Ir para conteúdo
Quando pensamos na importância do bem-estar animal e, portanto, de mostrar suas facetas e explicar seu conceito para aqueles que não compreendem bem o real significado da expressão “bem-estar animal”, é importante refletir sobre como abordar esse conceito para aquelas pessoas que não gostam muito de animais… Falar sobre isso com aqueles que têm afinidade com os animais é mais fácil, pois mais naturalmente vão aceitar a importância do bem-estar animal e de entender bem suas diversas facetas a fim de melhorar na prática as condições de vida dos animais. Entretanto, para aquelas pessoas que não têm afinidade com animais não vai adiantar muito falarmos na importância do bem-estar para os próprios animais. Será necessário mostrar como isso vai afetar a própria pessoa em questão. E aqui não nos cabe ficar julgando a pessoa por não gostar de animais e, muito menos, ficar insistindo em defender com unhas e dentes que devemos todos “amá-los” e por isso buscar dar as melhores condições possíveis a eles. Na verdade, se partirmos para esse lado, poderemos até mesmo piorar a situação caso o diálogo se trasforme numa discussão acalorada…
É claro que defender a ideia de que não é preciso amar para respeitar é válido nesses casos, mas mais do que isso, em situações assim é importante mostrar para a pessoa que as condições de bem-estar dos animais são importantes porque também afetam ela mesma… E como podemos fazer isso? Explicando que o estado dos animais de produção pode interferir diretamente na qualidade da carne, leite, ovos, etc. que ela consome. Mostrando que o estado dos animais de trabalho/treinamento como os cavalos e os muares (mulas e burros) pode afetar diretamente sua capacidade de desempenho e a relação homem-animal. Veja que animais de trabalho/treinamento são muitas vezes descartados por problemas de comportamento, o que também gera perdas econômicas. Nesses casos pode haver, inclusive, acidentes graves envolvendo seres humanos. Também podemos explicar que o estado dos animais de laboratório deve afetar as respostas desses animais nos experimentos, o que pode ser um problema enorme para os resultados e, consequentemente, para as conclusões dos trabalhos resultantes desses experimentos. Será que trabalhos frutos de experimentos com animais maltratados são confiáveis? E se as conclusões forem sobre algum remédio usado por seres humanos, por exemplo? Além disso, podemos também dizer que o estado dos animais de zoológico pode interferir em sua capacidade reprodutiva, o que pode afetar a conservação das espécies, e na forma como o público percebe esses animais. Será que a forma como o público percebe esses animais não é melhor quando o animal está em melhores condições? Já tem estudos mostrando que o público julga o estado dos animais de zoológico com base na percepção que tem deles a partir da visitação nos zoológicos. E claro, não podemos também deixar de mencionar que o estado dos nossos animais de companhia, tais como cães e gatos, deve afetar a forma como interagem conosco e que, além disso, obviamente animais abandonados e que estão na rua são um problema também para a saúde pública…
Nesse contexto, o foco da minha mensagem de hoje é: você que tem no mínimo afinidade pelos animais e que defende melhores condições de bem-estar para eles dentro das opções possíveis e disponíveis no contexto, procure não bater de frente quando estiver tentando convencer alguém que não tem essa afinidade sobre a importância das considerações de bem-estar animal. Além de defender a ideia de que todos merecem respeito, inclusive os animais, foque na ideia de demonstrar para essa pessoa como questões de bem-estar animal podem afetá-la, direta ou indiretamente. Nesse sentido, recomendo aqui a leitura do livro “Why animals matter” da Dra. Marian Dawkins, que já está citado e referenciado aqui no Blog no post sobre Artigos científicos e livros. Esse livro claramente aborda de forma didática e aprofundada especificamente nesse tema.