A empatia como ferramenta na luta pelo bem-estar animal

Este texto é de autoria de Patricia Tatemoto, que é bióloga e mestre em Aquicultura pela UNESP e doutora em Medicina Veterinária pela USP. Atualmente ela representa na América do Sul a ONG de proteção animal “The Donkey Sanctuary”.

 

No doutorado, estudei as consequências do ambiente pré-natal (enriquecimento ambiental) na organização do cérebro da prole de suínos. A pergunta norteadora focou em como isso influencia na emocionalidade dos animais e então, em seu bem-estar. No mestrado, também estudei o enriquecimento ambiental, mas especificamente como os estímulos influenciam nas respostas de medo em peixes isolados socialmente, mantidos no isolamento por diferentes intervalos de tempo. Basicamente, eu queria saber o que um peixe faz, quando não tem nada pra fazer. Na graduação, em um dos estágios, trabalhei com enriquecimento ambiental de primatas do novo mundo (macaco-aranha e macaco-prego). Os efeitos positivos dos estímulos ambientais na neuroplasticidade, e nos estados afetivos, sempre foram centrais na minha motivação pela ciência (me identifico com essas questões – acho que tenho um sistema dopaminérgico deficiente nas proteínas dos receptores, o que me torna facilmente entediada!

Assim, sempre estive envolvida na busca por melhor entendimento sobre questões que envolvem o bem-estar animal, procurando lutar cientificamente para que os animais cada vez mais sejam tratados com dignidade. Lutar para que os animais sejam incluídos como sujeitos de direito, não é utopia. No meu (limitado) entendimento, a disseminação da empatia não tem precedentes. Uma vez que aprendermos a respeitar indivíduos cientificamente considerados conscientes, que sequer usam a mesma linguagem que nós, o desrespeito aos oprimidos não será negociável. O exercício da compaixão pressupõe uma cascata inclusiva, jamais excludente. Lutar pela proteção dos animais não exclui preocupações com pobreza, educação precária, homofobia. As agendas se complementam e é reducionista acreditar no contrário. Finalmente, é importante dizer que hoje não falo mais como indivíduo. O que eu penso é considerado devido às instituições que me respaldam. Meus argumentos têm fundamento científico (além de ética e filosofia). Não busco apenas a proteção animal, luto pela constitucionalização da empatia. Desejo que os circuitos neurofisiológicos da empatia, que operam de forma Lamarckista de uso e desuso, em combinação com as evidências científicas, se tornem um arcabouço legalizado. Isso deverá refletir numa sociedade empática, um caminho sem volta.