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Conforme eu mencionei em Fatos Históricos, embora o interesse humano pelo estudo do comportamento animal seja praticamente intrínseco ao nosso processo de desenvolvimento evolutivo como espécie, o reconhecimento da Etologia como ciência é ainda recente… Tal fato tem influenciado na forma como as pessoas consideram e se interessam pelo comportamento e bem-estar animal. Por exemplo, eu me lembro que, quando estava na graduação, a disciplina sobre o Comportamento Animal tinha se tornado obrigatória para o curso de Biologia apenas alguns anos antes…Além disso, lembro que alguns alunos de outros cursos como Zootecnia ou Veterinária não tinham e, pasmem, ainda não tem tem uma disciplina obrigatória (e nem optativa!) que foque no ensino de fundamentos sobre o comportamento animal. Inclusive, lembro que em minha turma tinha uma aluna da Veterinária cursando a disciplina de Comportamento Animal como aluna especial, porque ela não tinha outra opção para cursar tal disciplina! Acho muito complicado que alunos de áreas que se relacionam tão diretamente com os animais como a Zootecnia e a Veterinária não tenham as bases da Evolução (nem mesmo a disciplina de Evolução lhes é oferecida!) e do Comportamento e Bem-estar animal, uma vez que tais bases são fundamentais para compreender o animal como espécie e como indivíduo dentro de sua própria espécie…
Não tenho dúvidas de que os fundamentos do Comportamento Animal (e, por consequência, da Evolução, que é intrinsecamente relacionada ao Comportamento) fazem falta aos profissionais que trabalham diretamente com os animais. Um exemplo clássico disso são os animais de zoológico. Quando um animal silvestre demonstra algum sinal claro de que não está bem, geralmente é porque se encontra numa situação muito ruim, como uma doença em estado avançado de desenvolvimento. Isso decorre do fato de que na natureza, animais mais fragilizados são os primeiros a serem predados. Dessa forma, a demonstração de que algo não está bem é um risco de vida muito grande em condições naturais. Portanto, em ambientes de cativeiro, se os profissionais que cuidam dos animais tiverem um bom treinamento na área de Comportamento e Bem-estar animal, poderão mais facilmente perceber pequenas variações comportamentais que podem indicar certas doenças ou condições ambientais que precisam ser alteradas para melhorar as condições de vida do animal.
Além disso, o fato da Etologia ser uma ciência mais recente, também influencia as pessoas leigas que cuidam de animais, de uma forma ou de outra. Por exemplo, quando ouvimos de alguém que possui pássaros engaiolados que se o animal está “cantando” é porque está bem. Se essa pessoa tivesse uma melhor noção sobre Comportamento e Bem-estar animal, perceberia a falha em seu raciocínio. Mesmo dentro da própria ciência ainda há muito pela frente. Em minha própria área, há cientistas que não acreditam, por exemplo, que peixes são capazes de sentir dor, mesmo já tendo sido demonstrado que, ao menos algumas espécies de peixes possuem os receptores necessários (nociceptores), processam a informação a nível cerebral e alteram comportamentos de alta ordem cognitiva quando em situações dolorosas… Assim, vemos que a Etologia é ainda uma ciência recente que não recebe a importância que deveria e que, portanto, ainda há muito trabalho pela frente…