Bem-estar x Mal-estar

Quando avaliamos o estado de um animal cativo, visamos identificar e melhorar suas condições de bem-estar. Para isso, utilizamos um pouco de tudo que já discutimos aqui no blog. Podemos usar alguns indicadores que, devidamente contextualizados e combinados, podem indicar como o animal se encontra, mesmo não sendo inequívocos. Além disso, para complementar essa abordagem, podemos buscar determinar as vontades dos animais por meio de testes de preferência e motivação para melhorar as condições do ambiente que cercam o animal, melhorando assim suas condições de bem-estar. Entretanto, como devemos definir as condições do animal? Se considerarmos que o animal está bem, dizemos que está em bem-estar, mas se o animal estiver mal, dizemos que ele está em mal-estar. Seria simples assim?

O Dr. Donald Broom tem proposto que há um contínuo em condições de bem-estar. Assim, de acordo com essa classificação, há estados de pobre bem-estar e de bom bem-estar, de forma que o estado interno dos animais se enquadra num contínuo de resposta entre extremos de um estado muito ruim e um estado muito bom de bem-estar. Por outro lado, se pensarmos no sentido da palavra bem-estar, parece implícito que para um animal estar em bem-estar, deve estar em condições muito boas e, qualquer situação ambiental que de alguma forma tire o animal dessa condição “ótima” já o colocaria em condições de mal-estar e não de bem-estar pobre. Seguindo essa ideia, teríamos apenas os extremos, ou seja, ou o animal estaria bem, em bem-estar, ou estaria mal, em mal-estar.

Entretanto, se pensarmos em bem-estar num contexto mais amplo, incluindo nós mesmos nessa definição, é muito difícil pensar numa condição em que não haja nenhuma adversidade ambiental com a qual devemos lidar e que, momentaneamente, nos tire de nosso perfeito estado de bem-estar. Por exemplo, é claro que uma situação estressora constante pode ser muito prejudicial ao nosso organismo e, por consequência, ao nosso bem-estar, mas um estresse momentâneo pode ser até mesmo estimulante para desempenharmos melhor alguma atividade (e também é por isso que estresse não deve ser sinônimo de mal-estar). O estresse ou situações de adversidade fazem parte do ambiente que nos cerca. Ou seja, não é porque o animal está lidando com alguma situação difícil que ele está numa situação constante de mal-estar. Assim, é claro que há um gradiente de resposta que envolve as condições internas dos animais e não apenas respostas mais extremas…

Se pensarmos em inglês, fica fácil assumir boas condições de bem-estar (good welfare conditions) ou condições pobres de bem-estar (poor welfare conditions) como termos adequados. Por outro lado, em português, realmente parece sem sentido e soar estranho quando falamos em bom bem-estar ou mau/pobre bem-estar. Além disso, se um animal estiver em mal-estar, tal condição também deve ser variada, ou seja, um animal pode estar em melhores ou piores condições internas ruins. Mas, independentemente das expressões utilizadas, é importante ficar claro que o estado interno do animal realmente deve ser um contínuo entre condições ruins e boas dependendo das condições ambientais que o cercam. Tal fato deve ser levado em consideração quando avaliamos as condições dos animais e priorizamos alguns para, primeiramente, melhorar seus estados de bem-estar.