery, 15(4): 280–284.
MOTIVAÇÕES
1) Artigo da renomada Dra. Georgia Mason e colaboradores que mostra o quanto as martas, que são intensamente criadas em cativeiro em alguns países visando o comércio de peles, são motivadas e se esforçam fisicamente mais para acessar alguns recursos ambientais que permitiam a esses animais expressar comportamentos mais naturais. No mesmo trabalho, os autores demonstraram que os animais não apenas se esforçaram mais para acessar alguns recursos, mas também tiveram elevados níveis do hormônio cortisol no sangue, indicando altos níveis de estresse, quando foram privados dos recursos pelos quais mais se esforçaram. Dessa forma, os autores concluíram que os animais, quando privados de itens que são muito importantes para eles, ficam frustrados, o que desencadeia elevados níveis de estresse psicológico. Assim, esse trabalho demonstra a relevância dos testes de motivação em determinar itens que realmente são importantes para os animais.
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Mason, G.J.; Cooper, J.; Clarebrough, C. 2001. Frustrations of fur-farmed mink. Nature, 410: 35-36.
2) Em testes de motivação na literatura, os autores normalmente utilizam o alimento como um recurso pelo qual os animais estão mais motivados para acessar do que qualquer outro, já que o alimento representa uma necessidade básica de sobrevivência. Ou seja, o alimento é considerado como o recurso mais “inelástico”, ou seja, aquele que os animais aplicarão o mais alto grau de esforço para acessar. No artigo referenciado abaixo, que também envolve a Dra. Mason como um dos autores, eles demonstram que o alimento, quando fornecido em excesso no ambiente pode gerar até mesmo uma resposta de evitação dos animais pelo compartimento onde o alimento se encontra. Dessa forma, este artigo enfatiza a necessidade de tomarmos cuidado ao utilizar o alimento como recurso de comparação com outros, pensando tanto na forma quanto na quantidade em que vamos disponibilizá-lo.
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Hovland, A. L.; Mason, G.; Ahlstrom, O.; Bakken, M. 2007. Responses of farmed silver foxes (Vulpes vulpes) to excessive food availability: Implications for using food as a yardstick resource in motivation tests. Applied Animal Behaviour Science, 108: 170-178.
3) Na literatura, os testes de motivação em geral são aplicados em animais de produção e em roedores de laboratório. Aqui temos o primeiro trabalho em que os autores testaram a motivação de um peixe, a tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus), para acessar recursos ambientais. Assim, os autores adaptaram o mecanismo mais comum usado em testes de esforço – empurrar portas cujos pesos vão sendo gradativamente ou alternadamente aumentados ao longo dos testes – para os peixes. No caso da tilápia de Moçambique, esta possui a região anterior do corpo bem desenvolvida, com um focinho proeminente, o que facilitou que os peixes empurrassem as portas acrescidas de pesos para acessar diferentes recursos. Assim, esse trabalho foi o primeiro a demonstrar que os peixes também podem expressar diferentes esforços físicos, ou seja, diferentes motivações, para acessar diferentes recursos.
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Galhardo, L.; Almeida, O.; Oliveira, R. F. 2011. Measuring motivation in a cichlid fish: An adaptation of the push–door paradigm. Applied Animal Behaviour Science, 130: 60-70.
4) Em geral, trabalhos que testam as respostas de motivação dos animais avaliam o quanto eles estão dispostos a se esforçar para acessar recursos ambientais tais como alimento, parceiro ou algum outro recurso considerado relevante para a espécie. Entretanto, aqui a autora avaliou o quanto os cavalos estavam dispostos a se esforçar para acessar um ambiente onde teriam a oportunidade de expressar uma estereotipia conhecida como cribbing, na qual os cavalos mordem estruturas sólidas não comestíveis. Surpreendentemente, a autora demonstrou que os cavalos estavam tão motivados para expressarem a estereotipia quanto estavam para acessarem um tipo de alimento (grão adocicado), que é considerado o recurso pelo qual os animais devem estar mais motivados para acessar. Tal fato indica que a demanda para desempenhar tal estereotipia é alta em cavalos.
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Houpt, K. A. 2012. Motivation for cribbing by horses. Animal Welfare, 21: 1-7.
5) Este é o artigo referente aos dados apresentados nas figuras que acrescentei no blog aqui e aqui. Conforme expliquei nas legendas que acompanham as figuras, nesse trabalho – que compõe parte de minha tese de doutorado – demonstramos que a truta-arco-íris (Oncorhynchus mykiss) está mais motivada, ou seja, se esforça mais tanto fisicamente (maior número de batidas nas portas que bloqueavam o acesso) quanto psicologicamente (superam estímulo considerado como aversivo) para acessar itens anteriormente preferidos. Embora na literatura possamos encontrar diversos trabalhos que avaliaram as respostas de preferência dos animais bem como vários trabalhos que testaram as respostas de motivação (esforço) dos animais por diferentes recursos, este é o primeiro trabalho em que respostas de preferência claramente estabelecidas foram associadas às respostas de motivação dos animais por um mesmo recurso ambiental. Além disso, de meu conhecimento, este também é o primeiro trabalho em que o esforço foi avaliado a nível psicológico e não apenas físico.
Maia, C. M; Ferguson, B.; Volpato, G. L.; Braithwaite, V. A. 2017. Physical and psychological motivation tests of individual
preferences in rainbow trout. Journal of Zoology, DOI: 10.1111/jzo.124386) Este é o meu artigo mais recentemente publicado. Nele, o Dr. Gilson Volpato e eu demonstramos que o peixe tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) é mais motivado para acessar preferências individualmente estabelecidas que foram determinadas através da aplicação do Índice de Preferência, que recentemente desenvolvemos e publicamos na revista Sientific Reports (já citado nest post). Ou seja, nesse artigo nós mostramos que a tilápia se esforça fisicamente mais por apresentar um maior número de batidas nas portas que bloqueavam o acesso às suas preferências individuais. Assim, nesse artigo – que também compõem parte da minha tese de doutorado – nós damos suporte a aplicação do Índice de Preferência como uma ferramenta confiável para determinar as vontades dos animais, o que é importante para melhorar suas condições de bem-estar em situações de cativeiro e restrições ambientais. É o primeiro trabalho em que demonstramos a aplicabilidade do Índice de Preferência na mesma espécie em que ele foi desenvolvido, e o segundo em que validamos a aplicação do índice de Preferência (o primeiro é o que foi citado e indicado logo acima no item 5).
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Maia, C.M. & Volpato, G.L. 2017. Preference index supported by motivation tests in Nile tilapia. PLoS ONE, 12(4): e0175821.
Excelentes dicas para leitura, vou ver esse livro sobre metodologia para estudos sobre Comportamento Animal, obrigada por compartilhar seu conhecimento conosco!
Muito obrigada Danielle! Se você ou alguém mais quiser uma dica de livro ou artigo sobre algum tema de comportamento e bem-estar animal, terei o maior prazer em ajudar no que eu souber!